O Escolhido do Livro Negro das Sombras e da Luz

" Existem mais segredos e mistérios entre o Céu e a Terra que a nossa vã filosofia não deve ousar duvidar."

Willhiam Shekespeare

Os morcegos bailavam sobre os escombros do antigo casario, recém-demolido, por poucos minutos. Uma cena macabra presenciada por alguns dos seus vizinhos. Em breve momento, como se levados por uma atmosfera sinistra se dirigiram para o cemitério, e ali forraram a cova com o negrume dos seus corpos e asas. Era a cova do antigo morador daquela casa secular. Era conhecido como o Bruxo - um homem solitário, sexagenário. Andava vestido de preto, ostentava uma barba branca e longos cabelos brancos. Inúmeros símbolos cabalísticos feitos de metal, em forma de anéis, pulseiras e correntes espalhavam-se pelo corpo, Eram mais do que enfeites. Os moradores o evitavam. A sua família afastou-se daquela casa e jamais o visitavam. O velho bruxo vivia a vociferar para os que o rejeitavam assim:

- Eu sou o Escolhido, ouviram? EU SOU O ESCOLHIDO.

Dizia assim, e soltava uma gargalhada sinistra.

Ao raiar do dia, uma chuva fina pairava sobre a cidade. Garotos, em grupo se dirigiam para o campinho conhecido como campinho da Caveira. Ali, quando o terreno foi descampado pelo trator foi encontrado uma caveira de um esqueleto humano. Jamais foi identificado o morto, a modalidade do crime ou o seu assassino.

O livro estava junto de outros, e de revistas antigas, numa caixa jogada num terreno baldio, onde os moradores jogavam o lixo de suas residências. Durante três dias, a caixa , ali permaneceu tomando chuva e sol. O campinho de futebol, onde adultos e adolescentes costumavam jogar bola era próximo. Num lance da pelada, um dos chutes arremessou a bola no centro do lixão, esta se chocou com a caixa úmida de papelão. Há poucos metros dali, estavam os escombros da antiga casa. Os moradores temiam a sua presença. No fim da tarde era comum observar os morcegos adentrando pelas vidraças quebradas dos janelões que se distribuíam nas paredes laterais do primeiro andar e pelas aberturas no sótão. A sua arquitetura era bem antiga, remetia ao Brasil colonial, talvez. Portas e janelas enormes, pesadas. A sua fachada era sombria. Talvez, ali muitos escravos tenham gemidos de dor.

-Va pegar a bola, Ronaldinho, é a sua vez.

- Ah, que porcaria de pé torto, toda hora é isso, a bola chutada pra longe.

O garoto saltou alguns arbustos, e passando por cima de um córrego se dirigiu na direção da bola. A avistou colada na caixa. Quando se abaixou para pegar a bola, avistou algumas revistinhas em quadrinhos, outras de variedades, mais alguns livros com capas bem chamativas. Abaixou-se e foi tirando os impressos da caixa. Alguns estavam colados, devido ao banho da água da chuva. Soltavam as capas, e algumas folhas. Por baixo estava um livro que ficara intacto, não foi por menos. A capa era grossa e de couro preto de cabra. Os pêlos estavam intactos, lustrosos. O menino o livro achou bonito. Tinha bom formato e era grosso, em número de páginas.

- Ronaldinhooooooooooooooooo...

Gritaram do campinho - os coleguinhas aguardando a bola para o reinício do baba. Este, respondeu com um segundo grito, pegou da bola. Conduzia o livro junto ao seu tronco. Abaixou-se e o colocou ao pé da trave enrolado na sua camisa.

A casa havia sido demolida, após o proprietário ter tido uma morte estranha. Apesar de velho, tinha bom vigor físico. Morava sozinho. Diziam que tinha familiares na cidade, mas que jamais o visitavam. Após a sua morte, algumas pessoas apareceram com um corretor de imóveis. O terreno foi vendido, pois, a casa não valia grande coisa. Era tomada por rachaduras nas paredes e o telhado de telhas estava com dezenas de aberturas. O mofo se espalhava pelas dependências, a tinta gasta. O piso era antigo, corroído pelo tempo. As tralhas do seu proprietário foram jogadas fora. Nada dali levaram – até mesmo as suas fotos antigas tiveram um destino nada amoroso – o lixo.

