MEUS 15 ANOS

- Quem se lembra de seus 15 anos?

Garanto que poucos se lembram como eu me lembro. Não houve Baile de debutante mais marcante que o meu. Querem ver como tenho razão?

O primeiro choro no Hospital, a primeira lagrima de felicidade dos meus pais. Ao abrir os olhos o primeiro rosto, a primeira visão, vi um homem de máscara que me puxou pela cabeça, levantou-me ao alto pelos pés e imediatamente me entregou a uma mulher, que estava deitada, e eu suponho que seja minha mãe. As lágrimas rolaram por seu rosto e ao seu lado um marmanjo que chorava feito criança, este suponho ser o meu pai.

Nasci e fui a completa felicidade dos meus pais, já nos meus primeiros anos de vida meus pais sonhavam com a minha festa de 15 anos, o dia da debutante, eu seria apresentada a Sociedade, aos rapazes para escolha do meu príncipe.

Os dias transcorriam normalmente e eu crescia de graça em graça. Cresci ouvindo sobre os preparativos do grande dia. Meu pai era fazendeiro e criava gado, vaca leiteira. Era um grande empresário na pecuária. A cada dia ele enriquecia mais e mais.

Meu pai tinha abatedouro e um grande frigorífico na fazenda, e quase sempre chegava em casa sujo de sangue. Minha mãe sempre dizia:

- João vai se lavar!

- Mulher estava trabalhando! - Dizia meu pai aborrecido.

No dia seguinte fui a escola, lá o comentário era geral sobre o desaparecimento de um colega nosso, o Marcelo. Seus pais estavam na escola a sua procura, pois o mesmo desapareceu no dia anterior, após a escola não retornou para casa.

Naquela manhã a Diretora fechou o Colégio e fizemos um mutirão e saímos a procurar o Marcelo.

- Procurem por todos os lugares imagináveis, onde ele possa está. - dizia a Diretora.

- Sim procuraremos. - respondemos.

Fizemos todo o percurso dele, da escola a sua casa, e não o encontramos, exceto uma pulseira que ele usava, estava caída no caminho.

- Encontrei sua pulseira. - gritava sua mãe, entre lágrimas e euforia.

- Ela está suja de sangue. - disse outro.

- Será que o mataram? - falou um sem noção.

- Tenhamos esperança, não há de ser nada. - falei eu alentando a mãe de Marcelo.

Continuamos a procura até o anoitecer, sem êxito resolvemos parar a busca e retomá-la no dia seguinte, após a aula.

No dia seguinte acordei cedo e fui a escola, meus amigos só falavam no desaparecimento de Marcelo, sairíamos em mutirão novamente, desta vez a Polícia também estava presente. A mãe de Marcelo entregou-lhe a pulseira encontrada, pois poderia ser uma pista. A pulseira foi mandada para perícia.

Após alguns dias saiu o resultado da perícia da pulseira, foi constatado que não se tratava de sangue humano e sim de animal, o que intrigou a todos.

Após a aula continuamos a busca, e nada se encontrava nem mesmo novas pistas. Fizemos buscas diárias por muito tempo, em vão. Já estávamos sem esperança de encontrá-lo com vida. Passaram-se seis meses e não havia mais esperança de se encontrar o Marcelo com vida.

Após os seis meses outras crianças desapareceram, e tal qual como foi com Marcelo, não se encontravam pistas. E assim os dias iam passando, e vez ou outra surgia novos desaparecimentos, foi assim por toda a minha infância, até os meus quinze anos. Em alguns casos encontraram sangue de animal, o que dava a busca por terminada.

Estava aproximando-se o dia da minha tão sonhada festa de quinze anos. Meus pais estavam na reta final para a festa. Cresci ouvindo meus pais falando sobre esta festa, agora faltava pouco tempo. Na minha casa havia uma grande agitação por conta disso.

Na distribuição dos convites constatei que muitos dos meus amigos de infância não estariam presentes, pois a fatalidade ceifou-lhes a vida tão cedo. Lagrimas rolaram pelo meu rosto ao recordar de momentos tão tristes de minha infância.

