O ATIRADOR DA UNIVERSIDADE - Parte Final

Robert desceu pela escada e puxou a tampa do esgoto. Lá dentro escuridão total e um cheiro insuportável. Robert havia servido no exercito e já tinha passado por situações difíceis. Sabia que ao menos ali, seria muito difícil encontrar algum contaminado. Andou então, tateando no escuro as paredes frias e fétidas do esgoto. De vez em quando pisava em algum rato.

Robert andou por um bom tempo até encontrar um local seco onde deitou e passou a noite. Ouvia vez ou outra o barulho de carros pelo bueiro localizado um pouco acima do local onde decidiu passar a noite. Deitou mas não dormiu pois seu instinto de sobrevivência e sua experiência como militar lhe diziam que não podia se dar ao luxo de descansar ali tirando uma boa soneca. Tinha certeza que fazer isso era arriscado demais, mesmo ali, no meio de ratos e de toda a sujeira do esgoto.

Refletiu então que fora atraído para uma armadilha no prédio e que depois havia visto o conhecido Simon ser atraído para outra. Concluiu então que os contaminados eram organizados socialmente e também inteligentes. Analisou também que talvez tivessem algum tipo diferente de comunicação, talvez por telepatia visto que quase não emitiam som e quando o faziam eram gritos agudos ou guinchos parecidos com o de animais e que não constituíam uma linguagem adequada para comunicação entre seres inteligentes. Ficou pensando que aquelas coisas não eram dali mas de onde teriam vindo? do espaço ou de algum lugar do planeta terra que ainda não tivesse sido totalmente explorado pelo homem?

Passou a noite assim, pensando e tentando recompor as forças. Viu o sol raiar pela pequena passagem de ar do bueiro e então resolveu sair dali. Concluiu que tinha que sair daquela cidade e ir para o mais distante possível, preferencialmente, para algum lugar isolado e desabitado. Não acreditava que a situação estivesse diferente em outras cidades. Entretanto, algo não o deixava partir. Sentia que tinha que ficar ali e procurar o Dr. Kimbal já que tanto o conhecido Simon quanto o médico da pequena cidade no deserto haviam citado o nome deste homem e ele parecia ser a chave para se entender a origem de todo aquele pesadelo.

Tratou então de sair dali procurando uma saída entre os túneis do esgoto. Caminhou algum tempo até que chegou a uma grande galeria onde sentiu um cheiro diferente, forte, o cheiro de corpos em decomposição. Viu então horrorizado dezenas, talvez centenas de corpos que deviam estar ali há algumas semanas. Adultos, jovens, crianças, mulheres, homens, todo o tipo de pessoa estava ali morta. Robert teve então uma ideia melhor de quando a contaminação havia começado e teve certeza que a cidade já estava sendo contaminada quando viajou para a casa de sua cunhada e concluiu que fora chamado para uma armadilha.

Seguiu por um canto, passando por cima dos corpos até que alcançou o outro lado da galeria onde havia um túnel por onde seguiria sua procura pela saída. Então ouviu um gemido de dor entre os corpos. Sentiu um calafrio na espinha e se virou para ver se não havia se enganado. Ouviu novamente o gemido e então sacou a arma e engatilhou. Se aproximou com cuidado e viu um braço emergir no meio dos corpos e um gemido mais forte, acompanhando de um pedido de ajuda.

Robert sentiu o sangue gelar e se aproximou perguntando quem estava ali e não acreditou na resposta que receber. Kimball, Dr. Kimball.

Robert se aproximou rapidamente e observou com cuidado o homem que se chamava Kimball. Era um homem velho, beirando os sessenta e poucos anos e estava vestido com um jaleco branco e usava um crachá onde se lia o nome Dr. Robert Kimball, Centro de Pesquisas Biológicas - Nasa, Diretor de Pesquisas.

Robert então, ainda desconfiado por tudo o que há tinha passado, alertou ao homem que se dizia Kimball que se tentasse alguma coisa seria morto. O homem então respondeu, após vomitar um pouco de sangue, que não iria tentar nada e que só queria ajuda para sair dali e ter uma morte com um pouco mais de dignidade. Em seguida, vomitou novamente uma grande quantidade de sangue.

Robert sentiu que era mesmo o Dr. Kimball e que ele estava morrendo. Só então vi um grande ferimento no abdomen e estomago. O Dr. Kimball perguntou quem ele era e Robert respondeu e explicou rapidamente como havia ido parar ali.