Após perder uma das partidas da pelada, o time de Marcelo era obrigado a ficar de fora, aguardando uma nova peleja. Era assim que o baba funcionava, quem perdia saia e aguardava o vencedor de mais uma partida de dois gols, em caso de empate de 1x1, contava mais 10 minutos, e iria para o cara ou coroa. Ronaldinho queria ser jogador de futebol, no futuro. Jogava bola todos os dias, na várzea, até ter a oportunidade de fazer uma peneira num grande clube de Salvador. Pretendia ser jogador do Vitória, mas, se não passasse ali, iria para o rival Bahia.

Afastou-se dos demais, que trocavam farpas a respeito das falhas dadas no jogo. Pegou do livro. Alisava a pelugem macia do pêlo do quadrúpede ruminante, talvez fosse de cabra, carneiro ou de bode – não sabia ao certo, mas adorava o contato da palma de sua mão com os pêlos. Ao abrir a capa ficou surpreso com a apresentação do livro:

“ O livro dos livros. O Livro Negro. Nestas páginas estãos os grandes segredos para o sucesso. Caso seja o escolhido, o que desejar possuir, assim o será.”

- Eu quero ser jogador de futebol. Ser famoso, rico. Jogar na Seleção Brasileira.

Disse Ronaldinho, em bom tom, como se dialogasse com o livro. Os amigos ouviram e gargalharam. Optemperou Diogo:

- Você jogar na Seleção Brasileira? Só se for na Seleção do Peru, Guatemala, ou Costa Rica.

Todos riram.

- Perdemos o baba, sempre, por suas falhas. Não sabe driblar, não sabe chutar, não sabe marcar, nem sabe atacar e nem fazer gols.

Observou, outro colega.

Aborrecido, Ronaldinho levantou-se e afastou-se dos amigos.

- Ei, o baba...

- Vão à merda. Quem viver verá, eu vou jogar na Seleção Brasileira. E vou ser um dos maiores craques que os torcedores vão ver nos últimos anos. Em breve. Mais uma vez leu em bom tom a apresentação do livro – teve convicção do que era lhe oferecido ali.

Na escola, Ronaldinho não era um dos melhores alunos, se quer era considerado um aluno mediano.

- Ronaldinho, você vive no campinho de futebol,ás vezes falta ás aulas para jogar bola, volta para a escola sem trazer os deveres prontos. O máximo que você vai ser na vida é vendedor de hortaliças na feira livre de São Joaquim.

A professora fez a sala ir em polvorosa, em gargalhadas.

Ronaldinho a olhou com uma fúria tamanha, podendo, mataria-a naquele momento. Ana Lice, uma coleguinha que o menino gostava era quem mais ria.

“ O meu mundo ruiu.” – Disse o garoto para os seus botões.

Ronaldinho era magrelo, baixinho e dentuço – um arremedo de adolescente. Não acreditava de todo, que a garota Ana Lice o aceitasse como namorado. Porém, era daqueles que não se rendia. Acreditava que havia uma esperança, ,mesmo que remota. Ele era bom em ciências exatas, e tirava proveito disso para estar sempre junto da menina – agora, assistindo- a rir de sua pessoa, uma chacota desmedida, cruel e insana. O seu coração deu um aperto, onde havia espaço para o ódio.

“ Odeio todos eles. Os meus colegas da escola, os colegas de futebol. E aprendi muito rápido a odiar a minha professora de língua e literatura e, odeio, ah, como odeio Ana Lice. Metida, debochou de mim. Ingrata, é esse o agradecimento pelas horas lhe dando aulas de matemática.

“ Eu quero que todos eles morram.”

Disse com fúria, com ódio. A insanidade lhe tomava o ser. Fez uma carranca na face magra. A testa ficou avermelhada, os dentes trincados. A respiração ofegante. Os punhos fechados. O coração com disritmia cardíaca. Falava assim, batendo os pés no chão: “ Eu quero que todos eles morram. MOORRAAAMMMM. MORRAMMMMMMMMMMMMM.