Minha mãe contratou o conjunto musical Nirvana para tocar em minha festa. Os preparativos estavam prontos para a festa, os comes e bebes, tudo a contento.

Eu teria quinze damas e quinze cavalheiros que dançariam a valsa comigo.

No dia da minha festa acordei cedo com os raios de sol invadindo a vidraça da janela e tocando suavemente meu rosto. Acordei um tanto assustada, pois tive um pesadelo, no qual meus amigos desaparecidos apareciam na festa, quando ia indagá-los, acordei. Ainda estava assustada, pois o pesadelo pareceu muito real.

Levantei quando minha mãe me chamou, e relatei-lhe o sonho, ela ficou um tanto apreensiva e disse-me:

- Filha foi apenas um pesadelo, não há de ser nada, quem sabe eles apenas quiseram te parabenizá-la, afinal eles seriam convidados se estivessem vivos.

- Mãe e se foi um aviso?

- Que aviso que nada filha, esquece esse pesadelo. Fique bem feliz, afinal não é todo dia que se completa quinze anos.

Mesmo com minha mãe tentando acalmar-me, sentia calafrios na espinha só de relembrar.

Ainda sonolenta entrei no banheiro, peguei a escova de dente e olhei-me no espelho e gritei:

- Socorro! Socorro! - e sem sentidos caí no chão.

Mamãe entrou correndo no banheiro e me socorreu, ao voltar os sentidos, contei a minha mãe o que vi. Meu rosto sumiu do espelho e apareceu o Marcelo, e ele fez menção de falar comigo, mas a voz dele não saia. Seu rosto foi se transformando em um rosto putrificado, onde caia aos pedaços.

Mamãe deixou-me no quarto e saiu, voltei para o banho e ao tirar a roupa percebi sangue respingado em minha roupa. Achei estranho, mas entrei no banho. Enchi a banheira e mergulhei na espuma, e enquanto relaxava no banho, a imagem de Marcelo e todos os outros desaparecidos, que contavam trinta jovens, não saia da minha mente.

Era um dia muito feliz da minha vida, eu deveria está muito contente, mas ao contrário, baixou-me uma sessão nostalgia, e me pegava pensando nos desaparecidos.

O Conjunto começou a animar a festa, os convidados chegando, e eu em depressão no quarto, sem ânimo para me arrumar, se pudesse me trancaria em meu quarto e não veria mais ninguém. De repente batem a porta, trazendo-me de volta a realidade, meio que no automático segui em direção a porta e antes mesmo que conseguisse abri-la, levei um susto enorme, eis que entram um a um porta a dentro, dos meus amigos desaparecidos. Subitamente recuei, meus cabelos levantaram, meus pelos arrepiaram-se.

Passado o susto, tentei falar com eles, que tentavam emitir som sem muto êxito, apenas umas poucas palavras entendi, meio que sem sentido, mas foi o que deu para compreender: pai, abatedouro, carne, vida...

Tentei me esforçar mais para compreender, e perguntava desesperadamente:

- Quem fez isso com vocês?

- Paiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

E nos instantes que se sucederam minha mãe trouxe-me de volta a realidade, chamando-me:

- Filha! Anda logo, os convidados já chegaram, só falta você. Precisa de ajuda?

E enxugando as lágrimas, respondi:

- Não mãe, já estou quase pronta, desço em seguida. - e neste momento os meus amigos foram dissipando-se no ar, um a um foi desaparecendo.

Desci logo em seguida, a festa estava repleta de convidados, o som ao fundo tocava animado, era uma festa dos sonhos, mas eu não conseguia sentir-me feliz. Sentia-me aérea, parecia que flutuava, creio que pela visão que tive minutos antes.

Todos cumprimentavam-me alegremente, mamãe estava radiante, parecia a debutante.

Os visitantes divertiam-se, enquanto eu andava pelo salão, sentindo uma energia ruim no ambiente. Mesmo não me sentindo bem fui cordial com todos. O conjunto animava a festa, todos pareciam divertir-se muito.

Se não fosse minha indisposição tudo estaria perfeito.

