Coveiro Amaldiçoado

I

Correr era a única coisa que conseguia fazer. Tentou gritar mas o sangue em sua garganta a impedia de emitir qualquer som, em pouco tempo o ar começou a faltar e correr já não era mais uma opção.Limitou-se a ficar de joelhos e esperar o ultimato.

O monstro a alcançou logo, visualizou seu corpo completamente nu por alguns segundos. Ainda foi capaz de sentir o abuso enquanto agonizava pela falta de ar. A dor da penetração brutal foi a última coisa que sentiu na vida.

Mais um assassinato.

II

Quando colocou a última camada de terra sob o caixão, o coveiro olhou e volta e percebeu que aquela menina deveria ser filha de alguém importante. O enterro estava repleto de pessoas vestidas com roupas finas, ternos e vestidos que aparentavam ser caríssimos.

"Bando de riquinhos filhos da puta, acham que são melhores que eu só porque tem dinheiro" Pensava, antes de assentar a terra e encostar a pá em um túmulo qualquer. Saiu de perto do aglomerado de pessoas e recolheu-se em um canto isolado dos demais.

Sentado debaixo da árvore ascendeu o cigarro e começou a lembrar dos acontecimentos da noite anterior.

A menina havia entrado no cemitério a noite e começou a rezar em frente a um túmulo. Tirar a roupa dela foi a parte menos divertida.

O real prazer foi observar o corpo se contorcendo enquanto fazia os cortes e deferia mordidas. Teve todo o cuidado para causar o sofrimento na medida certa, matar naquele momento não teria nenhuma graça.

Foi em um momento de distração que ela conseguiu fugir, mas já estava ferida demais pra conseguir correr por muito tempo. Por fim veio o ápice da satisfação.

Tomar o corpo da jovem enquanto a vida se esvaziava dele. Sentiu a alma pura abandonando aquele recipiente sujo.

Sempre foi capaz de ver os mortos. Ainda pequeno sofreu agressões da mãe, o bullyng no colégio veio logo depois disso. Simplesmente não entendiam que podia enxergar os que já foram.

Cresceu perturbado, revoltado com o mundo a sua volta. Só sentia paz quando estava repleto de mortos, era nesses momentos que escrevia suas principais obras.

Para tentar descarregar o estresse, escrevia contos de horror. As estórias eram regadas a sangue e a desespero, mas a morte era o elemento principal dos textos.

Com o tempo percebeu que escrever não bastava, era preciso ver tudo aquilo ao vivo. Começou esquartejando os defuntos mas com o tempo passou a torturar vivos, seus lamentos e gritos de agonia eram uma verdadeira ópera para os seus ouvidos.

Ópera. Era o que escutava quando viu um espírito pela primeira vez.

Tinha apenas três anos, estava brincando no quintal de casa quando uma mulher vestida de vermelho veio em sua direção. Seus lábios eram carnudos mas o rosto era maternal, acolhedor.

-Venha comigo, querido.

Acabou seguindo a mulher. Só olhou para trás quando escutou sua mãe gritando, o carro parou a centímetros do seu corpo.Olhou em volta, procurando a garota, mas percebeu que estava sozinho.

Quando o cigarro foi reduzido a um terço, colocou a bituca no chão e pisou em cima. Ficou olhando o horizonte, dezenas de almas dançavam ao seu redor.

Eram todas extremamente pálidas e transparentes, seus rostos eram tristes e solitários. Há muito tempo havia entendido que nenhuma alma podia ver outra, elas simplesmente enxergavam os parentes de sangue e o seu assassino.

Havia lido em algum lugar que uma alma assassinada permanece na terra até que seu algoz seja morto. Dizem que as almas dos homicidas são atormentadas pelas suas vítimas por toda a eternidade, é o preço a pagar por interferir nos planos de Deus.

Já estava anoitecendo e o cemitério logo iria fechar as portas, não se importou em sair. Além de coveiro era o vigia noturno, dormia ali mesmo, em meio a podridão e os estranhos habitantes.

Quando o relógio da cidade emitiu o som das doze badaladas, levantou-se e seguiu em direção aos portões do cemitério. Já estava fechando o segundo quando uma pessoa vestida de preto entrou correndo, o homem não teve tempo sequer de segurar.

"Pela maneira que corria, parecia ser uma mulher.. Acho que é alguma menina tentando fugir de assaltantes.. essa noite vai ser divertida" Pensava, enquanto colocava a mão no bolso e retirava uma faca artesanal do compartimento.

Foi preciso mais de trinta minutos para encontrar a vítima, um capuz preto cobria seu rosto e o coveiro tentou uma abordagem inocente, chamou-a e perguntou quem era.

-Ei, quem é? Não pode entrar no cemitério essa hora..

Não obteve nenhuma resposta.

-Não tem medo de almas? Aqui é cheio delas. Dizia irônico, enquanto se aproximava.Só parou quando escutou uma voz grutual e grave.

-Não tenho medo de almas.

-Escute, vá embora antes que algo aconteça. A resposta do invasor acabou fazendo ele ter medo, ainda estava impressionado com o timbre da voz.

-E o que poderia acontecer, querido?

-A-Apenas vá embora, está bem? Recuava um passo a cada palavra, o medo já estava se apoderando do seu corpo.

De repente, a criatura de capuz levantou-se e retirou o sobretudo preto.Por baixo usava um vestido vermelho, sua pele era branca e parecia veludo..Os lábios eram carnudos.

Mas o que mais impressionou o criminoso foi o rosto. Era familiar..Era angelical.

-Não me reconhece, querido?

-VOCÊ? Eu te vi quando era criança! Mas.. Você não é um espírito.. Não é transparente como eles..

-Não, querido. Eu não sou um espírito.

-Então o que você é? Não envelheceu nenhum dia... A surpresa era evidente na voz do escritor, parecia que estava em choque.

-Eu sou um anjo, e vim levar você comigo.

-U-Um an-jo? M-M-e Levar p-pra onde? A gagueira repentina foi hilária.

-Para o céu, o senhor que você lá ao lado dele.

-Mas e tudo que eu fiz? Todos os crimes.

-O senhor te deu um fardo pesado demais para que você, ele entendeu que foi tudo culpa da sua habilidade. Venha, me dê um abraço.Dizia o anjo, enquanto abria os braços.

O homem foi ao seu encontro, sentiu os braços confortáveis envolverem seu corpo. As palavras proferidas em seguida o pegaram de surpresa, mais uma vez.

-Eu sou um anjo.. o anjo da morte.Disse a mulher, enquanto mordia o pescoço do assassino e sugava sua vida.

Por todo o cemitério, dezenas de almas surgiram e pegaram o espírito do de seu assassino. Mulheres, crianças, homens e idosos cometeram atrocidades inimagináveis.

A dor era excruciante.

FIM

Galera, mais um conto do desafio da madrugada! Dessa vez o Felipe TS me indicou o tema : Coveiro, aparição no cemitério.

O TS ainda não escreveu o conto dele, teve que sair..mas não esqueçam de conferir assim que ele postar! Tenho a certeza de que vai sair coisa boa haha

Ah, esse conto foi escrito em torno de 40 minutos.

Comentem com sinceridade, Abraços a todos ^^

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 29/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4111113
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