A Origem do Mutila-Mijão
A Origem do Mutila-Mijão
Jorge Linhaça
Durante um carnaval de rua, há alguns anos atrás, um folião pulava e cantava pelas ruas da cidade calçando apenas sandálias de borracha
Era tanta a empolgação que nem sequer percebia aqueles riachos no chão, uma mistura fétida de mijo e cerveja, capaz de dar um nó-nas-tripas de qualquer pessoa que não seguisse como que hipnotizada, o imenso cordão humano.
Entre poças e latas vazias lá ia o nosso folião ao som do trio elétrico.Era tanta a empolgação que sequer percebeu, ou se percebeu nem ligou, quando uma lata feriu-lhe o pé fazendo-lhe um pequeno corte.
E lá foi o folião entre gente, mijo, suor e latas, a cantar e a pular como se aquele fosse o último carnaval de sua vida.
Mal sabia ele o quanto isso era verdade.
Voltou para sua cidadezinha na quarta feira de cinzas, uma febre intensa foi se apossando do pobre que, sem muita preocupação, imaginou tratar-se de alguma gripe.
A ferida no seu pé inflamou e ele optou por usar um mertiolate que tinha em casa ao invés de ir ao médico.
O outrora feliz folião, quando deu entrada no hospital já apresentava um quadro grave de infecção generalizada...logo veio o choque séptico e em seguida , questão de horas, veio a óbito.
Os exames constataram que entre outras causas periféricas, o corte no pé havia servido de porta de entrada para a Febre Q e a Febre Tifóide , transmissíveis pela urina humana.
O folião foi enterrado no cemitério da pequena cidadezinha, sua alma, porém, nunca encontrou a paz, e assim, quando chega o carnaval, levanta dos mortos e vai para a cidade onde se infectou buscando vingança contra aqueles que mijam nas ruas.
Assim nasceu o Mutila-Mijão.