Os mensageiros do Apocalipse - DTRL

Antes de mais nada, desculpe àqueles que usei o nome. Não resisti!

  O garoto saiu correndo pela rua, descalço. Teimoso e mal criado, deixou sua mãe gritando sozinha dentro de casa. Ele nunca mais voltaria lá...

...

  Felipe nunca quis ser um jovem problemático, tinha dezenove anos e já se julgava um homem. Quiçá o uso da cocaína e do craque, o ajudava a ter esses delírios, afinal era apenas um moleque medíocre.

 Sonhava em um dia se casar com sua amada, sonhava em ter Jennifer nos braços, em sentir o corpo dela junto ao seu. Sonhava com cada curva desenhada daquela jovem mulher, de lábios atraentes. Queria sentir seus beijos, e os cabelos tocando seu peito enquanto juntos dormiam, após uma lua intensa regada a sombras e sexo.

 Sonhar sempre lhe fazia bem...

...

  Julio abraçou Zeni, ambos estavam no quarto, já havia cinco anos que haviam se casado. Os contos agora já não existiam mais. O terror era verdadeiro, era algo sádico e cruel que rondava as mentes perversas desses dois.

  Zeni o abraçou, suas unhas crescidas e tingidas de negras. A maquilagem era de uma morbidez sedutora. Algo diferente daquela foto antiga do recanto, onde posava de menina inocente, carente e virtuosa.

 Dosan usava apenas uma bermuda curta, e calçava um par de chinelos de dedo. Estava à frente do computador exibindo seu corpo levemente malhado, magro, mas contudo sedutor, buscando sua perdida inspiração.

  Os tempos de solidão enfim haviam passado, agora só queria viver intensamente com sua amada. Bastava de horas a fio dedicado a um teclado que respondia escravamente a seus pensamentos.  O ex-escritor ainda sentia as dores da noite anterior, as marcas estavam lá, em suas costas, arranhões, marcas de dentes em seus ombros, era um homem feliz.

  As unhas de Zeni voltaram com a mesma fome e intensidade que outrora o haviam agredido deliciosamente.

O homem, de mente criativa usou de toda sua força e pegou-a no colo, sabia que mais uma vez a estória entre aquelas quatro paredes deveria ser diferente, sempre diferente.

  Zeni sentiu-se envolta por toda destreza e volúpia daquele homem, voraz e tentador. Cravou os dentes nos lábios inferiores dele, aquele gosto ela conhecia bem. Julio experimentou a dor lasciva e mista que invadia seu corpo e por fim a beijou.

  Aquele seria apenas o inicio de mais uma noite incrível...

...

 
  O dia amanhece de muitas maneiras para as pessoas. Uma hora você é um escritor famoso, outrora um garoto prodígio, ou quiçá seja apenas um sonhador. Talvez apenas um menino sozinho no mundo, ou quem sabe, uma jóia rara, um cristal eterno. Talvez você tenha um dom, ou seja um verdadeiro Don Ruan. A verdade é que entre tantos pseudos, tantos atores e autores, tantas verdades e mentiras... ah, somos mesmo simples humanos brincando de Deuses, criando mundos, ilusões, criando personagens, mitos. Somos um amontoado de idéias, uma idéia de um amontoado.

  O que verdadeiramente não sabemos é que tudo é um maldito plano do demônio. Um maldito plano do demônio...

...

 
  Faby estava sentada a soleira da porta, extasiada. Precisava de mais do que um drink, muito mais do que um gole de vinho. Há tantos anos querendo ser uma vampira, tantos anos sendo pura solidão. Ergueu suas mãos à cabeça, agitou os cabelos como uma louca, massageou as têmporas e sentiu a dor latejante ser levemente acalmada pelo toque de seus dedos.

  A baiana, tão longe de casa, soltou um suspiro sombrio, seu olhar era algo próximo ao indecifrável. Os lábios da morena sensual, molharam-se ao serem refrescados por seus pensamentos inquietos, o libido chegou atenuante, nada podia contê-la, nada...

...

  Ele ainda era apenas um garoto, sua mãe o havia
proibido de escrever há tanto tempo. Mas ela não sabia o que fazia. Graco estava confuso, sempre esteve. No recanto, em seus textos aterrorizantes, sempre pôde descarregar todos seus desejos mais insanos. Sempre que escrevia sentia uma enorme dose de stress sendo descarregada nas linha tênues daquele texto.

  Ah se elas arrebentassem e de repente tomassem vida. Ah se o sangue fosse real. Ele sempre quis saber como era o gosto da dor, como era o cheiro do medo, afinal qual era o tom de um grito alucinante e desesperado.

