SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR!
Bom, esse é um conto velho que resolvi republicar... só pra dar sinal de vida :) espero que, quem ainda não teve oportunidade de ler, leia e goste.
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR! - Vinha o som distante de uma voz rouca.
O homem estremeceu, a estrada estava deserta, cercada por mato, escura, silenciosa... ele já não era tão corajoso que fizesse aquele caminho à noite sem ter medo de nada, mas dessa vez havia algo errado, um voz ao longe... ele até tentou ignorar, mas...
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR! - E a voz agora parecia mais próxima e mais ameaçadora.
Em outra pessoa esse fato escabroso talvez até tivesse despertado uma pontinha de curiosidade, mas não nele, era conhecido por sua covardia. Pensou em esconder-se.
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR!
Agora era tarde, o som da voz já virava a esquina, onde ele esconderia, para onde iria, e se fosse um amigo tentando assustá-lo?, “porque eles sempre fazem isso?”, passaria vergonha. “Não dessa vez!” sentiu que precisava enfrentar seu medo "ou meu nome não é..."
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR!
E o homem pulou na moita de capim alto e espesso, junto com sua coragem que durou apenas alguns segundos, escondeu-se atrás de um tronco seco de uns três metros de altura, tremendo, suando, coração disparado, a beira de um ataque.
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR!
De canto de olho ele viu... A figura mais fantasmagórica e horrível que um mortal poderia ter visto. O homem estava branco como um papel, um líquido quente escorreu por suas pernas...
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR!
Um velho em uma charrete puxada por um cavalo de fogo, flutuando a poucos centímetros do chão. O velho usava um chapéu preto e tinha duas brasas no lugar dos olhos, ele carregava um chicote em chamas, a charrete era feita e adornada com partes de cadáveres ainda em decomposição.
- SAI DA FRENTE QUE O CAPETA VAI PASSAR!
E passou. A voz já era quase inaudível, mas o homem ainda não era capaz de sentir as pernas nem de sair de seu refúgio, o medo era tamanho que ele não conseguia emitir som algum, quase não podia respirar. Então aconteceu... o tronco a sua frente começou a mexer-se, o homem estático observou, o monstruoso tronco seco caminhou devagar a passos largos e com uma voz ressonante falou:
- Agora podemos ir amigo, o pior já passou!
Obs. inspirado em um causo contado por meu avô.