O Escolhido do Livro Negro da Luz e das Sombras- VII

A atmosfera psiquica em torno de sua residência era de negrume sofrível. As partículas que se desprendia diariamente de encarnados e desencarnados do bairro e da cidade, eram para ali atraidas, como um imã.

O ódio se desenvolvia entre os seus familiares. Ronaldinho traçava os seus objetivos - a ambição acima de qualquer sentimento nobre. Quando passava pelas ruas, de onde morava, era apontado assim:

- La vai o amaldiçoado, dizem que vive fazendo mandinga para atrair riquezas. O pai dele falou que faz rituais demoníacos em seu quarto, no porão da casa.

A outra vizinha retrucou:

- Virgem, Santa Maria Mãe de Deus. Vamos apressar o passo.

- Afastem-se de mim , velhas bruxas. Posso desejar que morram, então, morrerão.

As duas senhoras correram. Uma cena até cômica, pois, tropeçavam, caiam, e uma ajudava a outra a se erguer do solo.

" Estou cansado de suas presenças. Estou irritado, com ódio no coração."

Dizia, enquanto entrava em sua residência, voltando da escola. Naquela noite arquitetou a trama diabólica.

- Sim , eu posso ajudar. Somos tão presentes na vida do homem, e somos tão ausentes,pois, os olhos de matéria não podem nos ver.

Disse-lhe o seu guardião infernal.

Aguardou, com paciência a madrugada chegar. Pensava:

" onde começa a felicidade, e a infelicidade? E onde termina a felicidade? Isso me preocupa, haja visto, que se a felicidade finaliza-se,logo se inicia a infelicidade, já que nada entre os homens dura para sempre."

Uma chuva providencial banhava a cidade. Trovões e relâmpagos. Os seus pais dormiam - era uma noite para se dormir cedo debaixo de grossos cobertores. Os seus irmãos finalizaram os seus estudos e as navegações na intenet, e se recolheram.

- Posso fazer? Vai dar certo?

- Confie em mim.

Mesmo duvidando da palavra do seu fiel escudeiro do Inferno, levantou-se da cama. Subiu as escadas sem fazer ruídos. Foi á cozinha, ali procurou os instrumentos para a sua ação maléfica. Foi nos quartos e executou o seu plano macabro. Deixou no porão as peças do ritual armados: a estrela de Salomão. Pimenta da Costa. Cobriam as linhas da estrela. Velas negras acesas, em fogo baixo. Sangue seria jorrado no interior da estrela. Um crucifixo estava de cabeça para baixo, logo acima no teto. Plantas indicadas pelos seus guias espirituias estavam numa tina de madeira, ali se banharia para se tornar invisível e criar o seu duplo. Um boneco de VODU estava preparado. As agulhas grandes e de pontas afiadas estaria, em seguida banhadas no sangue do sacrifício.

- Esteja pronto quando der o Horário propício.

- Às 3:00 h da manhã.

- Isso.

Longe dali, alguém mais morreria. Ronaldinho começaria a sua vida no futebol. Assim acreditava após a conclusão do ritual.

A atmosfera da casa estava em excepcional negrume. Legiões de espiritos das trevas circundavam a residência. Alguns eram vampiros, daqueles que roubam o tônus vital que resta nos cadáveres frescos, um meio para que possam viver entre os homens, e possam se sentir mais vivo, e poder ter os prazeres que so os encarnados podem. Vadios das trevas, também, estavam ali. Os bons espíritos aguardavam o desfecho.

- Não podemos intervir? Não podemos fazer nada?

- Não poderemos socorrê-los, a vida é assim, os bons sempre perecem, quando o mal arma as suas garras. As vibrações ali reinantes os impediria de nos ouvir, mesmo em sonho. Os demais não são maus como ele, mas não possuem evolução o bastante para terem tido uma boa comunhão com a luz.

- Então...

Redarguiu o anjo de luz, de aparência mais jovem, com reticências.

-fait accompli.

Respondeu o mais velho. Estavam invisíveis aos olhos dos das trevas.

A chuva era torrencial. Uma noite escura. Uma tragédia se desenhava, enquanto a cidade dormia sob cobertores mornos.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 19/03/2013
Reeditado em 22/04/2013
Código do texto: T4197649
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