As Crônicas do mundo Negro -  Capítulo VII - Uma Nova bruxa

  O exército se aproximava cada vez mais. Enéas estava montado sobre Deino. Ao lado do general do exército de esqueletos havia um jovem que montava em um cavalo alado.

  Os cabelos eram longos e os traços de sua face lembravam os de um índio. Não era alto, mas carregava um machado em uma das mãos e um bumerangue nas costas. Seu olhar era imponente e ao mesmo tempo se mostrava um seu olhar vago, perdido em algum lugar.

  Atrás de Enéas estavam seus guerreiros esqueletos, enquanto detrás do rapaz havia uma legião de monstros; minotauros, dracaenaes, serpendragons, lobígres, crogolianos, macamônios, moraguidramõs, anfisbenas, entre outros.

 - Vamos pegá-los de surpresa, Hipono – Disse Enéas para o Jovem, mas ele não o ouviu.

 - Droga! Esqueci-me que o mestre os enfeitiçou para que não ouvissem a sirene. Se não fosse o mestre nós teríamos a caçado naquela floresta e lhe arrancado as pernas uma á uma! Mas ele á deu ouvidos e ordenou nossa retirada! Nós já morremos, ela não pode penetrar em nossa mente, mas uma ordem do Senhor das Feras não poderíamos desacatar. E agora, aquela bruxinha insolente vai ser do mestre... Pena ele não poder ver isso de perto
– Enéas sorria maliciosamente.

...

A Psinoe continuava ali sentada, enquanto Elisa estava banhada em suor.

 - Como você é tolinha menina! - Psinoe escarneceu dela. – Está tudo dentro de sua cabeça, ainda assim você consegue estar neste estado deplorável! – Luna levou o indicador e posicionou-o na altura da própria cabeça, encostou-o em sua testa e seus olhos se perderam em um negro profundo. Ela estava com a outra mão sobre a cabeça de Elisa. A jovem bruxa começou a soar ainda mais, delirando de febre.

 - Não Luc! Não faça isso irmão! – dizia em meio ao misto de choro e melancolia. Sua cabeça balançava negativamente e os olhos, ainda estavam fechados.

Ela lembrava-se de tudo...

 De repente dois raios se encontraram entre os dois... Dois feitiços muito poderosos lançados por ambos. Luc a distraiu usando os próprios pais como isca, numa terrível armadilha. Ela tentou defende-los e caiu, se vendo de repente transportada para outra dimensão, juntamente com os pais.

  Depois disso se lembrava apenas de acordar em sua cama, levantou-se e ao chegar á cozinha o pai e a mãe a aguardavam tomando o café da manhã. Ela não se lembrava mais de seu mundo, tampouco seus pais. Ambos carregavam as falsas lembranças de uma ilusão criada pelo Senhor das Feras.

...

  As Harpias atacavam sem piedade. Nescuro em sua forma de cão normal rosnou na direção delas, quando Claus o repreendeu e ele parou abruptamente.

 - Não amigão! Você precisa encontrar Elisa! Vá Nescuro! Ela deve precisar de ajuda! Vá logo, garoto! – Nescuro ainda o olhou de relance, latindo como se assentisse a ordem e correu na direção da floresta Negra.

  A Veloz tentou interceptá-lo e voou atrás dele. Claus correu e, de repente, se transformou em um grifo. Alçou vôo e com suas garras a confrontou no ar.

  Veloz se encheu de uma ira enorme e o atacou de volta. Ambos caíram rolando no chão. Os olhos da Harpia viram Nescuro se perder dentro da Floresta Negra. Ela se levantou e voltou-se para Claus, com as garras afiadas e obstinadas a derrotá-lo, estava pronta para atacar.

  Enquanto isso, Heitor era atacado por Aelo, que avançava com suas garras. Ele se defendia como podia, mas ela era implacável. Aelo investia contra Heitor como uma onda do mar, incontrolável e feroz. Ele se esquivava. As garras da criatura metade mulher metade águia rasgavam o ar como lâminas perigosas.
 
...
 
  Pen lutava contra a obscura Celeno que girava suas asas, as quais lhe davam muito mais mobilidade. Elas as usavam como arma. Suas garras na frente, ela girava atacando-a.

 A amazonas defendia-se como podia. Usava toda sua experiência em combate corpo a corpo, mas sabia que contra um monstro alado não seria uma boa tática. Precisava tomar o máximo de cuidado, afinal aquele era um dos seres mais terríveis, pois aliava força e velocidade, dois ingredientes explosivos na batalha.