O suor lhe banhava o cenho. Caiu sentado e pôs a chorar, de forma compulsiva. Recuperado abriu a sua mochila. Estava isolado, sentado à sombra de um pé de jaca que ficava na área externa do pavilhão das salas de aula. Ali ficava o campinho de futebol da escola, o local estava deserto. Tirou da mochila o livro Negro. Leu mais uma vez a sua apresentação:

“ O livro dos livros. O Livro Negro. Nestas páginas estãos os grandes segredos para o sucesso. Caso seja o escolhido, o que desejar possuir, assim o será.”

As lágrimas escorriam pela sua face. O soluçar se fazia presente, ainda.Pensou:

“ Estranho que este livro ofereça tudo o que se desejar, e estava no lixo. O seu proprietário vivia na maior pobreza. A casa mais feia do bairro. Era um solitário, foi deixado ás traças pela família. Será verdade o que aqui está escrito?”

Abriu mais uma página, e ali estava escrito:

“ O escolhido faz as suas escolhas. No Universo existe um Deus, porém, existe o Bem e o Mal. A luz e as Trevas. O opositor de Deus, poderá se manifestar, caso o escolha. Lembre-se de que Jesus, também, poderá se manifestar, caso o escolha.”

Ronaldinho não teve a coragem para continuar a folhear o livro que tinha páginas amareladas. O seu conteúdo parecia ter sido manuscrito, um exemplar único. Fechou-o e saiu andando pela escola na direção do portão de saída. Não percebeu os olhares dos colegas. A professora o olhou de cima a baixo, riu de sua pessoa. Ronaldinho tinha o andar firme. Não lembrava o menino tímido de outrora, de passos vacilantes. Ter o Livro Negro numa das mãos era como sua pessoa tivesse se renovado por completo, havia, talvez, conquistado o caminho para o paraíso, ou para o inferno.

Estava disposto a ser um adolescente diferente, por agora. Fazer uma escolha natural: não ter amigos, não se socializar. Ficaria calado na escola. Não olharia para as menina, e não as desejaria. Deixaria de jogar bola. Iria buscar outras formas de lazer. Talvez, ficar na internet em horas intermináveis. Para prazer com uma mulher poderia pagar, e pronto. Em casa seria a mesma coisa.” Odeio a minha mãe – foi ela quem me pôs no mundo.”

Estava disposto a ler, o mais breve possível o Livro Negro na íntegra. Uma força maior o fazia crer que o conteúdo daquele livro, pudesse realmente mudar a sua vida. Pouco importava que o tivesse encontrado no lixo, ou que o seu último dono era uma miserável. “ Ele não tinha ódio no coração, talvez,como eu.”

“ Eu fiz a minha escolha. Eu odeio as pessoas, odeio o mundo. Odeio o Deus que me criou, odeio a mãe que me pariu.”

Disse para si.

Naquela noite, após deixar que todos percebessem a sua indiferença para os demais, recolheu-se no seu quarto para ler o livro. Fez a refeição à cama. A adrenalina jorrava junto ao seu sangue, o coração estava acelerado. Estava escrito no livro Negro:

“Quando você for o ESCOLHIDO, escolha a hora exata. Todo o Poder, seja da Luz, seja das Sombras, tem a sua hora certa. Todo o poder tem o seu momento certo.”

Passou mais algumas páginas e degustava os escritos com atenção.

“Horários das Sombras e da Luz

A terceira Hora

O Horário da Trindade é 03:00 da manhã. Tenha cuidado. Jamais leia o livro neste horário. A luz dissipa as trevas. O Escolhido perde o poder. Para cada horário, as energias estarão mais propícias, ou não.

15:00 h é o horário do Diabo. 15 no Tarot é o número místico do Diabo

03:00 h da manhã pertence á carta Imperatriz do Tarot e a rainha dos Anjos

escolha ou regeite. Faça a escolha, caso seja você o Escolhido.

Meia-noite

É o horário das trevas. Sendo a 24ª Hora-a última hora é de dedicação aos poderosos das Trevas. Escolha ou regeite. Você faz a escolha, caso já seja o Escolhido.

Horários de Poder da Luz

Escolha ou regeite, caso seja você o Escolhido

Os Anjos e os Gênios

Estão de acordo com a Tabela Cabalística relacionados com certos horários, então podem ter maior ou menor poder quando invocados,de acordo com o horário do ritual de invocação.

