O Escolhido do Livro Negro das Sombras e da Luz - parte IV

Diante daquela primavera febril seria difícil perceber que a alma de Ronaldinho era de um negrume detestável, sofrivel. As árvores estavam floridas na rua em que morava, o céu sempre azul, decorado com grande nuvens brancas que refletiam a luz do sol para a abóboda celestial. Agora, o menino se dividia entre a escola, os rituais sinistros e o desenvolvimento de algumas atividades remuneradas. Vendia jornais, limpava terrenos baldios, cuidava de piscinas. Com o dinheiro comprava peças de metais e aprontava os símbolos cabalísticos que o livro de capa Preta indicava - teria que usá-los. Eram anéis, pulseiras e voltas. Um dos símbolos era a estrela de Davi. Um dos seres do Inferno, o Guardião dos Portões. Os anéis eram símblos de morte, uma caveira, e outros simbolizavam a eternidade da alma. O mais importante simbolizava a Luz e as Trevas. Estava escrito inglês e em latim num deles: "The Chosen is protected by the Orders of Shadows."

"Delecta umbrarum ordines tuta."

O Escolhido é o protegido pelas Ordens das Sombras.

A sua pele estava pálida, de olheiras-parecia um ser humano mofado. Mantinha-se recluso, quando podia. Diante do sol escaldante daquela cidade, cobria-se dos pés á cabeça á moda do povo do Oriente Médio.

"A luz do sol so favorece aos adeptos de adoração de Lúcifer. Eu escolhi as Sombras." Pensava com os seus botões. As energias que circundavam o seu corpo físico, invisíveis aos mortais comuns eram escuras, de maus odores. O seu duplo etéreo ja sofria a metamorfose que é peculiar aos habitantes das regiões desprovidas de luz. Nas realizações dos rituias, recebia, de forma voluntária e involuntária dos espíritos baixos, dos suícidas, de criminosos de toda ordem, e de alguns líderes que dirigem algumas Regiões Sombrias. A atmosfera energética de sua residência, principalmente no seu quarto era pesada, irrespirável. Uma nuvem de partículas invísíveis desequilibradas e desequilibrantes, oriundas dos maus espíritos envolviam o lar, resultando em discussões acirradas, resultando dos desequilíbrios emocionais promovidos pela nuvem nociva. Havia a desordem física dos pais, irmãos, resultando em doenças que os médicos não conseguiam diagnosticar. Ronaldinho se mantinha alheio - os símbolos o protegiam criando um abóboda circular á sua volta que servia de escudo protetor.

Quando se sentia ameaçado, orava em Latim, em voz alta: "

Non sim feris invisibilia. Vires dissipatae sunt circum me, quia electus habet defensiva scutum Umbrae".

Eu sou o escolhido - o invisível não me atinge. As energias são dissipadas à minha volta, pois, o Escolhido tem o escudo protetor das Sombras.

- Eu sei que pode me ver, não sei como vim parar aqui, pode me encaminhar?

Indagava-lhe um fantasma. Conservava no seu aspecoto a dictomia da morte em sua face. O rosto estava cadavérico, de olhos fundos. A pele era murcha. O corpo de magreza assustadora. Vestia-se com um paletó tosco, rasgado e sujo. Não dispunha de energia para se sentir bem. Era um ser forubundo das profundezas das sombras.

O garoto o olhou com desprezo, sem medo. Estava completamente envolto pelo mundo dos mortos e dos espíritos. Nada mais o amedrontava. Fosse a presença de demônios que tinham a aparência de animais dos infernos, aos mortos. O menino lhe respondeu:

- Você se suicidou e habita no Vale da Morte, não sei o por quê de estar aqui. A sua estadia será longa, interrompeu a sua existência por achar que o fardo da vida lhe era muito pesado. Ora, eu sofria e escolhi o meu caminho. Você escolheu o seu. Fora daqui.

O fantasma foi retirado por alguns guardiões das sombras que guardavam a casa e o menino, com violência. Dois cães do inferno se faziam presente. Os mortos achavam perdidos - que ficam aturdidos quando chegam ao Mundo dos Mortos, pois, não sabem para onde irem,nem sabem o que aconteceu com eles, ali buscavam abrigo. Não eram recebidos, eram expulsos.

Com intervalos de sete dias continuava a furar os dedos e dava ao demôniozinho para beber. Este crescia muito rápido.

- Minha nossa, como você está ficando grande, como poder escondê-lo aqui dentro?

Em pouco tempo, o demônio estava com mais de dois metros de altura.

- Posso modelar o meu corpo.

E fez demonstrações extraordinárias - ora, era uma linda mulher, logo em seguida um jovem mancebo, ou uma criança.

Disse o Demônio Protetor: o peririspírito pode ser modelado pela força do pensamento. No mundo espiritual existem poderes que o homem desenconhece.

Indagou o menino:

- Qual será a sua missão para mim?

- Faça os seus pedidos e tudo o que desejar, terá.

Mais uma vez, Ronaldinho ficou absorto, tomado pelas dúvidas, pois, os pedidos tinham que se resumir em sete a cada ano. E, para cada pedido, um sacrifício descomunal haveria de ter.

A lua cheia cintilava no céu. As estrelas brilhavam. Os olhos do menino miravam um ponto vazio no horizonte. Tinha muito ódio no seu coração.

Havia voltado para o porão com o seu protetor. O seu primeiro pedido, a princípio seria banhado por muito sangue e dor, com um "V" de vingança bem grande. Havia descoberto que existiam sobreviventes do acidente do ônibus da escola.

" Sete pedidos."

( continua)

( continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 21/02/2013
Reeditado em 02/05/2013
Código do texto: T4152833
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.