Principio Finis - DTRL

“E no princípio Deus criou os céus e a terra... Mas os homens governam por suas próprias regras... E desde sempre vivem em guerra”

A ciência é uma maravilha, estuda, informa, educa, busca compreender até oque não há como analisar, tudo para o bem da humanidade, esse discurso foi usado como desculpa para as mais brilhantes mentes inventarem a bomba atômica. Não os culpo, mas nunca foram inocentes.

Astronomia, que linda é essa ciência. Parece até mágica olharmos para o céu e ver um pedaço microscópio do que é o universo de onde fazemos parte, mais espantoso é saber que nós estamos fitando através dos tempos, ou melhor, para o passado, nossa máquina do tempo natural, visto que a luz de algumas estrelas demora vários anos para chegar até aqui na Terra, então não representando o estado atual do corpo celeste.

A astronomia seria a mais bela das ciências se não fosse usada como fachada para colocar telescópios superpotentes, cheios de filtros e sensores termais, infravermelho, ultravioleta e tudo que nós nem sabemos, toda essa tecnologia e muito dinheiro investido não é só para ver estrelinhas nos confins do mundo inacessível, mas para espionar, identificar e dar a localização de possíveis usinas de enriquecimento de urânio, mesmo estando situados embaixo do solo, o calor gerado os denuncia.

Mas plantada embaixo dos nossos narizes, não muito profundo no solo, está uma grande estufa, está aqui em São Paulo, no bairro de Pirituba, bem próximo ao pico do Jaraguá, fica situada em um local que antes servia de pátio para manutenção em trens. Ali neste sítio foram criados, combinados, modificados e cultivados muitos tipos de bactérias e até mesmo vírus. Não gerava tanto calor e numa área com uma boa densidade de pessoas e empresas, os satélites não identificavam como ameaça.

A biodiversidade de factíveis curas as mais variadas enfermidades era alta, assim como o fator de risco de infecção e disseminação por um novo microrganismo. Com esse extremo risco, a fortaleza subterrânea foi provida dos mais avançados equipamentos de segurança, o prédio continha sistemas de vedação e esterilização, os níveis mais profundos incubavam os vírus de maior poder de contágio, geradores próprios, controlados por computador e por fim um dispositivo de autodestruição, um processo ligado ao outro.

Os computadores estavam todos ligados em rede local, sem acesso a internet, apenas dois terminais tinham acesso em modo deus ao mundo externo. Um deles era do pesquisador chefe da equipe que pesquisava uma cura para o câncer. Utilizaram a bactéria Vibrio Vulnificus, um microrganismo que se alimenta da carne humana, combinaram-na com dna de outra bactéria que reconhecia e se instalava em tumores cancerígenos, mas não tomava parte no processo de degradação, vivia como uma espécie simbiose. Adicionaram proteínas que atacavam as células infectadas a essa combinação.

Os resultados foram animadores no inicio, as cobaias tiveram uma recuperação de cem por cento, porém poucos dias após os tumores serem eliminados, as cobaias entraram em óbito. Das cem cobaias que receberam soro anticâncer 95 sucumbiu, o sangue liquefez, similar ao efeito da hemotoxina encontrada na serpente Inland Taipan, passaram a ter necroses múltiplas por todo o corpo, chagas protuberavam por toda a pele, pus e sangue vazavam pelos poros, boca, olhos e ânus, apenas partes do cérebro e nervos não haviam sido lesados.

Variando entre minutos e algumas horas depois do óbito, os corpos reanimavam-se espontaneamente, a coordenação motora não era a mesma de outrora, olhos fundos e sem vida, cobertos por uma membrana fina semelhante a catarata. Os que resistiram ao efeito colateral foram devorados pelos ressurretos, que por fim, tragaram-se uns aos outros. A bactéria original não tinha a capacidade de se propagar pelo ar, ela provinha do mar, contudo as combinações mudaram seu comportamento e resistência, infectando outras espécies em mais dois andares de pesquisas, seguindo o mesmo padrão de proliferação e ataque, apenas cinco por cento de imunidade, oque não adiantava muita coisa porque os zumbis atacavam a tudo indiscriminadamente.