Dr. Kimball disse que era de uma divisão de pesquisas da Nasa e que os visitantes, como ele chamava os contaminados, estavam já há algum tempo convivendo com a humanidade mas não tinham vindo do espaço como se pensava. Talvez já estivessem aqui antes do aparecimento do próprio homem. Acrescentou que não sabiam ao certo de onde haviam vindo apesar de ter lido estudos feitos pela URSS que diziam que os visitantes haviam vindo do interior da terra. Sabiam que os visitantes se alimentavam de luz solar e eram inofensivos nos primeiros anos. Se adaptaram rapidamente e viviam em pequenas comunidades isoladas em vários países, nos quatro continentes. Não criavam problemas e o governo de cada país e a ONU os acompanhava de perto. Entretanto, a partir dos anos 80 começaram a chegar em maior número e se espalhar primeiro por toda o continente americano e depois Europa, Ásia e por fim África. A água era mortal para eles. Nos últimos anos começaram a substituir pessoas e então os governos do mundo começaram a monitoramos bem de perto, muito mais do que antes. Verificaram que os visitantes haviam assimilado pequenas comunidades isoladas completamente, assumindo o lugar as pessoas. Então os governos começaram a se preocupar com isso e principalmente quando descobriram que eles estavam agindo para acelerar o aquecimento global no planeta e reduzir as fontes de água. A ONU e os principais governos então decidiram agir rapidamente, eliminando os visitantes nos centros onde estavam se estabelecendo. Bósnia, Iraque, Líbia, Afeganistão, Somália, em todos esses países a desculpa adotada pela ONU foi sempre a mesma, guerras, revoltas, revoluções que precisavam ser combatidas em nome da liberdade e dos direitos humanos. Apenas uma desculpa para genocídio em massa dos visitantes. A situação por alguns anos parecia ter sido resolvida. Mas agora eles tinham voltado e estavam dando o troco, estavam eliminando a humanidade.

Dr. Kimball acrescentou que houve um tempo em que eles estiveram quase desaparecidos por completo mas que nos últimos dois anos eles haviam reaparecido e assimilado pequenas cidades inteiras rapidamente, em poucos meses. O governo mandou equipes para avaliar a situação um pouco melhor dessa vez, ao invés de simplesmente mandar o exercito fazer outro genocídio. Queriam entende-los melhor para sua solução mais eficiente e quem sabe descobrir de onde ele vieram. Assim equipes foram enviadas para todos os grandes focos de contaminação, por todas as cidades, nos quatro cantos do mundo.

A equipe do Dr. Kimball havia sido massacrada numa pequena cidade no deserto, distante poucas horas dali.

Robert perguntou por que o governo ainda não havia feito alguma coisa. Kimball respondeu que tinha certeza que havia contaminados entre o próprio governo e que a imprensa estava escondendo informações. De cidade em cidade, eles estavam tomando toda a costa leste do país. Na Europa não era diferente, pois havia indícios de infestação na França, Itália, Alemanha, Bélgica e todo o leste europeu. A Inglaterra tentava se isolar para se proteger mas isso era realmente difiicil em um mundo globalizado.

Eles estavam simplesmente substituindo as pessoas e assumindo o lugar delas, vivendo suas vidas quase que normalmente. Kimball disse que em uma de suas últimas ligações recebeu a notícia de agentes da inteligencia que os contaminados talvez estivessem se infiltrado no alto escalão do governo russo e que isso era muito preocupante. Robert respirou fundo.

Kimball cuspiu sangue da boca e prosseguiu dizendo que a contaminação era rápida mas ainda não tinham decifrado a forma de contaminação. Tinham feito estudos e exames mas não havia um padrão. Na maior parte das vezes as pessoas eram assimiladas em poucas horas, em outros casos em alguns dias e em poucos casos em pouco mais de uma semana. Os que se rebelavam ou que resistiam a contaminação eram mortos de forma violenta, até primitiva. Acrescentou que os contaminados tinham inteligencia muito elevada e eram muito organizados e metódicos. Planejavam cada passo com maestria e perfeição. Robert respondeu apenas dizendo que sabia disso.

No entanto, apesar da violência e da invasão, os contaminados faziam parecer que tudo estava certo e que a vida transcorria normalmente, atuando em uma grande peça de teatro para não despertar suspeitas. Buscavam assim uma invasão silenciosa, rápida, mortal e sem resistência da humanidade que estava sendo exterminada rapidamente e em silencio.

