Teatro dos Vampiros
 
 
"Sempre precisei de um pouco de atenção
 Acho que não sei quem sou
 Só sei do que não gosto."
 

  Essa estória começa a beira de um abismo, um abismo sem fim...

  Estou há dez centímetros dele, há uma ponte, uma ponte onde duvida e certeza se dividem por uma linha tênue, uma linha que pode se arrebentar num piscar de olhos, no leve assobio do vento, ou no caminhar de um ponteiro desse tempo arteiro, moleque.

 Como é bom sentir a virilidade de um garoto! Pedofilia?

  Sou apenas um objeto, abjeto, cheia de desejos e infâmia. Sou escorregadia, uma criança sem infância, nem um pouco diferente de minhas escolhas. Arredia? Ás vezes.

 Sou fruto do sórdido passado que me tornou futuro, fruta venenosa que enche sua boca d’água, sou árvore seca que não traz sombras, apenas mata a própria sede.

  A ponte se estende ao longo de minha imaginação, real e irreal. Assola-me essa necessidade latente de decidir um caminho, de cruzar o perímetro dessa linha tão arriscada, dessa largada que me deixa, ou que me leva; ou aqui... Ou lá... Onde estar?

  Sou a cria de um humano desumano, um aborto de fé. Sou fatia da promiscuidade de genes, de ingênuos. Sou fértil, mas a infertilidade me caiu muito melhor.

  Quero dar um passo, quero andar, caminhar... Desejo tentar, mas as pernas que me sustentam, as mesmas que se impõe, e que tremem ansiosas, tão receosas... Ah... Quero ficar aqui, tenho medo de ir e não saber como voltar...

...

  Essa estória começa aqui, a beira de um abismo, um abismo sem fim. Estou no quarto, meu quarto, hoje guardo minhas coisas dentro desse objeto, despeço-me das paredes e dos pôsteres... Eu me guardo em meus olhos, uma prisão...

 Essas comportas que suprimem meus sentimentos, enquanto lagrimas me enfrentam... Corajosas...  E eu me guardo... eu as guardo!

  Sou um objeto, vou dar um passo, de pés descalços. Não! Vou calçando meu sapato negro e cuspindo palavras agressivas, a tempestade alcançando o céu de minha boca e deixando as nuvens de meus pensamentos ainda mais obscuras.

Tenho todo o peso do mundo sobre minhas costas. Estou cansada!

 Sou fruto de amor próprio, sou o veneno que enche sua boca de sede, sou mãe solitária que não traz amor, uma criatura que só quer saciar sua fome. Estou sendo egoísta?

  Estou a refletir, realidade ou virtualidade. Preciso escolher um caminho.  Continuo sonhando, ou é melhor despertar? É hora de existir ou perecer, viver no inferno ou morrer no céu? Que tédio!

  Sou a filha da solidão, sou a falta de fé. Sou parte da profanidade, herança de homens ingênuos. Sou cheia de amor, mas a falta dele me caiu melhor.  Sou má!

  Quero dar um passo, quero andar, caminhar... quero...

Quero tentar, mas as pernas que me sustentam, se impõem e tremem ansiosas, receosas... Ah... Quero ficar aqui, tenho medo de mudar... Não sou tão má assim, sou?

  Mas pensando bem, vou atravessar essa ponte. Vou deixar que você me veja mais de perto. Conhecer seu sorriso e quem sabe seu calor. Talvez se me entregar, se me permitir... Ah, se eu puder ser simplesmente feliz... Ah se...Aff...

  Talvez além dos limites de minha mortalidade, exista algo mais. Quiçá seja eu realmente uma vampira, talvez uma imortal.  O que sei é que o terror me excita, gosto de passar a língua e acariciar meus belos caninos.

 Gosto! Gosto sim, de viver a vida intensamente!

 Vou degustar cada segundo dessa travessia, estou tomando outros rumos, talvez indo embora, buscando algo melhor, talvez não, talvez não exista nada lá fora, nada que vale a pena, mas hoje... hoje eu vou, estou indo... me desculpem...

Poxa! O que queria mesmo era poder ficar!
 
Fim.


Brincando de ator, tentando pensar como uma vampira...

“Texto completamente fictício”

Hoje queria escrever algo, algo que não fizesse sentido, complexo, algo que eu simplesmente não pudesse explicar... Pois bem, escrevi para minha amiga Faby Cristal, uma carta de despedida...
 
Força Vampira! Volte logo, Faby!!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 05/02/2013
Reeditado em 06/02/2013
Código do texto: T4124821
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.