Cemitério

Hoje à tarde, passei em frente ao cemitério da pequena cidade onde moro e algo me atraiu para dentro dele, nem sei como mas quando dei por mim, já estava andando pelos corredores por entre os túmulos.

Sinceramente não gosto muito de cemitérios. Não me sinto bem lá. Me dá uma angustia.

Saber que um dia estarei lá. Em um túmulo igual aqueles.

E era muito estranho. Era como se minhas pernas me levassem e eu não tivesse controle sobre meu corpo.

Mas ao contrário das vezes anteriores que estive lá, comecei a sentir uma calma, uma paz, algo realmente bom.

Comecei a andar pelos corredores observando os mausoléus, admirando as estátuas e as lápides.

Quando percebi, notei que algo estava estranho. O cemitério era o mesmo, mas o tempo era outro, como se eu tivesse voltado ao passado. Pude ver algumas pessoas circulando e suas roupas eram todas estranhas e antiquadas. Em que ano estaria? Tive medo de perguntar.

Continuei caminhando. O cemitério parecia bem maior do que o que eu conhecia.

Depois de um bom tempo, senti que era hora de sair e voltar para meus afazeres.

Me dirigi ao portão de saída, que me parecia ficar muito longe de onde eu estava, em um corredor ladeado por mausoléus bem antigos.

Percebi que uma moça vinha caminhando em minha direção. Quando ela se aproximou pude notar que era uma moça muito bonita, de cabelos longos em uma trança muito bem feita.

Ela segurava nas mão um maço de Flores brancas e vermelhas que eu não soube identificar que flores eram, mas eram muito belas e exalavam um aroma bom. Diferente.

Ela trazia no pescoço uma corrente dourada com uma borboleta.

Parou em minha frente e me olhou dentro de meus olhos.

Estremeci, de tal maneira que quase fui ao chão. Era como se ela penetrasse em minha alma.

Como se me conhecesse. Seus lábios demonstraram um sorriso discreto, mas seus olhos transbordavam de tristeza visível.

Ela tirou dias flores do maço, uma branca e outra branca e me ofereceu.

Aceitei. Agradeci e perguntei:

- Já nos conhecemos?

- Sim. Ela respondeu.

- De onde? Indaguei.

- De algum lugar no passado e num tempo muito distante.

Ela passou a mão pelo meu rosto. Sua pele era muito branca e fria.

Fiquei parado ali, enquanto ela seguia seu caminho.

Quando me virei para vê-la, não estava mais lá.

Simplesmente sumiu. Como um fantasma.

Imaginei que fosse minha imaginação me pregando uma peça, mas ao olhar para minhas mãos, levei um susto.

Eu ainda segurava as flores; branca e vermelha.

Senti um arrepio. Quem seria ela? Que teríamos sido no passado?

Me encontraria com ela em algum lugar do futuro?

Me apressei em sair do cemitério, pois imaginei ter ficado ali por várias horas a caminhar.

Enquanto caminhava para o portão, pude notar que o cemitério voltava a ser o mesmo que eu conhecia.

Voltei para meu trabalho e coloquei as flores em uma jarra com água.

Mas os acontecimentos iam e vinham de minha cabeça.

A imagem daquela moça bonita. Quem seria ela ?

Cheguei à conclusão de que eu nunca saberia.

No fim do expediente, peguei as flores e fui para casa.

No caminho de casa, sigo pensativo, quando percebo uma jovem vindo em direção contrária e nas mãos um maço de flores. Amarelas.

Ela vem se aproximando. Fiquei pasmo ao notar em seu pescoço uma corrente com uma borboleta. Ela olha para meus olhos e depois para minha flores.

Me dá um sorriso e me diz:

- Também prefiro vermelhas e brancas mas só encontrei amarelas hoje.

E sorri, um sorriso cheio de alegria.

Era ela. Continuou a caminhar. Não tive coragem de olhar para trás.

Sei que ela continuou caminhando, não desapareceu.

Ás vezes saio para a rua com flores vermelhas e brancas nas mãos na esperança de encontrá-la novamente.

Algum dia.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 02/04/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4220444
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