Os Anjos Cabalísticos

O Primeiro Anjo Cabalístico é Serafim Vehuiah

O seu horário de poder na Terra é 00:00h às 00:20h

O seu Príncipe é Metrato.

Dias de Rituais de Invocação 20 de março,01 de junho,13 de agosto,25 de outubro,06 de janeiro.

O Vigésimo Sexto Anjo Cabalístico

Anjo Haaiah

O seu horário de poder na Terra é 08:20 h às 08:40h

Dias 14 de abril,26 de junho,07 de setembro, 19 de novembro,31 de janeiro.

Gênio Contrário

O seu horário de poder é de oposição aos horários dos Anjos Cabalísticos.

O Gênio Contrário ao Anjo Vehuiah- O seu horário de poder na Terra é 12:00h até às 12:20

Dias: 20 de março,01 de junho,13 de agosto,25 de outubro,01 de junho,13 de agosto,25 de outubro,06 de janeiro.

Jinns ou Djinns - Os Gênios de Fogo

O seu horário de poder se relaciona à escuridão e a necessidade de se usar o fogo para iluminar.

Melhor horário para a invocação:

Ao cair da noite e antes de amanhecer

O horário de maior poder é às 12:00 h ( à meia-noite)

Iblis é o demônio da Escuridão,da Legião dos Anjos Caídos.

O seu horário de poder se relaciona com a escuridão. À Noite entre 00:00h ( meia-noite) às 1:00h – é o horário de maior poder.

Lucifer – O portador da Luz e da Sabedoria

O horário de Poder de Lucifer se relaciona com o dia de Sol.

Ao meio-dia em ponto – 12:00h em dias ensolarados tem mais intenso poder.Outro momento de grande poder é ao aparecer da primeira estrela no céu, principalmente, sendo o planeta Vênus, que é conhecido como Estrela Dalva. 12 no Tarot se relaciona á carta O Enforcado. Termos associados desta carta: O crucificado de cabeça para baixo, Judas Iscariotes com 30 moedas. O castigo, traídor, morte violenta, extinção da vida. Odin, Deus norueguês-infidelidade,prudência.

Lucifer não tem como viver na escuridão, ou ali se esconder, ele é luz. Era o Portador –Master da Luz de Deus entre os demais anjos. Invejou a Supremacia que O Pai-Maior havia dado a Jesus. Foi daí, que tentou tentar Jesus no deserto, local de intensa luz do sol, local muito propício para ele, que é Anjo de Luz. Lucifer é o Senhor da Luz e do Conhecimento. Nunca o invoque durante á noite.

Escolha ou o regeite, caso seja você o Escolhido

A Noite

Durante a noite os seres humanos abandonam os seus corpos de matéria densa-então ficam mais fragilizados. O momento se torna propício para os Anjos Caídos atacarem, tirando todo tipo de proveito. Os Anjos Caídos usam a escuridão para se esconderem de Deus. Foram alcóolatras,maníacos, ladrões,assassinos, grandes gênios do mal.

Horário do Poder 18:00 h

O número 18 se relaciona a Grande Mãe – à Lua:A Grande Mãe, Iluminação na Escuridão. Relaciona-se com a Mãe da Humanidade, Nossa Senhora.

Eu, Tarothinn, Anjo e Demônio, sou dúbio e te ofereço as horas do Poder. Tudo eu posso, pois tenho Fé Inabalável. O escolhido deverá escolher.Luz ou as Trevas. Servir ao bem ou ao Mal- so os Mestre Doutores podem servir à Luz e às Trevas, pois, assim conquistam os Iniciados. A primeira leitura não tem o devido Poder. O Escolhido precisará estar iniciado. Leia o livro e o conheça. Para a segunda leitura obedeça os horários, e escolha o Bem ou o Mal, a Luz ou as Trevas.

Obedeça fielmente os rituais descritos.

Caso seja o Escolhido perderá o medo diante das situações do Mundo do Sobrenatural que vivenciará. Ninguém é so carne e matéria densa. Você é Alma.

Muito cansado, Ronaldinho adormeceu sobre o livro. Antes de fechar o livro, teve a certeza de que tinha nas mãos muito mais do que um livro – era o seu futuro que estaria mudando. O sonho de se tornar jogador de futebol reacendia o seu ser. Rico, famoso. Muito mais do que isso, pretendia antes de tudo ser o Escolhido.

