a criatura da floresta

Há um lugar bem distante em minha memória, um lugar que imagino com muitos detalhes, lugar que nasce hoje do que ouvi há muito tempo. É uma descrição sem igual. Um relato verídico.

Eram mais de 10 da noite quando Nilson pegou sua bicicleta. Conseguiu finalmente a permissão dos pais da moça para namorar. Ele se arrumou com pressa, pois tinha que pedalar alguns quilômetros naquelas estradas de terra iluminadas apenas pela luz da lua que podia atravessar aquelas frondosas árvores. Ela sabia que ele não faltaria ao encontro marcado. Era uma festa caipira que com certeza seria inesquecível para eles.

Devagar ele subia e descia as elevações da terra com pressa. Após atravessar um cemitério para cortar caminho, ele percebeu um som estranho vindo da mata. Era como o piar de um pássaro. Mais ele conhecia todos os cantos das espécies locais, diurnas ou noturnas, e, portanto, sabia diferenciar o que estava ouvindo naquele momento. Tratava-se de uma coisa não humana, não animal. E isso não era surpresa para as pessoas daquelas comunidades isoladas, ele sabia o que fazer.

- por favor, me acompanhe em segurança até a comunidade que vou visitar.

Então ele seguiu caminho em segurança, pois sabia que seu pedido seria atendido. Algo até corriqueiro para quem se arriscava caminhar sozinho atravessando os caminhos estreitos daquelas matas. Ele ouvia apenas os tatalar das asas de algo grande e invisível acompanhando-o.

Chegou por fim, na comunidade de sua namorada, que ansiosa, já o esperava na porta de casa.

Então foram os dois, ele pedalando, e ela na garupa, pois a festa seria em outro vilarejo a alguns quilômetros dali. No meio do caminho a jovem e bela moça se sentiu desconfortável ao dizer a seu namorado que precisava ir ao banheiro, mas sua necessidade foi maior que a vergonha, afinal ela só demoraria poucos segundos mesmo. Então ela pediu para ele parar a bicicleta, e ele parou, a poucos metros da pior subida que a estrada tinha. Na verdade até os mais fortes eram obrigados a descer da bicicleta para vencer o aclive. Então ele esperou enquanto ela entrava na mata não muito longe. Até que de repente ela ouviu um som estranho, mais sobrenatural do que estavam acostumados; um som que nenhuma história dos antigos havia descrito. Eram fortes pisadas de algo que parecia ser um grande animal correndo desesperado na escuridão da mata fechada. O barulho ficava mais intenso a medida que se aproximava dela, quebrando pequenas árvores num horrível estouro. Na rápida dedução dos dois, aquilo parecia mesmo sobrenatural, não era como de cavalos ou qualquer outro ser cativo. Então ela se levantou do chão antes de acabar o que estava fazendo se urinando toda de desespero. Nilson chamou a moça, que tropeçou ao levantar desesperadamente apenas com a calcinha vestida. Ela levantou e correu sem olhar para trás em direção ao pálido Nilson que já montado na bicicleta, lutava para não ficar no mesmo estado ensopado da moça. Ela sentou no varão da bicicleta, pois não tinha coragem de ir à garupa, então ele subiu a ladeira não apenas montado e pedalando, mas também na maior velocidade que a ladeira já tinha visto até aquele momento. Acredita-se que ele não foi perseguido por que a criatura não teve força para subir atrás deles. Então ficou a lição para todos que pensam que não possuem força, ou acreditam que se todos não conseguem fazer uma coisa, não se deve tentar. Era o sentido que atribuiu aquele acontecimento estranho.

Tesla da escrita
Enviado por Tesla da escrita em 29/03/2013
Código do texto: T4213026
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