  Já faziam cinco anos que estava proibido de escrever. As coisas só pioravam, desde que sua mãe havia descoberto aqueles textos e o obrigara a participar de grupos de auto-ajuda, psicanálise, terapia, ela não sabia o mau que estava fazendo. O tempo parou para o garoto, tinha vinte anos, mas parecia ter ainda os mesmos quinze...

  Era o fim da opressão...

 - Que se dane Hitler! Dane-se Deus! Dane-se o mundo! Maria, Maria, Dane-se você também! – O garoto gritava enquanto sua mãe estava amarrada no chão.

 Ele torturou friamente a mãe. Amarrou-a no chão, mãos e pernas esticadas. Furou os olhos dela, jogou ácido neles. Brincou sadicamente com a lamina cortante da navalha que roubara do barbeiro, cortou-a com desdém. O álcool queimou as feridas e a voz dela. Ela estava amordaçada. Gritos mudos, murmúrio...  gemidos. Apelos sem fim. Graco olhava para a mãe enquanto sorria, cruel e com um olhar incrivelmente mórbido.

  A mãe sentia tanta dor que urinava e defecava pelas calças enquanto ele pegava o mesmo ácido e jogava dentro da garganta dela, matando – a afogada com aquele ingrediente final.

  Logo ela morreria, logo... logo...

 Enquanto isso o garoto saiu correndo pela rua, descalço. Teimoso e mal criado, deixou sua mãe gritando sozinha dentro de casa. Ele nunca mais voltaria lá...

...

  Felipe sempre sonhara com Jennifer, mas ela, ela tinha dado um fora nele depois de ter lido um texto de terror que ele a havia oferecido.

  Maldita vida. Ele agora era um maldito drogado, um sonhador, nada mais que isso. Sonhava o tempo todo com ela. O sexo para ele era algo solitário, um banheiro, cinco dedos e uma boa dose de sua fértil imaginação. Afinal, ele sempre foi bom nisso.

  Mas agora, tudo tinha ido pelos ares, tudo! Aquela ultima sexta feira havia recebido a pior noticia de sua vida. Sua Jen havia batido o carro a caminho da lua de mel. Mas seria mesmo essa a pior noticia?

  Não! Ele estava feliz, afinal, que o maldito e ela vão para o inferno. O nome do esposo era Marcos, Marcos Ruan. Ambos estavam mortos. Felipe estava sentado no sofá, havia uma mesa de vidro a frente dele. Ele olhou para carreira de pó branco que se estendia, dançante e convidativa à sua frente.

 - Ah merda! Que merda, Jen! Eu vou foder com você! – E ele então começou a se masturbar. Tirou seu pênis para fora e ao som de metálica, tocando no rádio, The Four Horsemen, ele fechou os olhos.

   Quando chegava ao ápice de sua relação no mínimo estranha consigo mesmo, sentiu seu pênis ser decepado. A dor chegou de maneira irredutível. Ele caiu de joelhos enquanto o sangue esguichava do cotoco que restava entre suas pernas. Abriu os olhos e viu os seres amaldiçoados que estavam a sua frente.

    Jen estava com o buraco no crânio, ele lembrara bem do relato. Ela fora jogada para fora do carro, caiu com a cabeça no asfalto, morrendo por traumatismo craniano. Havia ficado irreconhecível. Marcos, por sua vez estava de mãos dadas com ela, estava aparentemente menos sombrio, a não ser pelo seu pescoço quebrado, retorcido. Era a visão do inferno.

  Felipe não suportou aquela imagem, tampouco a dor ao notar nas mãos de Jen um pedaço do pára-brisa do carro. O caco de vidro que o decepara. Jen e Marcos riam sarcasticamente. Eles gargalhavam da situação.

  O viciado simplesmente correu feito um louco, sentindo o sangue brotar de seu saco e pulou a janela, saltando em direção a sacada do oitavo andar.

A descida foi uma verdadeira viagem.

...

  Zeni e Julio haviam feito sexo à noite inteira. Do lado da cama a garrafa de vinho seco. Eles estavam apagados. Os espiando, dois homens. Seus nomes eram Donnefar e Leônidas Grego. Ao redor deles um circulo de fogo, uma estrela de cinco pontas e um amontoado de velas negras acesas.

  Em uma tigela no chão, sangue, e duas galinhas pretas mortas, uma para cada um. Estavam com suas cabeças cortadas. Leônidas sorriu ao ver os dois pombinhos amarrados ali, estavam um sobre o outro, começavam a acordar.

  Zeni despertou primeiro, estava despida, ambos estavam. Ela tentou se desvencilhar, mas estava presa, ele por sobre ela. Julio enfim acordou, assustado e confuso.

  Leônidas começou a cantar uma canção sombria, em um idioma pouco utilizado. Era latim, mas era algo satânico. Por fim ele disse:

 - Está feito!