As horas passaram e quando já se aproximava da meia noite, meu pai aproximou-se e segurando-me em seus braços fez sinal para o conjunto musical, que começou a tocar a valsa, bailei no ar levada por meu pai. Em seguida teríamos a valsa com o meu príncipe e os quinze casais convidados a bailar comigo. Ao término da valsa com meu pai, os casais se organizaram no salão. Começamos a valsar pelo salão, todos se divertiam, parecia tudo tão perfeito, quando de repente os convidados começaram a gritar e correr, e ao olhar o que acontecia, observei sangue e pedaços de corpos espalhados pelo chão, eram os meus colegas desaparecidos, eles bailavam comigo, os casais havia desaparecido e os mortos tomaram seus lugares.

Os convidados corriam desesperados, e logo somente eu e meus pais estavamos na festa. Os mortos continuavam a valsar sem musica, parecia que se divertiam. Pouco tempo após este episodio, eu me aproximei deles e perguntei o que aconteceu com eles, ao que com sinal das mãos chamavam-me a segui-los.

Não sabia aonde eles me levavam, mas continuei seguindo os até que cheguei a fazenda de meu pai, caminhei com eles até o abatedouro, seguiram na direção dos frigoríficos fazendo menção para que eu abrisse. Não entendi muito bem a razão de estar ali, porém seguir em frente e fiz o que eles queriam, aproximei-me do grande refrigerador e levando a mão a maçaneta exitei um instante, o que estava fazendo? Por que fazer aquilo? Finalmente tomei uma decisão e girei a maçaneta, a porta pesada foi se abrindo lentamente, um ar gélido soprava em meu corpo, puxei a porta e finalmente a escancarei.

Apesar da carne está congelada, subia um forte odor. lentamente entrei no frigorífico e quase vomitei com o que vi. Em cabides de ferro pendurados lá havia corpos humanos, desde crianças a adultos. Naquele momento compreendi o que aconteceu, sai dali correndo para vomitar.

Logo meus pais chegaram e se certificaram que eu havia descoberto o grande segredo da família. Chorei muito e após vomitar cai em cima do meu próprio vomito e perdi os sentidos. Quando acordei estava pendurada em um gancho de ferro dentro do frigorífico.

Estava só, as portas trancadas, perdia-me nas lembranças do acontecido, tentando entender o que estava acontecendo comigo. Logo sentia-me congelando, não sentia mais o meu corpo e aos poucos fui perdendo os sentidos. Não sei quanto tempo fiquei ali, parecia uma eternidade.

Via meu corpo pendurado como uma carne exposta em um açougue, quando ouvi algum barulho, a luz foi entrando lentamente pela porta, e dois funcionários de papai entravam com dois corpos, um adulto e uma criança, que jazia sem vida, e com muito esforço pendurou-os em ganchos de ferro.

Saí dali sentindo-me esquisita, pois meu corpo continuava pendurado. Ao chegar no abatedouro deparei com o nosso mordomo, dirigi-me a ele, enquanto seguia em sua direção senti algo estranho ocorrendo em meu corpo, como se tivesse voltado a viver, e detalhe sentia muita sede, vendo o mordomo bebendo sangue pedi-lhe um pouco. Ele me deu um copo com sangue, ainda morninho, deliciei-me com aquele líquido sem compreender bem, pois achei gostoso. Limpei a boca com as costas da mão, deixando a mão com marcas de sangue.

Ainda sem entender o que estava acontecendo comigo,aqueles desejos esquisitos, e conversei com o nosso mordomo:

- Sr. Arthur você pode explicar-me o que está acontecendo?

- Menina, finalmente você chegou a idade do entendimento, já era a hora da metamorfose acontecer, sempre foi assim de geração em geração, venho acompanhando sua família por uma eternidade e não seria diferente com a menina.

- Agora sim és uma de nós.

- Como assim uma de nós, o que você quer dizer com isso?

- Minha filha você vem de uma linhagem nobre de vampiros, seus ancestrais vieram da Transilvânia há muitos séculos passados. Eu sempre tive o encargo de cuidar e zelar pela descendência desse clã. Cuidei do seu bisavô, avô, seu pai e agora você e certamente zelarei pelo seu filho. Seja bem vinda minha princesa ao nosso mundo.

