Loucura

Era o terceiro domingo que Ana Francisca não comparecia á igreja, as pessoas começaram a se preocupar. Em uma cidade pequena como Santiago, todo mundo se conhecia. A ausência de uma beata era sempre notada. O que terá acontecido? Estará Ana doente? Terá ela pego a loucura do falecido pai e também se matado? Perguntas como essas eram feitas, e como ninguém sabia responde-las, um grupo de senhoras decidiu ir ao sitio distante onde a beata morava. As mulheres iam inseguras, pois, histórias terríveis haviam sido contadas sobre o lugar desde que o velho Praxedes se suicidara com um tiro na boca, mas antes matara o filho mais velho, sem nenhum motivo aparente. Simplesmente decidiu mata-lo e depois se matou. Logo que atravessaram a porteira, por instinto as cinco senhoras passaram a andar mais unidas. Foram se aproximando e sentiram um horrível cheiro de coisa podre vindo da casa. Urubus estavam em cima do telhado e na varanda procurando um jeito de invadir a residência. As mais medrosas quiseram voltar dali, mas Georgina a mulher mais velha insistiu para averiguarem o sumiço da amiga e de onde provinha aquele forte odor de carniça. Todas as portas estavam trancadas, mas ao empurrarem a janela da cozinha perceberam que estava somente encostada. Georgina ajudou uma mulher magrinha a pular a entrar e essa, destrancou a porta. Os urubus fizeram um grande barulho e alguns entraram na casa. Mesmo Assustadas pelo revoar das aves as mulheres foram até o quarto principal. Deitada de bruços estava à beata Ana Francisca. A princípio julgaram-na morta, mas ao se aproximarem notaram que estava apenas adormecida profundamente. Um corte no supercilio e um arranhão no pescoço eram aparentemente os únicos ferimentos. As senhoras se entreolharam numa pergunta muda: “De onde estava vindo então aquele mau cheiro?” Curiosas foram olhar no outro quarto. A porta estava entreaberta e perceberam que havia uma pessoa caída no chão. Benzendo-se as beatas entraram e não sufocaram um grito de horror ao confirmarem que o corpo em avançado estado de decomposição era da mãe de Ana Francisca. A cabeça fora esmigalhada e um dos olhos saltara para fora. Os urubus já haviam começado seu festim. As cinco mulheres bastante apavoradas só queriam sair dali, mas ao passarem pelo quarto principal notaram que A beata Ana Francisca, não estava mais deitada sobre a cama. Começaram a chamar por ela, mas não houve resposta. De comum acordo as cinco correram para a porta da cozinha, mas essa fora fechada por fora. Tentaram porta da sala, mas sem êxito. Decidiram sair por uma das janelas, mas só nesse instante sentiram o cheiro de gasolina, e numa fração de segundos as labaredas se espalharam por todo o ambiente queimando- nas vivas. Da porteira do sitio com os olhos fixos na casa se incendiando, a beata Ana Francisca assistiu por algum tempo, depois se foi em direção á vila gargalhando loucamente.