- Ronaldinho, acorde, ei. Ronaldinho. Acorde.

O menino abriu os olhos, de forma vagorosa. Ao avistar a pessoa que o chamava, os seus olhos saltaram das órbitas, um engasgo tomou conta de sua garganta.

- Você morreu. Você está morto.. você...

- É, mas estou aqui para lhe dizer uma coisa. Acalme-se e não tenha medo.

O menino tremia de medo, suava frio. A sua vontade era sair correndo dali, pois, estava diante de uma ocorrência do mundo do Sobrenatural.

- Você é o Escolhido. Vou te dizer o que deverá fazer. Passando nas provas, estará dentro da Família do Sobrenatural. Vemos que já fez a sua escolha. O ódio comunga com as sombras, o amor e o perdão com a Luz. A humildade, a simplicidade comunga com a Luz. A sede de poder, riquezas, luxo, conforto e todos os prazeres comungam com as Trevas.

O garoto já estava mais calmo. Precisava aprender a ser forte. Os seus amiguinhos quando se dirigiam para a escola ou para a pelada, quando passavam pelo passeio do antigo casarão, aceleravam os passos, alguns corriam. Ronaldinho nada temia. Passava com tranquilidade, observando as grandes janelas, desejando poder ver algo de inusitado – todos tinham curiosidades febris a respeito daquele local, mas viviam inseguros, com medo. O interesse de Ronaldinho era além da imaginação. Sempre houve em seu ser um interesse pelas coisas inexplicáveis. Não temia o mundo dos Mortos, as coisas dos Espíritos, as coisas do Sobrenatural.

- Eu sou o Escolhido? Como pode saber disso? Você está morto e está no meu sonho...

- Eu estou te dizendo. Você é o Escolhido. Foram me buscar no Reino das Sombras para te informar. Eu sou da Família, e agora habito numa Pairagem Sinistra e estou numa nova escola. Serei o Mestre dos Escolhidos, o seu Guia das Sombras.

- Eu poderei ter tudo o que desejar?

- Você é o Escolhido. Leia o livro, exercite a sua escolha. Inicie-se nos Rituais. Sendo aprovado, confirmará a Escolha feita pelo Reino das Sombras. O livro Negro nunca se perde, sempre estará nas mãos de alguém. Poderá passar de mão em mão por séculos a fio, até que possa encontrar outro escolhido.

- Eu quero fama, riquezas e todos os prazeres que a vida material possa me oferecer.

- Você já fez a sua escolha.

E, para surpresa de Ronaldinho, num passe de mágica, viu a figura que lhe falava se dissipar numa nuvem de fumaça escura. Um odor desagradável de enxofre e de podre inundou o seu quarto. O menino, ao virar-se na direção de sua cama tomou o maior susto – o seu corpo estava deitado na cama, inerte. Velava a sono solto. Num piscar de olhos, sentiu ser sugado para junto do seu corpo. Ouviu um estalo estranho e, num halo de luz escura, observou-se no corpo de matéria densa. Acordou suado, com o coração em acelerada carreira.

“ Nossa, que sonho maluco.”

Pensou assim. Foi ao banheiro, urinou. Tomou um revigorante banho. Voltou para a cama. Antes de se deitar mais uma vez, observou a alvorada surgindo no horizonte. O livro de capa preta estava jogado na sua cama. Alisou o livro, abraçou-o e adormeceu.

