Deserto Mal Assombrado

  Estava ali, caminhando sozinho. Apenas carregava meu diário, um lápis e o peso de meu abandono, pisando naquela maldita areia que castigava meus pés.

  Minha camisa estava enrolada sobre minha cabeça, protegendo-me do sol escaldante. Minhas costas ardiam, o suor me banhava.

  Não sei o porquê daquele lindo lugar, que outrora era tão habitado se transformar num local tão ermo.

   Antes podia sentir que ouvia as vozes, podia ver aqueles que me vêem e me espreitam, acompanhando cada passo meu, nessa busca por esse oásis tão especial, essa ilha dos sonhos.

  Mas agora, agora são fantasmas, que chegam e me tocam, e quando me viro e os procuro, não os vejo mais.

  É como se zombassem de mim e o que me assusta e me deixa imerso em tamanha melancolia?

  É que percebo que não tenho certeza do que eles pensam a meu respeito. Isso às vezes definha a alma. Afinal aqui estou escrevendo em meu doce diário, assombrado pela insegurança, sem entender o porquê do silêncio incomodar tanto.

  Maldita solidão desse retiro que chamo coração. Maldita paixão por este fantasma que dispensa comentários, mas que me interprete então, como mensagem de todos aqueles que fazem como eu; escrevem, descrevem e sonham, realizam apenas através da ligação entre o que se lê e o que se cria, entre o que cria e o que lê.

  Quem vai me ler afinal nesse deserto, de mim só?

  Quem escreverá afinal nesse deserto de si só?

  O terror esta aí...  E está aqui... Abafado entre as letras que choram e sangram.

  Letras que se sentem ocas ao perceber que o que elas tocam não ás quer alcançar.

 Entre a linha tênue que me separa do que sou e do que penso ser, penso que sou só eu mesmo, eu mesmo tentando alcançar você.

 Enfim...

 O terror está dentro de mim, ele me amputa ás vezes, outrora arranca meu coração. Acredite, ja perdi a cabeça certo dia...

 Sorri, e também chorei, é... Já fui um obcecado, morri por esse sentimento, quiz até matar... mas nunca me senti tão só.
 
 
 
 
 E esse mesmo terror que habita em minh’alma, agora congelou minha percepção, me tornei deserto mal assombrado.

Sou culpado por minha própria maldição.

Fim!
 
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 28/02/2013
Código do texto: T4164632
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