EU SONHEI COM A SUA MORTE

- Tchau mãe! - Gritava eu para a minha mãe.

- Filho não vai! A noite passada tive um sonho ruim com você.

- Ora mãe isso é besteira, ficarei bem, pode deixar que sei me cuidar.

Assim falei batendo a porta em minhas costas e partindo para a balada, enquanto minha mãe veio ao portão me ver entrar no carro e partir. Gosto muito de me divertir e ficar com meus amigos e azarar as minas. Naquele dia senti algo estranho na minha mãe ao acenar dando me adeus, enquanto o carro desaparecia na esquina. Senti um grande pesar, um aperto no coração, sem entender o que estava acontecendo comigo. Parecia uma despedida.

Percorrendo o percurso logo mais a frente algo me chamou a atenção, havia pessoas andando na pista de alta velocidade, levavam velas acesas, e ao passar por elas, eis que de repente algo estranho aconteceu, um deles entrou em meu carro, como se levitasse, trajando uma espécie de roupa preta, em seus olhos havia apenas o orifício oco. Senti um arrepio, e temia por nossas vidas. Após alguns segundos, o ser saiu pela janela, e pude ver através do retrovisor a multidão correndo atrás do carro. Acelerei o mais que pude.

Após aquele incidente estranho dirigi-me a casa de alguns amigos para buscá-los, conforme combinado. Peguei a Avenida Brasil naquela noite de sábado, enquanto ouvia o grupo sepultura. corria a 140 por hora. Os amigos cantavam junto com o grupo, sentia-me pesaroso, sem entender mas estava com amigos e esperava me alegrar naquela noite.

Enquanto corria na Avenida, ouvindo a música, o velocímetro disparava, 140, 150, 160 e finalmente botei a 180 Km por hora. Ainda pensando no que aconteceu minutos antes, coisa sem explicação. O carro voava, e assim logo chegamos a Boate na zona Sul do Rio. Deixei a chave com o manobrista e entrei.

A boate estava abarrotada, tinha tanta gente que não cabia no espaço. Bebemos, dançamos, a animação era geral, eu me divertia como se fosse a última vez. Pulava, dançava, cantava, gritava e azarava as garotas. Já tinha bebido demais e dancei tanto que caí no chão. Estranhamente, não sei se foi a bebida, mas voltei a ver aquelas pessoas que andavam na Avenida, eles voavam no espaço da Boate, como se trajassem lençol preto. Novamente sentir arrepios, aquilo não poderia estar acontecendo, teria sido efeito da bebida?

Meus amigos carregaram-me até o banheiro, lavaram minha cabeça e meu rosto, tentando me colocar sóbrio, mas não ajudou muito, eles saíram e foram buscar ajuda, enquanto eu ali fiquei esperando. Enquanto aguardava, as vezes meus olhos viravam e a cabeça tombava para frente.

De repente vi entrar uma pessoa, era alto, magro e tinha o cabelo jogado no rosto. Tentei me comunicar com ele, mas não obtive resposta. Logo depois entraram mais três, estes juntamente com o outro levitavam, e assim levitando se aproximaram de mim. De perto pude perceber que trajavam roupas escuras e não me dirigiam a palavra, tentei falar com eles sem sucesso. Chegaram a mim e pegando-me pelos braços e pernas tentaram me carregar, eu gritava, e por algum motivo me largaram e assim como entraram saíram levitando até a porta.

Assim que saíram não ouvi mais a música e sim um grande tumulto, muitos gritos de pavor lá fora, mas como saber o que aconteceu, senão me aguentava de pé? Tentei levantar mas caí. Senti um forte cheiro de fumaça, nesse momento o banheiro começou a encher de pessoas, eu só queria entender o que estava acontecendo, por mais que perguntasse ninguém respondia.

Resolvi me arrastar até a porta do banheiro, quando fui pisoteado pelos que corriam para o banheiro. Fiquei ali inerte, quem iria me socorrer?Todos já estavam amontoados uns em cima dos outros. Respirava com dificuldade, como se estivesse fugindo o ar. Por mais que tentasse respirar, sentia ele se esvaindo.

Parecia que todos se encontravam na mesma situação que a minha, será que tinham bebido demais? De repente uma fumaça tomou conta do recinto, todos buscavam o ar desesperadamente, quando de repente me vi de pé respirando bem, comecei a levitar. O que estava acontecendo comigo, como assim levitar? Será que estava sonhando? Consegui sai do banheiro, e quando cheguei ao salão, havia uma tragédia,fogo, fumaça, pessoas amontoadas, pessoas tossindo, pessoas correndo, num empurra, empurra, sem fim. Todos queriam sair por uma única porta ao mesmo tempo.

Já me sentia melhor, tentei ajudar alguns, arrastei do chão, colocando os sobre minhas costas, e tentava levá-los para fora daquele inferno, e conseguia sair bem, por incrível que pareca, eu levitava, ocupando o espaço superior, por isso consegui salvar muitas vidas. Atravessava a saida, e os colocava lá foraem segurança. Do lado de fora podia se ver melhor o fogo consumindo o recinto, havia muita gente ao redor da Boate, um corre, corre, os que estavam melhor retornavam para salvar vidas. Toda ajuda era bem vinda.

Voltei novamente e ajudei mais pessoas, logo havia o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, e a vizinhança ajudava como podia. Os pais iam chegando, e em pânico procuravam notícias de sus filhos. Muitos familiares já desesperados, pela ausência de notícias, a população se comoveu e unindo-se em um único proposito demonstraram amor e solidariedade pelos sofridos e aflitos.

Em poucos instantes havia uma Legião de salvadores que assim como eu levitava e tantas vezes quanto foi necessária retornamos a Boate para ajudar, trazíamos eles em nossas costas, até um lugar seguro, onde as autoridades prestavam o socorro definitivo.

Em meio aquele tumulto, salvamos muitas vidas, diríamos que mais de mil. Nunca vi tanta solidariedade junta. Parece que é preciso que aconteça uma tragédia para que as pessoas possam demonstrar seu amor ao próximo. Ao término de tudo aquilo estávamos exaustos, sujos, mas felizes. Podíamos ver a felicidade de muitos pais ao reencontrarem seus filhos e a solidariedade para com aqueles que sofriam.

Após o término do resgate sentamos para descansar, quando avistei minha mãe chegar correndo, a me procurar, Corri ao seu encontro e a abracei como nunca, porém ela sem responder ao meu abraço continuava me chamando e pranteando-se, não entendi e continuei seguindo a. E gritava seu nome, mas creio que pela confusão do local ela não me ouvia.

- Mãe!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Gritava eu em vão, o que foi que aconteceu com a minha mãe? Por que ela não me responde?

Continuei seguindo a até que ela chegou a um bombeiro e perguntou aonde se encontravam os corpos. Ele indicou o lugar e ela seguiu para lá, e eu continuava em seu encalço. Quando de repente ela para e se atira em cima de um corpo, e se pranteia de dor. Sem entender me aproximei e entendi menos ainda com o corpo que vi jogado no chão, sem vida.

Rivanda De Siqueira
Enviado por Rivanda De Siqueira em 07/02/2013
Reeditado em 08/02/2013
Código do texto: T4127862
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