...
 
  Á metros de distância de Pen e Heitor, o grifo andava sob suas patas em círculos, e movimentos vagarosos. A cabeça estava abaixo de seu corpo enquanto seus olhos analisavam a Veloz que, com seu olhar de predadora, preparava-se para mais um ataque.

 A harpia abriu as asas e avançou ao encontro do albino em forma de pássaro. Claus bateu suas asas e correu contra ela. Eles se posicionaram frente a frente e, antes de se chocarem, voaram baixo e atacaram-se usando de suas garras. Era como uma luta de espadas. As garras se encontrando no ar, uma tentando atingir a outra. As asas batiam e ambos subiam aos céus, os bicos abertos tentavam o tempo todo dar um golpe certeiro.
 
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 Heitor estava acuado. Aelo o atacava, mas ele revidava cada golpe com total precaução. Ela era ardilosa, Heitor sabia que teria que ser prudente e principalmente paciente para atacar na hora certa. Ela mostrou mais uma vez seus dentes podres, abrindo seu bico amarelo e atacando-o como um tsunami. As garras acertaram o ombro do elfo e o sangue jorrou, seguido de um grito de dor. A fera continuou atacando, e ele se defendendo. Um de seus braços agora estava colado ao corpo e sangrava muito, enquanto o outro empunhava a espada na tentativa de salvar sua vida.
 
...

 Pen continuava a procurar uma forma de deter Celeno, que mantinha seu olhar assassino. Ela atacava sem medo. As Harpias, como todo animal de caça, eram excelentes no ataque. Pen então descobriu o que fazer.
 
  ...
 
   A floresta negra era um lugar que causava medo: árvores secas, não havia folhas, o barulho do vento gélido era algo estranho, como um assobio da noite. Criaturas bisonhas vagavam por ali... Sombras sem corpos, corpos sem sombra, o mau reinava naquela floresta grotesca.

  As orelhas de Nescuro balançavam voltadas para trás, a língua para fora da boca, mas ele vencia o cansaço e seguia o faro de sua amiga...

  Nescuro sabia que não era de hora de lutar, e sim fugir. O animal era muito maior que ele e avançava a passadas largas. O cão podia ouvir o som das patas pesadas do animal... Os cascos batendo no chão. Nescuro corria o mais rápido que podia.

...
 
  A menina Elisa estava deitada no chão, tremendo e murmurando palavras sem sentido. Luna se encontrava de pé. Talmos olhava para ela temeroso.

  A Sirene deu uma ordem e ele saiu trotando. Ela fechou seus olhos, mentalizando algo, logo, deu uma gargalhada alta e o vento se propagou ao seu redor.
 
...
 
 
 Heitor ainda se defendia como podia de Aelo. Claus e Ocípite batalhavam no ar, mas a Veloz já havia o acertado duas vezes. Ele sentia suas patas arranhadas e sua pele queimando.

  Pen continuava a luta contra Celeno, esperando o momento certo para atacar. A Harpia Celeno acabou mordendo a isca e a atacou sem clemência. No momento que suas garras desceram ao encontro de Pen fazendo-a dar dois cortes secos no ar com suas adagas. O sangue jorrou e a Harpia se viu paralisada olhando para o nada, completamente incrédula.

  Os dedos e garras estavam caídos ao chão. Ela se virou para Pen que a olhava exausta, mas com um sorriso no canto da boca.

 - Mas... Como? – Ela indagou.

  Pen girou suas adagas em suas mãos com os braços abertos. Ela fechou os braços e suas adagas agiram como uma tesoura decepando a cabeça do monstro. Este caiu sem vida, sua pele incendiou-se abruptamente e ela transformou-se num amontoado de cinzas.

 - Ei vocês dois! Acabem logo com isso – Pen gritou – quando elas atacam baixam a guarda, e expõem suas fraquezas. Ataquem as garras ao invés de se defenderem! – instruiu.

 Ambos ouviram o recado. As duas Harpias restantes atacavam loucamente. A Harpia Aelo investia contra Heitor. O braço do elfo parecia estar queimando.