“Esse menino já era estranho, agora está a cada dia pior”- dia a sua mãe. O seu pai se mantinha indiferente. Tratava do pequeno negócio da família, e se ocupava mais da segunda família que tinha com outra mulher fora do casamento. Os irmãos o evitavam. A irmã que dividia o quarto com ele estava angustiada com a sua presença à noite lendo o estranho livro der capa preta. Os colegas da escola eram agredidos verbalmente quando tentavam fazer chacota dele. Certa feita muniu-se de um pequeno galho de árvores e tentou revidar o bullying com violência física. Escarrerou-os e foi parar na secretaria da escola. Dois dias de suspensão. No campinho de futebol aparecia poucas vezes. Apesar de se manter acesa o sonho de querer ser jogador de futebol. Havia se tornado um adolescente às avessas, sem ter amigos, uma namorada – e, não se interessava pelas coisas de sua geração. “ Quero dominar as coisas da bruxaria.” Falava consigo, com a expressão facial desenhando uma carranca. O olhar de louco, brilhando. Inconscientemente mantinha os punhos fechados, quando assim refletia – parecia querer partir para a briga contra o mundo. Havia passado a tarde inteira sobre a cama. Havia planejado naquele a iniciação, logo à noite. Assim que as sombras da noite tomaram a cidade de assalto, uma chuva torrencial caiu. A escuridão era imponente. O frio açoitava de forma impiedosa. Havia roubado alguns trocados da bolsa da mãe. O quarto foi mantido às escuras. A sua irmã dormia. Era um quarto pequeno, camas lado a lado. Foi na sala conferir as horas, então ás 11:59h realizou o ritual de invocação, conforme estava no livro Negro. Desenhou o pentagrama com o sangue da galinha preta. Espalhou a pólvora. Acendeu as sete velas pretas em volta. Fez a Oração Negra:

“ Senhores das Trevas, Anjos Caídos. Habitantes da Escuridão, onde se escondem de Deus e de Jesus. Invoco o Anjo caído Iblis, venha com os espíritos de alcóolatras, de assassinos, dos sexistas, dos viciados de toda Ordem Negra. Eu sou o Escolhido. Eu Quero fazer parte da Família da Sombras.”

O garoto, com segurança fez um pequeno furo com uma agulha num dos dedos. Pingou o seu sangue em volta do pentagrama. Depois furou com o objeto perfurante um ovo goro. Tocou fogo na pólvora. Um chumaço de fumaça explodiu, em segundo espalhando o seu cheiro peculiar pelo quarto. Repetia a oração sinistra, de forma sussurrada. La fora a chuva torrencial alagava a cidade. A noite era escura, amedrontadora. As ruas estavam desertas, até os cães não ladravam. Foi com espanto, que percebeu a fumaça da pólvora desenhar um bailado no ar, dando formas às mais bizarras figuras das sombras. Alguns possuíam chifres enormes na testa. Alguns tinham rosto que lembravam os equinos, bodes, de corpos de pelugem negra. Outros seguravam tridentes numa das mãos, usam capas pretas e vermelhas. Possuíam caudas que bailavam para um lado e para o outro. Os olhares eram vermelhos, insanos. Eram a personificação do mal ao vivo e à cores. Alhures àquele movimento do mundo do sobrenatural no quarto, a sua irmã dormia o sono do justo.

- Você nos invocou, como ousa nos tirar do nosso Retiro nas Sombras, onde tramamos contra o Mundo dos Justos, contra a Luz, e lutamos contra Jesus?

- Eu sou o Escolhido.

Quando o garoto assim disse, os demônios riram, dele debocharam. Então, veio à sua memória as imagens de sua professora, dos colegas da escola e das peladas.

- Não podem ri de minha pessoa. Eu quero ser das Sombras. Eu quero. Estou cansado de ser encarado como um nada, um fraco.

Os demônios silenciaram. Estavam surpreso pela ousadia do menino. Muitos adultos desmaiaram quando o ritual semelhante, assim, realizaram. Outros se borraram, alguns ficaram loucos.

- Eu sou Iblis, o Mestre das Sombras da minha Região. Alimente o seu Protetor Material, até que esteja desmaterializado. Siga as suas instruções.

- Como assim?

- À meia-noite durante Sete Dias. Pingue Sete Gotas de Sangue no interior do ovo goro. Aguarde o seu Protetor. Ninguém poderá ficar sabendo, ou o feitiço perderá forças. Caso desista no meio da jornada-não é o Escolhido. Poderá ficar louco.

A cena poderia ser descrita como infernal. Os demônios se aproximavam da garota, olhavam com interesse desmedido pelas suas formas. Adelice era uma menina bonita, já despontavam as curvas de mulher no seu corpo jovial. Confabulavam com olhares entre si. Ronaldinho era dominado pelos olhares e pela energia do líder dos demônios. Havia o odor desagradável do inferno no quarto.

( continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 13/02/2013
Reeditado em 02/05/2013
Código do texto: T4138703
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.