SONHO OU REALIDADE?

Dias desses tive um sonho, que aos poucos foi transitando para um pesadelo, eu me encontrava em um trem, sentado junto à janela, ao meu lado um senhor, que também como eu olhava pela janela as paisagens que passavam, quando surgia uma estação ele se inclinava para meu lado para ler o nome da estação.

Por mais que me esforça-se, não lembrava ter embarcado naquele trem, após um tempo percebi que o trem não parara em nenhuma estação pelas quais passamos. Sou introvertido ao extremo, como o senhor não iniciara uma conversa, não seria eu a tomar essa iniciativa, fiquei na minha, e passa que passa estações pela janela e nada do trem parar. Comecei a ficar inquieto, estava em um trem, que não lembrava ter embarcado, e que não parava nas estações por qual passava.

Fiz um esforço sobre humano, para indagar ao senhor ao meu lado, a minha inquietação de estar naquele trem.

-Quando eu embarquei me sentia como você, o que precisa fazer é ler os nomes das estações, ao ler os nomes você saberá quando irá chegar ao seu destino.

A partir daí, a inquietação que eu sentia, transformou-se em medo, e deduzi de que aquilo não era real, que poderia ser um sonho, não sei por que, quando estou sonhando, muitas vezes, percebo que é um sonho, principalmente quando o sonho é algo prazeroso.

Ah, ia esquecendo-me de esclarecer, quando sonho de forma prazerosa e percebo que é um sonho, fatalmente acordo, não dá outra.

Já no caso do trem, isso não aconteceu, e passei a ler os nomes das estações. Virei o rosto para lhe agradecer a ajuda e para espanto meu, ele já não estava mais e o trem não havia parado em estação alguma, seu lugar agora estava ocupado por uma senhora bem idosa, voltei a olhar para a janela, o trem se aproximava de outra estação, e li seu nome:

Estação de Marina. Ora Marina era o nome da minha mãe já falecida, logo a seguir nova estação: Pedro Paulo, que era o nome do meu pai também já falecido.

A partir daí todas as estações tinham nomes de familiares meus já falecidos, Cheguei conclusão óbvia de que estava morto e que a qualquer momento o trem iria chegar a uma estação com o meu nome, e aí sim ele pararia pela primeira vez desde que eu embarcara, e não deu outra a estação com o meu nome apareceu na janela e o trem parou. : Estação de Carlos Alberto. Neste momento crucial, eu tinha consciência de que tudo aquilo era real, por mais esforços que fizesse para acordar, não dera resultado, eu continuava no trem. Agora só me restava descer do trem na minha estação, mas não achava aquilo correto, eu era novo ainda, 30 anos, deveria ter muito tempo ainda pela frente, não me lembrava de nenhum fato que pudesse ter ocasionado minha morte, mas lá estava eu para descer do trem na minha estação. Tomei uma decisão drástica, permaneci sentado, não desceria naquela estação por minha vontade, e aguardaria o desenrolar dos fatos, além de estar apavorado, também estava indignado, o máximo que poderia acontecer a seguir, seria que alguns seres celestiais com belas túnicas brancas e talvez com asas, irrompessem dentro do trem e me convencessem a descer.

A senhora idosa ao meu lado me cutucou.

-Desce meu filho.

Olhei para seu rosto, enrugado, a boca desdentada, mostrava ter mais de 90 anos.

-Para a senhora é fácil, teve uma vida plena em anos, eu não.

Como já disse, sou introvertido ao extremo, mas a indignação que eu sentia implodiu a minha introversão, fiquei de pé e gritei:

HAJA O QUE HOUVER, NÃO DESÇAM NAS SUAS ESTAÇÕES POR LIVRE VONTADE.

Sentei-me novamente, e cruzei os braços, como uma criança aborrecida e esperei.

A uns dez bancos a minha frente um garoto de uns 12 anos levantou-se e veio até mim.

-Moço, eu estou olhando os nomes das estações, e só conheci a da minha avó, os outros nomes não.

-Garoto volte para seu lugar e a hora que chegar à estação com seu nome, faça como eu não desça. O garoto deu um sorriso e voltou para seu lugar.

O trem continuava parado, olhei para minha estação, ela estava deserta sem movimento algum. Os passageiros do meu vagão aguardavam resignados, inclusive a idosa ao meu lado, e nada acontecia. Eu suava bastante, a minha cabeça começara a doer. Nada de seres celestiais aparecerem no trem. O tempo parecia parado, o silêncio no trem era assustador, e nada de eu acordar. Tudo ali era real. Tirei mais uma conclusão, já que eu me negara descer na minha estação, nada mais aconteceria, tudo ficaria como estava por toda eternidade, mas se fosse para ser assim, não tinha lógica alguma, os outros passageiros ainda permaneciam no trem, inclusive a velha que tudo indicava esperava chegar à sua estação e descer.

E então? E então? Vai acontecer um fato novo ou não? Estava sonhando ou não?

E nada aconteceu, tudo permaneceu inalterado, o trem parado e lá fora a estação com meu nome: Carlos Alberto. De quando em quando o garoto de 12 anos me olhava.

Naquele instante tive consciência de que havia sido criado um impasse na sequência dos fatos, precisava fazer algo, aí foi que me lembrei do senhor ao meu lado falando: - Quando eu embarquei me sentia como você.

Eu tinha certeza absoluta de não ter embarcado. Teria que pagar para ver.

Gritei: - TRUCO.

O trem chacoalhou seis vezes.

- DOZE.

Acordei, não estava na cama, e sim sentado no sofá da sala suando da cabeça aos pés.

Será que realmente tive um pesadelo? E o garoto seguiu o meu conselho, depois que o trem voltou a se movimentar?