- Mas se eu não quiser fazer parte desse mundo?

- Minha querida, não há escolha, já escolheram por você, não há como fugir disso, o melhor é aceitar seu reinado.

Eu me recusava a aceitar o meu destino, mas não havia alternativa, era mais forte que eu. Saí dali correndo insanamente, percebi que os desaparecidos seguiam-me, e tudo o que eu involuntariamente fazia eles repetiam.

Corri até não aguentar mais, eu só queria fugir da minha condição. Em pouco tempo eu não mais corria e sim me transformava em um repugnante morcego, e comigo os desaparecidos também passaram pela transformação, observei que eu liderava os, e eles obedeciam.

Eu ainda sentia-me humana e recusava-me a aceitar essa condição. E na minha rebeldia voei alto indo parar em um lugar estranho, a neblina cobria o local, a visibilidade era péssima, e poucas pessoas transitavam naquele vilarejo. De repente contra a minha vontade avancei no pescoço de um homem e dilacerei sua artéria, saciei meu desejo sugando até a última gota de sangue. Sentindo-me fortalecida segui até a minha casa voando e os desaparecidos também comigo depois de saciarem sua fome.

Voamos, voamos e finalmente chegamos a minha casa. Instantaneamente voltamos a forma humana. Entramos em casa, meus pais me aguardavam com um banquete, sobre a mesa taças cheias de sangue. Todos beberam até não aguentarem mais. Meu pai falou-me:

Filha, sei que foi assustador para você passar por essa transição, sei como se sente, eu também passei por isso, e confesso que não foi uma experiência das mais agradáveis, mas não há o que fazer, foi assim e será para sempre, logo você terá que conduzir seus filhos pelo mesmo caminho. Somos de linhagem nobre de vampiros, e esses aí serão os súditos vampiros do seu reinado, nunca eles chegarão a estirpe de sua nobreza, serão apenas serviçais.

Com o passar do tempo meu pai combinou de irmos a casa de familiares dele, ele gostaria de apresentar-me a um rapaz. Partimos para a casa de nossos parentes, eu, papai, mamãe e alguns de nossos serviçais. Ao chegarmos lá, paramos diante de um Castelo enorme, com arquitetura medieval. Meu pai bateu ma porta e um mordomo veio atender, nos conduziu a sala de estar, um enorme salão muito bem decorado, com decoração antiga, havia uma suntuosa escada que conduzia ao andar de cima, em uma parede havia um brasão de família e uma galeria de fotos.

Em seguida apareceu no alto da escada os nossos parentes, um pai uma mãe e um elegante moco, alto forte, elegante e por que não dizer belo, senti-me atraída por ele.

Meu pai fez as apresentações, sentimos uma grande atração. Saímos até uma sacada do castelo, senti-me enamorada. Não tive dúvida de meu interesse por ele.

Nos despedimos e segui com meus pais para casa. Nos meses que se seguiram meus pais prepararam o nosso casamento.

No dia do nosso casamento houve uma grande recepção no castelo do meu noivo o Drácula. A cerimônia foi realizada por um ancestral nosso.

Ainda sentia falta da minha vida anterior, mas ao conhecer o Drácula, foi um alento, ele me conduziu na minha nova missão.

Era muito feliz ao lado do meu marido, e mais feliz ainda por saber que viveríamos juntos para sempre. Logo minha felicidade foi completa, esperava um bebê, fruto do nosso amor.

Quando nasceu minha filha, fiquei muito feliz e dedicamos todo nosso tempo a Melissa, passávamos os dias planejando a noite da metamorfose de nossa princesa, mesmo sabendo que ceifaria a vida de muitos inocentes, mas o ciclo continua. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Nossa felicidade era completa, subimos no parapeito da janela e vuptttt saímos a voar, a lua nos abrilhantava com sua presença.

Grata aqueles que acompanharam o texto e até o próximo.

Rivanda De Siqueira
Enviado por Rivanda De Siqueira em 18/02/2013
Reeditado em 11/03/2013
Código do texto: T4146630
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.