Visitados Pelo Demônio

Era a quarta tentativa, mas ninguém compreendia o que aquele jovem dizia. Na verdade, a história era sempre a mesma, contudo ele contava-a em meio a delírios, com frases soltas. Eduardo era o nome dele. Parecia ser uma tortura ele ter que repetir sua experiência tantas vezes.

-O demônio estava naquela casa. –Ele dizia. –Eles oravam. Não funcionava, não. Ele era forte, muito forte. E o cachorro, coitadinho do cachorro! –Ele tremia enquanto falava.

-O que aconteceu com o cachorro? –Perguntou a doutora.

-Ele foi enforcado. A coleira, diminuiu, diminuiu, ficou minúscula, o pescoço, preso, ele morreu. Sem ar. Ele morreu. Morreu por obra de Satanás. –O garoto chorou.

Alguém bateu à porta.

-Pode entrar. –A doutora falou.

Era a tia de Eduardo. Trazia algo em suas mãos: uma fita.

-Doutora, aqui está gravação do que aconteceu na casa, as câmeras gravaram uma boa parte. É horrível.

A doutora saiu acompanhada pela tia do garoto, deixando o jovem sozinho com uma estagiária. Ao chegar à recepção, pôs a fita para rolar.

22 horas e 15 minutos.

A família brincava com jogos de azar na varanda. Um vento forte e frio carregou as cartas. Decidiram entrar na casa e fechar as janelas por causa da ventania.

-Droga de vento, acabou com a brincadeira da gente. –Elizabeth, a dona da casa e mãe de Eduardo, falou.

De repente, as taças começaram a explodir, os vidros das janelas também o fizeram, e em seguida, as luminárias.

-O que está acontecendo? Mãe, o que é isso? –Eduardo gritou desesperado.

Ninguém falou nada. Correram para a sala de estar. Procuraram velas. Só encontraram algumas de cor negra que haviam sobrado da última festa de Halloween. Tentaram acendê-las, mas o vento as apagava. Um barulho. As portas de entrada se abriram. E ele entrou. A família começou a orar.

Sua capa negra era enorme, uma fumaça com cheiro de enxofre saía de suas narinas. Seus olhos, puro fogo. Ele flutuava. Tudo aconteceu muito rápido. Como um raio, ele atingiu a anfitriã, que caiu desmaiada. Alguns segundos depois, ela se ergueu.

-Mãe, você está bem? –Eduardo perguntou de longe, com medo de se aproximar.

-Muito bem. –Ela respondeu, com uma voz rouca. Demoníaca.

O vento continuava forte. Batendo as janelas. Aquela senhora, tomada pelo demônio, olhou para as velas e elas se acenderam. Pegou um castiçal que estava em cima da mesa, retirou as velas que estavam sobre ele e correu em direção ao seu marido, fazendo o castiçal penetrar seu tórax, matando-o. Eduardo gritou. Pegou seu cachorro e saiu correndo da casa. Olhou para trás. Sua mãe jazia morta também. Continuou correndo.

Atravessou o pátio e quando estava bem próximo do portão, para alcançar a estrada e pedir ajuda, algo estranho aconteceu. O cachorro se contorceu nos braços do garoto. Eduardo o soltou. A coleira o apertava, ficando cada vez menor. Os olhos do cachorro se esbugalharam. O garoto não conseguiu ver aquilo e saiu correndo. Saindo do alcance das câmeras. Mas, o demônio gritou enraivecido:

-Não adianta você fugir, eu voltarei para te buscar. Sua alma me pertence.

A fita acabou.

A doutora olhou para a tia de Eduardo e, juntas, correram de volta para o quarto. Ao abrir a porta, ela viu algo voar pela janela, enquanto Eduardo e a estagiária da doutora estavam mortos com centenas de seringas por todo o corpo. Depois de uma semana, a doutora soube que a tia de Eduardo havia morrido misteriosamente. Ela gargalhou alto, depois se pôs a chorar. Havia enlouquecido.

Lianderson Ferreira
Enviado por Lianderson Ferreira em 24/02/2013
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T4157833
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