A Volta do Vampiro - III

Um crocodilo com cerca de dez metros de comprimento se deslocava à margem do caminho principal. A proporção de sua cabeça assustaria o mais corajoso dos homens. O corpo, volumoso, de calda enorme. A boca seguia aberta exibindo o conjunto pontiagudos de grandes dentes. O seu olhar era vítreo. Apesar de grande e pesado, deslocava-se com desenvoltura, por entre a vegetação. A noite estava escura, contudo, podia se ver o pequeno grupo de seres bizarros, na aparência a acompanhá-lo. Uma figura disforme estava entre eles. Tinha braços longos, pernas curtas,bastante cabeludo no dorso. O rosto era horripilante. Grandes lábios, dentes proeminentes. Andar corcunda. Parecia nervoso, virava a cabeça para os lados na direção do breu da vegetação. Carregava numa das mãos uma clave com uma saliência pontiaguda na base frontal. Um par de olhos miúdos brilhava na escuridão à semelhança dos felinos. Mais quatro seguiam no grupo - de mesma aparência. Eram feios e pareciam violentos e pouco inteligentes.

Ao longe se fazia ouvir o latido dos cães da aldeia. Estes pareciam sentir o cheiro desagradável do grupo à distância. Nas mãos carregavam armas rudimentares. Lanças, facões e porretes de pedra.

A lua estava encoberta pelas nuvens. A região era formada pela campina, num míster de rochedos e árvores gigantes. O grupo seguia de forma apressada. Ao longe podia se ouvir as pequenas luzes que vazavam de algumas janelas dos casebres. O vento açoitava a copa das árvores, era uma brisa fria, que soprava mal presságios.

Korzus estava á frente. Os seus passos eram seguros, determinados. A todo momento, com gestos braçais, e com palavras ditas em baixo tom, parecia seguir o bisonho grupo de criaturas das trevas. Intercalavam o caminhar por entre a mata, o solo rochoso repleto de obstáculos e o caminho principal - parecia não querer sere visto, quando ficava exposto diante da luz da lua, quando esta era descoberta pelas grandes nuvens escuras, que anunciavam o princípio de uma tempestade violenta prestes a cair pela madrugada.

Um homem utiliza da sua inteligência para tirar conclusões, um animal do instinto. O amor e o respeito entre um homem e outro é diferente da obediência de um serviçal e do seu mestre. Korzus estava, naquele momento, utilizando-se do seu instinto-aquele que cheira com faro, e que tira conclusões que não têm como alicerce o poder da razão.

O crocodilo viera do quinto dos infernos para guardar o fosso que circundava o castelo,, uma fera plasmada dos pântanos escuros dos umbrais satânicos. Durante a sua longa existência, havia devorado centenas de invasores e de corpos das jovens que serviam de repasto ao mestre das sombras. Donzelas que o alimentavam com o seu tenro e jovial sangue.

O burgo era independente, a igreja fazia vistas grossas á existência do todo poderoso Senhor das Sombras , Dladdy, e aceitava os seus préstimos quando o assunto era adquirir riquezas, terras e ouro de nações menores, de exercito fraco. As bruxas tostavam para a fogueira. Reis e príncipes perdiam a cabeça. Em troca, a saga do vampiro permanecia sob o manto da noite e da corrupção da poderosa igreja. Os planos eram muito bem urdidos para explicarem o desaparecimento das jovens que o alimentavam com o seu sangue fresco. Por várias vezes, quando a notícia de desaparecimento de uma jovem soava por determinada aldeia, o arcebisbo comparecia nas aldeias. E dizia:

- Foi um chamado de Deus, e quando Deus se manifesta no coração de uma jovem, esta se desprende das coisas do mundo, e até mesmo da família. Trabalha no seu coração o desapego da amorosidade familiar, e escolhendo ser Noiva do Cristo, então, para não ferir a família numa despedida de dor, segue para um convento, onde ali, ficará em clausura.

A jovem está conosco. Não queremos alarde, pânico, ou que apontem para aquele castelo que pende sobre aquele penhasco e cometam a injustiça de acusar um homem bom, que colabora com a igreja com o seu exécito na nossa luta árdua contra os infiés de nações que não são católicas.

Então, todos se recolhiam em suas aldeias, e retornavam ao seu cotidiano. Dladdy jamais era visto durante o dia, é claro, a luz do sol poderia lhe ser fatal. Desmembraria as suas células numa velocidade excepcional, como se fosse ácido, fazendo-no virar pó, em questão de poucos segundos. A desestruturação molecaluar se dá pela eliminação da energia negra, que é um composto da luz da noite - esta temperada pelo sangue fresco metaboliza o fluído vital que o mantém vivo e eternamente jovem. O fluído vital é oriundo do fluído universal - que é o responsável na constituição de todas as coisas da natureza. Em volta de cada ser vivo existem os Sete Raios e os sub-raios - força motriz que os mantêm vivo. Tudo na vida é energia. Não se sabe ao certo, da orígem do vampirismo. Remota-se às eras mais longíquas da humanidade. Suspeita-se que o Senhor dos Infernos imitando a Deus, resolveu criar energias semelhantes, numa atitude de plágio e planejando criar seres eternos, criou a Energia Negra, o Fluído Escuro e os Sete Raios Sombrios. Estava esta narrativa num milenar livro encontrado numa caverna na Etiópia. O néctar da vida dos vampiros é o sangue, este é o elemento crucial para que a energia Negra se manifeste e dê vida aos vampiros. A ciência oculta dos magos dos faraós tinha tal relato, apontando o vampirsmo como o caminho para que a vida dos mesmos se perpetuasse por longos anos - por isso ficaram aguardando em seus túmulos em forma de pirâmide, com as suas riquezas.

Krozus se perguntava, enquanto seguia com a trupe maldita:

" Como guardam o nosso Mestre, onde o guardam e como podem estar protegendo daqueles que o querem tirá-lo do Mundo dos Mortos? A quem interessaria , e por quê o traíram, tirando-o do seu domínio?"

Como bom observador, havia notado que o convento recém-inaugurado, tinha muros além do normal, e uma guarda de proporções jamais vista.

Ali, seria o primeiro local que visitariam. Talvez, fosse uma noite repleta de dor e sangue dos inocentes jorrasse no chão de pedra, como outrora.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 26/02/2013
Reeditado em 27/02/2013
Código do texto: T4161465
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