A FAZENDA DO ARREPIO III

Em meio a tantos sustos, Júlia temendo o pior pediu-me que voltássemos para a casa da fazenda eu compreendi sua aflição e pegando o Domini no colo retornamos. Confessei para minha namorada que na minha infância brincava sempre nas cavernas até ter a mesma visão que o Domini teve; Nunca contei a ninguém as visões que tive, por medo de ser considerado louco, em ver o que ninguém mais via.

Logo chegamos a casa grande, estávamos muito exaustos, fomos nos lavar para o almoço, mamãe preparava um assado delicioso, o aroma se espalhava pelo ar, o cheirinho levou-me a minha infância, dizem que o cheiro das coisas nos trazem lembranças vividas no passado. Cheguei a conclusão que é verdade.

Não comentamos nada com meus pais durante a refeição. Após o almoço fomos descansar, deitamos nas redes na varanda, e adormeci até o sol se por.

Ao acordar com os últimos raios de sol sumindo no horizonte, observei que a Júlia ainda dormia com seu irmão, estavam muito cansados da viagem e da noite mal dormida. Inquieto com os acontecimentos e revivendo as visões da infância decidi buscar uma resposta para tudo aquilo, e pegando uma lanterna potente do meu pai, caminhei na direção do porão. A casa era muito antiga, a cada passo que se dava as tábuas do assoalho gemiam, deviam estar muito velhas.

Caminhei até o porão, e pé ante pé, devagar evitando fazer barulho segui, abri a porta devagar, mas ela rangia de tão velha, ao pisar nos degraus de madeira via ratos, baratas e aranhas que conviviam na casa. Desci a escada lentamente e ao descer o último degrau avistei um enorme espelho, passando por ele não me via refletido, intrigado com aquilo segui em busca de respostas. De repente o som do piano me chamou a atenção, olhei subitamente e não vi ninguém tocando no velho piano encostado ao fundo do porão.

De repente ouvi um barulho, ao me virar vi um vulto de criança correr e se esconder, senti um calafrio, estava sentindo muito medo, mas fui atrás, e ao chegar ao local verifiquei que não havia ninguém, olhei pelo visor do porão e avistei aquele casal lá fora sentado no banco do jardim, enamorados enquanto o menino brincava de bola.

Comecei a me preocupar pois eu já os vi várias vezes, e nunca contei aos meus pais, o que seriam aquelas pessoas? Por que estavam na minha casa? Continuei vasculhando o baú até encontrar uma pista. Encontrei um álbum com fotos da minha família, elas estavam amareladas pelo tempo, como se tivessem mais de um século. olhei uma por uma, vi a foto do casamento dos meus pais, pelo menos pareciam eles, mas o estranho é que datavam de mais de um século. A minha foto velha também datava do século passado, mas como isso é possível? Não deve ser eu, pode ser um antepassado com o meu nome.

Fui procurar respostas e voltei mais confuso, ao chegar a sala de jantar, a mesa estava posta, não vi minha família, avistei aquele homem, mulher e a criança sentados, jantando em nossa mesa. Como isso é possível? Será que estou enlouquecendo? Passei por eles e não notaram minha presença, tentei um contato verbal, mas eles pareciam não me ouvir.

Saí dali chegando a sala de estar observei um enorme retrato da mulher em cima da lareira, como isso era possível? Por que não tinha visto aquela foto? Intrigado e confuso com essas ocorrências subi as escadas correndo, procurando minha família, fui ao quarto dos meus pais e eles não estavam presentes, observei que a decoração do quarto havia sido mudada, era um quarto de criança, um menino, pelas cores e brinquedos.

Saí dali e fui ao meu quarto, e para espanto meu, ele havia sido reformado, a decoração era de um quarto de casal, toda a minha mobília havia desaparecido, na parede a foto daquele casal que eu vi no outro dia na minha cama. Corri dali em desespero, quis gritar mais a voz não saia. Onde está minha família? E a Júlia e o Domini? Corri desesperado, bateram a porta desci correndo na esperança de ser minha família e ao abrir a porta deparei com uma idosa, que não disse nada apenas entrou chamando o nome de alguém.

De repente fui atraído pelo som do relógio na parede, que marcava meia noite, vendo que já era tarde e não encontrando ninguém subi para dormir, meus pais devem ter saído com Júlia e Domini, subi as escadas e entrei no meu quarto, por estranho que pareça, tudo estava em seu lugar novamente, deitei-me e adormeci. Ao mesmo instante via-me no grande jardim da casa, caminhei entre os canteiros até embaixo de uma grande árvore. Observei ali diversas tumbas.

Corri entre as tumbas, tentando descobrir a quem pertencia.

Continua...

Rivanda De Siqueira
Enviado por Rivanda De Siqueira em 19/03/2013
Reeditado em 19/03/2013
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