Um dos colaboradores da equipe foi contaminado, morreu duas horas depois de contrair aquele mal, foi posto em uma maca para averiguação e espera dos médicos legistas, a podridão tomou conta de seu corpo completamente, alguns dedos chegaram a cair, ficou imóvel por 4 horas. Acordou de súbito e com voracidade atacou um dos pobres doutores, a sala foi fechada e o outro médico foi atacado pelo zumbi feroz.

Os estudos daquela desastrosa pesquisa foram descontinuados, mais de dois meses passaram para que todos os infectados morressem de inanição, mas uma amostra da bactéria foi guardada no nível mais alto de proteção, nos andares mais abaixo do complexo.

Certo dia, o mesmo cientista chefe estava em sua casa e começou a fazer buscas em outros centros de pesquisa, para ter uma um feedback de outros pesquisadores que estudavam as variantes do câncer, salvou suas consultas no pendrive e nem deu importância ao fato de seu notebook ter desligado sozinho. Foi rápido para laboratório, sem saber que seu filho aspirante a hacker, fez uma brincadeira com seu computador, o rapaz estudava a nova linguagem dos navegadores, o HTML 5, e fez um “script” ao qual ficava oculto no navegador, incorporado ao código, nele era ordenado o comando “shutdown /s /f /t 1800” obrigando o computador a deligar-se em 30 minutos.

O problema é que a esse código, outro script foi introduzido para a disseminação pela rede, atualizando todos os novos navegadores a compilar e executar esse comando. O pesquisador adentrou em sua sala e conectou o pendrive ao seu terminal em modo privilegiado, com acesso a internet, se ele apenas clicasse nos links salvos no dispositivo móvel, não haveria problemas, porem ele executou o browser portátil em seu pendrive, isso proliferou sem ele ver, o vírus por toda a rede, até os geradores foram infectados, pois seus sistemas eram acionados pelos navegadores e em códigos HTML.

Tudo foi desligando em cascata, e como tudo era um sistema em cima de outro sistema, os apagões foram instantâneos, nem o sistema de autodestruição escapou, haja visto que o PC que o controlava também estava na rede.

Assim que os geradores pararam, todo o sistema de vedação e esterilização desabou, as portas não abriam mais automaticamente, nem os elevadores funcionavam, os vírus e bactérias tiveram passe livre para infectar a todos no complexo, a carniceira começou pouco após.

Logo ganhou as ruas, e dias depois a cidade, em algumas semanas todo o controle estava perdido.

Os homens estavam tão impressionados olhando para o céu, esperando a redenção ou a catástrofe que poderia vir em forma de um meteoro e como se espantaram ao ver uma pequena pedra produzir uma grande luz, nos céus da Rússia.

Mas o mundo foi mudado por um vírus virtual, que não se pode ver, nem apalpar, tão surreal que chega a ser inconcebível. Eu sou o cientista sênior que comandava tudo, estou nos cinco por cento de imunidade, e do alto do prédio de onde eu morava, penso em me jogar, porque tudo em que eu acreditava ruiu ou foi totalmente devorado, como minha esposa, filho, amigos e parentes. Vi eles sendo destroçados a minha frente, lutei para salvá-los, todavia eles não tinham a isenção que eu tenho. A comida acabou e a agua só me resta a minha saliva, que já está amarga de tanto desgosto.

Na minha porta, batem desesperadamente e sem cessar, aqueles que querem minha carne e sangue, corpos podres e sem alma, aqueles a quem eu ajudei a criar e que são agora a minha família, a minha herança maldita que desfez o mundo.

Deito no terraço olhando o firmamento e sem perspectiva de perdão, mas na esperança de que venha rápido o tal meteoro que todos ansiavam. Agora sim eu creio que estamos no começo do fim.