Telecinesia - DTRL

Nota: Telecinesia - Em parapsicologia e no espiritismo, movimentação aparente de um objeto, produzida por um médium ou parapsicólogo, sem ação mecânica. (Fonte – Dicionário Aurélio).

Erik havia acabado de completar 18 anos e estava prestes a ingressar no serviço militar, quando recebeu em sua residência a carta do exército, para saber em que quartel serviria a sua pátria, ficou até feliz, por saber que não seria muito longe de sua casa e que também não foi designado para um quartel que não tinha a reputação de ser “barra pesada”, principalmente com os novatos.

Alguns meses se passaram e na sua farda ganhou o nome de soldado Ramirez, visto que já existia um outro Erik em seu batalhão.

O mês de Junho aproximava-se e uma coisa inusitada ocorreu no Quartel e pelos boatos que rondavam os refeitórios, estava ocorrendo em todo o território brasileiro, um teste de cartas Zener estava sendo aplicado, o mais interessante era o fato de ser opcional (algo raro no exército). Erik candidatou-se para fazer o teste, que a principio era proposto apenas como uma experiência apoiada pelo serviço de inteligência das forças armadas, para medir o grau de possível percepção extra-sensorial.

Erik sempre foi estudioso, inteligente, em seu batalhão ele desempenhava serviços administrativos e na área de informática, ele não acreditava em astrologia ou mediunidade, era católico, muito reservado, porém ficou curioso com aquele incomum evento e resolveu participar.

Ele foi orientado a ficar relaxado durante o teste e tentar mentalizar qual símbolo havia em cada carta, ao qual ele só via a parte posterior das mesmas. Os outros demoravam mais para responder e quase sempre erroneamente, mas Erik respondia de bate-pronto e com incríveis 90% de acerto. Foi submetido a um rápido questionário em que falou de alguns acontecimentos de sua infância, relatando ao inquiridor que já havia tido sonhos premonitórios, mas que em sua visão, não continham nada de especial ou preocupante.

Dias depois seu capitão lhe entregou uma notificação, lhe designando para outro quartel e posto, agora passaria a ser tenente Ramirez, se deslocaria para o estado de Mato Grosso do Sul, na cidade de Campo Grande a se juntar a outros escolhidos e começar treinamento especial.

Outubro, soldados americanos faziam treinamentos na selva amazônica, para conhecer as condições de combate e técnicas de sobrevivência em meio à selva fechada. Neste mesmo mês um ataque furtivo, feito por soldados americanos de uma força especial, matou um integrante do alto escalão do governo venezuelano, remanescente do chavismo e muito influente.

O governo da Venezuela classificou o fato como “a infâmia do imperialismo” e acusou o Brasil de dar cobertura e apoio aos Estados Unidos, chegando ao ponto de chamar o Brasil de traidor da América, gerando alta tensão entre os dois governos, expulsão de diplomatas em ambos os países, ofensas mútuas e um ataque ao polo industrial de Manaus, como resposta de Caracas e consequentemente a um estado de guerra declarado pelo governo brasileiro.

Guerra em que Brasília teve o suporte de armas e equipamentos de Washington, dias sombrios em que a frágil e conturbada América do Sul estava novamente dividida e o mundo assistia a tudo pela CNN e BBC.

Um ano de conflito, mortes e destruição, os horrores da guerra chegavam até os ribeirinhos, deixando sua famílias mortas flutuando nos vastos rios, crianças e jovens queimados vivos nas vilas aos arredores de Caracas, uma cortesia americana provinda das velhas, contudo eficientes, bombas Napalm.

O conflito chegou até a metrópole venezuelana, ali seria cruel, a mais sangrenta das batalhas, mas até os generais brasileiros estavam perdendo o gosto pela peleja, visto que até os civis se armariam para a guerra, imensas perdas seriam contadas de ambos os lados. Um novo massacre a lá segunda guerra mundial era repudiado por todos.

Assim sendo o exército teve carta branca para abrir a caixa de pandora, seus soldados que estavam ainda em treinamento e desenvolvimento de suas habilidades paranormais e mediúnicas, foram convocados para liderarem uma missão para matar os líderes inimigos. Paladinos com faculdades mentais extraordinárias, alguns com ênfase em telepatia, outros em telecinesia, e alguns poucos com um sentido de premonição e percepção extra-sensorial elevados, esse era o caso de Erik, o qual iria liderar umas das equipes, porém sentia no seu intimo que não haveria vitória, pelo motivo que nem todos os soldados sabiam controlar esses poderes e nem estavam suficientes maduros para usa-los em beneficio próprio, seus limites e potencialidades ainda não estavam totalmente conhecidos.

