A FAZENDA DO ARREPIO II
Enquanto a ventania soprava lá fora, eu aqui dentro do quarto diante daquela cena. Aquele casal abraçadinho em minha cama, demonstrando um amor eterno; tive que vivenciar suas carícias e amor, se não fosse o medo que senti, diria que foi uma grande demonstração de amor. Em determinado momento observei que ele notou a minha presença, mas voltou as suas carícias, não se importando com o expectador. Eu diria que parecia uma cena de Romeu e Julieta. era de dar inveja a qualquer mortal, afinal o quarto era meu, se alguém estava sobrando não era eu. Ainda bem que Júlia e Domini, não estavam vendo aquilo.
O homem empurrou-me e caí da cama, ali permaneci inerte, quando acordei o sol já ia alto, levantei, olhei em volta e vi que estava sozinho, fiquei meio tonto, o que realmente aconteceu ali? Será que sonhei? Saí e fui procurar a Júlia e seu irmão, encontrei os as gargalhadas na cozinha com meus pais, meu pai contando os causos de sua infância na fazenda. Domini estava a mesa tomando seu desjejum, pensando por onde começar em suas peripécias. Precisei pensar melhor sobre os fatos em minha mente, o que estava acontecendo? Por que tinha plena convicção de que tudo foi real?
Ainda meio tonto sentei e mamãe serviu-me um delicioso pedaço de bolo de chocolate. Deliciei-me em meu desjejum, depois pensaria o que fazer sobre o ocorrido na noite anterior.
Após o café da manhã saímos para um passeio pela fazenda, Domini correu para o riacho e pulou de cima de uma pedra, mergulhando nas águas do rio. A água era clara que via-se os peixes nadando. O riacho estava realmente atrativo, não resistimos ao seu chamado e mergulhamos também. O que fez-me voltar a minha infância, as pescarias com meu pai e os mergulhos no rio com os colegas, e as corridas até o outro lado da margem.
Depois de cansados de tanto nadar, saímos do riacho e seguimos para as grutas e cavernas da fazenda. Domini sempre a frente, corria radiante, descobrindo um mundo novo, inexistente na cidade grande. Tudo era novidade para ele. Ele correu desembestado ladeira abaixo, entrando na primeira gruta, de onde saia um córrego que desembocava no rio. Fizemos um grande esforço para acompanhar o ritmo dele. Quando o alcançamos, entramos na gruta, Júlia estava fascinada com tamanha beleza, podia se ver lagos dentro dela.
Continuamos seguindo Domini, a medida que adentrávamos, a gruta ia se expandindo em uma grande caverna, quanto mais penetrávamos em seu interior, ia escurecendo, em determinado momento já se tornara um verdadeiro breu, e Júlia puxando-me pelo braço falou:
- Ferdinando vamos sair daqui? Está muito escuro, é melhor voltarmos.
- Só mais um pouco querida, quero te mostrar uma coisa, lá atrás onde costumava brincar com meu amigo imaginário.
Ferdinando sugeriu que dessem as mãos para não se perderem. Enquanto caminhavam na escuridão de mãos dadas e se apoiando nas paredes, de repente ouviu-se um barulho atrás deles, no susto Domini soltou as mãos e correu o mais que pode, no tato, batendo nas paredes. Júlia gritou:
- Domini! Espere por mim!
Só se ouvia a respiração ofegante de Domini e tentavamos seguir aquele som. Após algum tempo chegamos em um local da caverna onde um faixo de sol adentrava desde o alto, tornando possível enxergar o Domini caído ao chão, desmaiado. Tentamos reanimá-lo, e ao voltar os sentidos relatou da presença de um garoto, um homem e uma mulher, estes bem jovens.
Continua...