  Foi quando ela o atacou com suas garras e ele decepou-as com sua espada. A Harpia, mesmo sem as garras, bateu no corpo de Heitor, fazendo-o cair. Ela o impediu de atacar colocando uma de suas patas sobre a mão que segurava a espada. As garras de seus pés estavam prontas para cravar em seu pescoço. Heitor olhava para ela. Aquela cara de águia misturada com a fisionomia de uma mulher velha a deixava com uma fisionomia horrenda. O sangue de suas garras pingando. Heitor estava pronto para morrer, quando a pele do peito da criatura foi rasgada pela ponta da flecha. O sangue brotou e escorreu pela barriga, a pele incendiou-se. Ele ainda sentiu o cheiro das penas queimando e de repente uma montoeira de cinzas caiu sobre ele.

 Claus guerrilhava contra Ocípite. Eles voavam e suas asas se chocavam no ar, as garras ardendo em dor. Ocípite o atacava repetidas vezes numa velocidade incrível, gritando e mostrando seus dentes. O grifo se defendia, mas cada vez que se defendia as garras da Harpia o cortavam como navalhas.

   A cada corte um grito de dor. Ele não tinha como contra atacar... As garras estavam completamente debilitadas. A Harpia continuou o atacando impiedosamente. Ele viu a ira dentro dos olhos daquele animal maldito e naquele momento ele a atacou, abrindo seu bico grande, curvo e afiado na direção do pescoço da Harpia, que cravou suas garras nas asas de Claus.

  O golpe dele foi mortal, a última Harpia restante tombou seu pescoço ensangüentado, e caiu sem vida, as garras o puxando para baixo junto com ela. Ele lutava para se desvencilhar, mas elas estavam presas e rasgavam a pele do grifo.

 As asas feridas batiam num ritmo frenético, os dois corpos giravam no ar. Seus olhos de águia visualizando a queda e esperando a morte.

...

  Nescuro sentiu que a criatura se aproximava, fazendo-o correr ainda mais enquanto um punhado de flechas começaram a cair próximas a ele.

Nescuro esquivava, corria em ziguezagues sempre se protegendo na linha das árvores. O Rotweiller sentia que cada vez mais se aproximava de Elisa. Ele continuou a correr. A escuridão da floresta não o assustava. Foi então que ouviu um estranho barulho como se uma manada de elefantes marchasse ao encontro dele.

...

  Enéas montado sobre Deino permanecia ao lado do jovem com traços indígenas. Eles marchavam rumo ao pântano atrás da menina Elisa, prontos para destruir quem atravessasse seu caminho. Algo então deu um salto em sua direção, batendo seu corpo cheio de pêlos nele, fazendo-o cair de Deino e se estabanar pelo chão.

  Mesmo caído, ele olhou na direção da criatura que continuava correndo como se nada tivesse acontecido, e o reconheceu.
 
 - Aquele Maldito! Peg... – ele ia dizendo quando uma flecha atravessou seu crânio. O jovem ao seu lado olhou na direção onde a flecha tinha partido, e viu o ser empunhando um arco e flecha. Ele encarou-o e, enquanto Enéas usava sua mão para arrancar bisonhamente a flecha de seus ossos que se reconstituíam, ele bradava enquanto a flecha era arrancada.

  Ergueu-se, levou as mãos até o maxilar completamente fora do lugar, deu um tranco. Os ossos estalaram e se ajeitaram. O general enxergou a figura mais á frente.

 - O que faz aqui Nesso? – Perguntou o jovem.

 - Caçando! – Respondeu a criatura vendo a imensidão de monstros á sua frente.

 - Não posso te ouvir! Droga de feitiço! Se estiver apenas caçando acene positivamente com a cabeça! E seja rápido – O centauro então acenou com a cabeça abaixando seu arco.

 - Maldito – Disse Enéas – Você quer me matar? Você me atrapalhou a pegar aquele maldito cão – Disse Enéas que já não avistava mais Nescuro. Enéas sacou a espada e o jovem olhou na direção dele e balançou negativamente a cabeça.
 
 - Ta bom! Certo Hipono. Temos mais o que fazer! Prioridades – Enéas subiu no cavalo carnívoro que parecia sedento por sangue e deu ordem ao exército para continuar.  Eles deixaram a criatura (metade inferior cavalo e metade superior homem) ali parado em meio a névoa negra da floresta, e continuaram a marcha em direção ao pântano.
 
...
 
  Claus caía, sua velocidade cada vez mais aumentando, tentava se soltar, enquanto a dor o consumia.

  Pen e Heitor não pareciam poder fazer nada. Claus bateu as asas feridas o mais forte que conseguiu e sentiu as garras cortarem ainda mais, se soltando de sua pele. Ele estava cerca de dez metros do chão. O corpo da Harpia de repente incendiou-se e ele voou completamente desequilibrado.