  Donnefar cravou o punhal nas costas de Julio, a lâmina atravessou a pele do amante e por ultimo perfurou o coração da linda, Zeni. Don ainda girou o punhal, o que fez com que o metal se revirasse no âmago do casal. Ambos morreram ao som do ritual macabro, num grito abafado e melancólico, enquanto em uníssono ouvia-se um derradeiro suspiro, o ultimo suspiro de dois amantes incondicionais.

 - Perfeito, Leo – Disse Don – Cinco anos tramando isso e agora só falta mais um ingrediente – ele sorriu – O idiota do Graco torturou a mãe, graças aquela ligação, que bom que a convencemos de que o filho estava ficando perturbado – Leônidas concordou com a cabeça – Felipe foi ainda mais fácil, após termos matado a namorada dele, e com seu poder de conversar com os mortos, alertando-os de que ele ficava se masturbando pensando nela, como foi bom apresentar ela ao Marcos e usar aquele conto estúpido dele para separá-los.

 - Realmente fomos muito espertos, mas melhor ainda foi ver Julio e Zeni mortos como Romeu e Julieta, duas almas puras sendo sacrificadas através de um ritual satânico. E agora o grande final...
 
...
 
 - Olá garotão – ela disse olhando para o homem a sua frente. Ele já tinha trinta e cinco anos, a calvície já tomava parte de sua cabeça, a testa ficara maior ao longo daqueles cinco anos. O homem olhou apavorado para a imponente mulher.

 - O que você quer? – ele perguntou enquanto olhava para roupa funesta que ela vestia. A morena corpulenta, de lábios sedutores, de olhar inexpressivo, olhava-o no fundo dos olhos.

 - Você nunca fez nada. Tentei por muito tempo ser algo mais do que um ser cheio de solidão. Tentei amar as pessoas, tentei amar minhas filhas, mas elas foram tiradas de mim e agora eu tenho tudo que quero. E escolhi você, Sidney Muniz. Um homem que adora escrever sobre a morte, que tantas vezes criticou os textos dos colegas, ah – ela suspirou – você sempre se achou melhor que muitos ali – ela caminhava enquanto Sidney rastejava pelo chão, estava completamente apavorado – eu matei sua esposa, matei seus filhos, quebrei três pescoços, sem derramar uma gota sequer de sangue, não resistiria a sede – Faby abriu a boca, ela salivava – e agora – ela parou e passou a língua pelos dentes, mordeu os lábios sensualmente – você sempre adorou dar vida a monstros, a assassinos, pois bem – ela então avançou contra ele - faça sua parte!

"Em pensar que aquele sangue que Leônidas e Donnefar deram a ela pudesse transformá-la realmente em uma vampira, quem seria esse amigo que havia dado aquele sangue amaldiçoado para eles?" Ela pensou.

  Seus caninos cravaram no pescoço de Sidney, só restava beber sangue inocente para concluir a maldição. Faby se transformara enfim em uma vampira enquanto o autor do Jogo da Forca estava morto.

 ...

 - Bem, agora está feito – os quatro crimes hediondos que precisávamos para nos transformarmos em demônios – Concluiu Don antes de sentirem a presença do ser que se aproximava enquanto a escuridão era cada vez mais densa, como uma nuvem zombando daquele lugar.

  Don e Leônidas entreolharam-se e riram maliciosamente, enquanto o ser enorme simplesmente surgiu à frente deles. A criatura de pele escamada, no tom avermelhado vivo da própria carne, estava de pé. Asas gigantescas como as de um morcego desproporcionalmente crescido, e dois chifres enormes como os de um boi zebu. O diabo os olhava com seus olhos vermelhos, a fumaça saltava de sua pele, enquanto o cheiro de enxofre se dissipava no ar.

 - Então conseguiram – E o diabo os falou com a voz demoníaca que possuía.

 - Sim, mestre queremos servi-lo! – ambos disseram.

 O diabo deu uma gargalhada sádica, sabia bem o que aqueles idiotas queriam. Ele não era Deus para ter um filho ou alguém do lado dele, não mesmo. O diabo sorriu simpaticamente para ambos, isso se tal sentimento ou carisma sequer pudesse ser esboçado por aquele ser. Olhou paras duas novas almas que ganhara de Deus, voltou seus olhos para o céu e cuspiu uma gosma nojenta e fétida.

 - Isso é para você, antigo pai – disse Lúcifer – mais uma batalha vencida. A guerra logo acabará!

Agora ele imaginava o que fazer com aquelas almas, pobres almas...

Fim!



Leiam...

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Sejam sempre bem vindos!
Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 28/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
Código do texto: T4110620
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