Domingo pela manhã, um avião Hércules pousa em uma base avançada, já no território inimigo, trazendo muitos combatentes de farda negra. Agora eles seguiriam a pé até seu tenebroso destino, fazendo uso de seu treinamento militar e só depois, estando de frente com as hostes contrárias, usar suas habilidades especiais.

Erik caminhava cabisbaixo, pensativo, sobre o calor abafante. Ao seu lado estava Magno, amigo feito no confinamento em Campo Grande, o seu melhor amigo.

— O que foi Erik?

— Nada não, apenas pensativo... Você sabe que não ganharemos?

— Não, não sei viu... Mas nós vamos morrer pela pátria amada, disso não há dúvidas meu amigo.

Erik retomou o passo, logo chegariam a mais um posto avançado e lá descansariam até o cair da noite, partindo para o ataque posteriormente. A noite chegou e com ela sombras espreitavam-se entre ruas e vilas destroçadas, muito quieto, isso sempre é mau sinal, ao que veio se concretizar, pois a tropa foi cercado pelo exército venezuelano que atirou sem parar, os disparos vinham de todas as direções. Um tiro pegou no rim de Erik, ao qual arriou ao chão lamacento, olhou para o lado e lá estava caído seu amigo Magno. Viu também seus companheiros usarem seus poderes para descobrir onde estavam camuflados os inimigos, alguns inimigos eram derrubados de arvores e construções próximas pelos poderes telecinéticos. Erik ouviu em sua mente um companheiro lhe dizer “ atrás de você”, Erik virou-se com dificuldade e enxergou soldados atirando em direção da tropa.

Com sua M16 munida de mira holográfica, Erik disparou e derrubou 4 homens, a mesma voz o alertou para o perigo que se aproximava rápido, mais uma vez virou-se e deu de cara com outro soldado que investia feroz com a baioneta para cima de Erik, que mesmo ferido, foi rápido o bastante para esquivar e sacar uma 9mm, cravando duas balas no rosto do infeliz ao qual caiu em cima dele. Ao olhar para o rosto deformado e pingando sangue, teve uma visão e nela via magno sendo esmagado por um tanque, gritos de pessoas mortas na guerra inundaram seu subconsciente, fazendo seu corpo estremecer, quase não se lembrava da dor do tiro que havia sofrido. Olhou onde estava Magno, ainda deitado e inconsciente, um barulho alto surgiu, tanques entravam em cena e um deles em iminência de passar por cima do amigo de Erik.

Não daria tempo de socorrer, Erik mal conseguia se desvencilhar do corpo morto ainda em cima dele, neste momento de grande tensão emocional, fúria e medo se fundiram no ser de Erik, fazendo emergir mais uma nova virtude, esticou o braço na direção do amigo e com a mão bem aberta gritou:

— Magnooooo!!!

O corpo moribundo do amigo moveu-se espontaneamente para mais perto, o suficiente para sair do caminho do tanque, que sem demora vinha abrindo alas entre os soldados. Erik conseguiu chegar até Magno, que agonizante, proferiu algumas palavras para o amigo:

— Até mais... Irmão.

Erik inflamado com ímpeto de violência, usava sua percepção para mentalizar o inimigo e com a recém descoberta telecinesia, espremia os corações dos soldados, fazendo jorrar sangue pela boca e narinas, com isso ele derrubou 40 homens, e oque nasceu como uma ação de fúria instintiva, se tornou prazeroso pra Erik, não poupava ninguém que cruzava seu caminho de volta para a base, errantes tinham uma horrenda morte pelo poder do monstro que aquele bom soldado se transformou, braços e pernas arrancadas, pescoços virados, espinhas dorsais quebradas, estes eram alguns dos requintes do novo Erik.

Chegando a base avançada, Erik adentrou na barraca dos generais, onde todos estavam reunidos e mais dois representantes americanos, todos mirando o soldado que retornou só da missão, esperando dele um plausível relatório de explicação. Erik sujo, ferido, com sangue seco em eu rosto e braços, soltou um grito que ressonou estrondante pelo acampamento inteiro e antes de ser fuzilados pelos soldados que estavam nos arredores, Erik usou seu poder para imobilizar os presentes na barraca e decepa-los um a um com a força da mente, virou os corpos que ainda estremeciam-se e banhou-se no sangue que vertia abundantemente em seu rosto e corpo.

Erik foi queimado no meio do acampamento, o projeto dos soldados super-humanos foi abandonado, todavia a guerra sempre pode bater a nossa porta.