  As penas de suas asas ficaram em chamas. Num pouso forçado caiu girando no chão. Pen e Heitor correram ao seu encontro.

 - Malditas – Disse Pen com o cajado de Asclépio na mão. Ela encostou o cajado sobre as feridas de Heitor e Claus, que se restabeleceram. Claus, na sua forma de humano, levantou-se e olhou na direção da Floresta Negra.

 - Está chegando a hora! Estão prontos? – Heitor ainda batia a poeira das cinzas da Harpia.

 - Vamos logo! Nos da um carona? – Perguntou Heitor.

  Claus olhou para ele. Os olhos de Claus de repente mudaram para olhos de uma águia e ele se transformou em grifo, abaixou-se e olhou mais amistosamente para Pen que pela primeira vez sorriu, mesmo sendo um sorriso acanhado. Logo estavam os três no ar.

 As asas do grifo batiam apressadas enquanto eles entravam na Floresta Negra, levando o cajado de Asclépio.

...

 - Minha pequena! Você deve se sentir tão só. Este espelho é sua casa agora, seu lar. Diga-me Sofia. Onde estão seus heróis. As Harpias os detiveram? – A fada o olhava com um sorriso.

 - As Harpias estão mortas Luc! Todas mortas! – revelou.

 - Maldição – Disse ele, vendo a imagem de Heitor, Pen e Claus voando em direção ao pântano – Então Pen acha mesmo que conseguirá o que quer? Guerreiras idiotas. Por trás de todo aquele casco duro existe um coração mole... Mas não vão durar muito tempo, logo meu exército exterminará a todos!

...

  Nescuro parou abruptamente, vendo a menina Elisa deitada ao chão. Luna estava de pé com um olhar imponente. O animal preparou-se para atacá-la em forma de cão, saindo correndo e pulando na direção dela.

De costas para ele, Luna apenas sorria...

...

  - Bando de idiotas! – Nesso dizia enquanto ouvia uma voz em seu cérebro ordenando-o a se juntar aos outros. Eles vão ser pegos de surpresa. Ele então trotou em disparada para o ponto de encontro. A Armadilha estava armada.

...

  Claus não conseguia ver nada de onde estavam. A névoa estava densa demais. Ele fez sinal com sua cabeça para que Heitor e Pen se segurassem firme, para que pudessem descer. Ao chegar ao chão, ele se assustou com o que viu, mas era tarde demais.

Eles estavam cercados.

 - Ogros? – Disse Pen soltando um suspiro, vendo as figuras de duas cabeças ao seu redor.

  Deviam ter em torno de quinze ogros. Os dentes eram afiados; duas cabeças ficavam acima dos ombros; pescoços maiores que o normal; olhos vermelhos e um nariz achatado, carregavam um odor terrível de lama podre, e ao redor de seu pescoço havia colares de ossos. Os seres a frente dos heróis mediam de dois metros e meio á dois metros e oitenta de altura, eram gordos, carecas e com a pele aparentemente esquelética desenhando estranhamente seus ossos.

  - Que droga – Disse Heitor empunhando a espada. Claus transformou-se em homem novamente. O ogro mais alto correu na direção dele com um sorriso amarelo. Pen e Heitor prepararam-se para o combate, mas ele era grande e rápido. Simplesmente abriu os braços acertando os dois que caíram á metros de distância aturdidos. Claus permaneceu inerte.

...

   Nescuro foi jogado á metros de distância. Luna o olhava caído no chão ao lado de Elisa. Ela lembrava-se do que fez. Sentiu a presença dele desde que entrou na floresta, ela podia sentir qualquer criatura a uma distância considerável, e dentro da floresta isso ainda era mais forte.

  Ordenou a Nesso que o matasse, mas aqueles malditos o atrapalharam. Ele se aproximou, mas ela não o temeu em momento algum. Pode prever o ataque dele e quando ele saltou, ela sorriu.

  Sentiu um turbilhão de energia circular por suas veias, suas mãos catalisaram todo aquele poder e ela virou sua mão direita na direção de Nescuro. Um tufão de vento partiu na direção dele, jogando-o longe. Ele caiu. Luna estava de pé, olhando para Elisa.

 - Você tem tudo isso! E está nestas condições? Não merece o poder que tem Bruxa. Não merece mesmo. Mas eu! Eu, Luna! Serei a bruxa mais poderosa de todos os tempos! – Disse ela dando uma risada alta e maquiavélica.

...

Continua...
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 23/02/2013
Código do texto: T4156367
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