Kimball então se sentiu enjoado e então respondeu a Robert que não perdesse seu tempo ali pois sentia que estava morrendo. Acrescentou que Robert devia partir da cidade para um local isolado e tentar alertar as autoridades e a imprensa. Recomendou evitar viajar durante à noite que era quando os contaminados agiam pois preferiam ficar se alimentando da luz solar durante o dia. Se tivesse que fugir era melhor tentar durante o dia.

Robert disse que não iria fugir e que iria expor tudo o que estava acontecendo ali na imprensa. Kimball disse que era um sacrificio inútil pois a imprensa já estava tomada por eles. Mesmo assim Robert disse que iria tentar pois já não tinha mais nada a perder e que as pessoas precisavam ser avisadas. Kimball replico que ele já havia tentado fazer isso, primeiro alertando os seus superiores no governo e depois alertando a imprensa e nenhum dos dois fez coisa alguma para divulgar o que estava acontecendo, mesmo tendo recebido evidencias com fotos, vídeos, etc.

Robert lembrou-se dos videos do amigo Jonas e respondeu que mesmo assim ele iria tentar alguma coisa, ou morrer tentando. Kimball recomendou , falando com dificuldade, que Robert fugisse pelos esgotos e fosse para o mais longe que pudesse. Acrescentou que ele mesmo havia sido substituído por um contaminado e que haviam outros três ou quatro com ele na Universidade pois era onde os contaminados buscavam infectar os jovens que iriam ocupar posições estratégicas na sociedade. Kimball sorriu e disse que eles eram muito inteligentes e estratégicos. Poderiam vencer qualquer guerra, disse tossindo sangue, poderiam ter vencido no Vietnam, no Iraque e na Coréia.

Antes que Robert pudesse responder Kimball sentiu muitas dores no estomago e então cuspiu sangue mais algumas vezes para depois lentamente ir apagando até que por fim morreu ali ao lado de Robert.

Robert deixou ali o corpo do pesquisador e seguiu pelo túnel. Andou por um bom tempo até que finalmente vi uma luz que lhe indicava a saída. Se aproximou com cuidado e sentiu tonteiras e um gosto estranho na boca. Viu então um grupo de pessoas escondido na entrada. Crianças, mulheres e velhos assustados. Passou por eles dizendo que fugissem durante o dia pois os contaminados se alimentavam da luz solar e que só caçavam durante a noite. Seguiu descendo o túnel até chegar a uma grande galeria pluvial para escoamento de esgoto. Subiu as escadas e para sua surpresa viu que a cidade estava movimentada com pessoas andando pelas ruas e vários carros andando, embora ainda fossem poucos.

Robert compreendeu que tudo aquilo era um grande teatro. Os contaminados haviam assimilado as pessoas e agora viviam a vida delas. Robert pode ver alguns deles tomando sol, em silencio, olhar vazio, como zumbis se alimentando da luz solar. Robert seguiu andando e notou que nenhum deles parecia notar sua presença e os que andavam pelas ruas apenas olhavam para Robert e seguiam adiante.

Robert sacou a arma e se aproximou de uma mulher muito bonita que abria a porta do carro. Quando a mulher notou a aproximação de Robert a mulher olhou para ele de modo estranho ao que Robert não vacilou e disparou na cabeça ao que a mulher caiu. A multidão continuava seu caminho e apenas alguns homens pararam e começaram a andar em direção a Robert em silencio, olhar vazio ao que Robert rapidamente entrou no carro da mulher e partiu em velocidade para a Universidade.

Chegou rapidamente à Universidade e notou dezenas de alunos parados em frente à Universidade tomando sol em silencio. Robert se dirigiu à recepção onde se informou sobre a localização do departamento onde o Dr. Kimball trabalhava e foi informado da localizaçao ao que disparou na cabeça do funcionário que deu um grito estranho e caiu morto.

Robert correu para dentro da Universidade e disparou matando todos os alunos que via pela frente. Parou na porta de um grande salão e recarregou a arma. Seguiu disparando em cima dos alunos, sempre na cabeça.

Robert então voltou até o momento presente e ouviu a policia tentar contato com ele para negociar a libertação dos reféns. Ao seu lado um falso Dr. Kimball tentava ganhar tempo. Robert sentiu o pulmão cheio de sangue e o Dr. Kimball disse que não devia se preocupar pois logo tudo aqui acabaria. Prosseguiu dizendo que os europeus e os colonos americanos haviam feito o mesmo com os índios e que eles agora queriam apenas poder conviver neste mundo e se alimentar do sol. Robert olhou para o Dr. Kimball e fez sinal que havia entendido que o Dr. Kimball era um contaminado.

Robert então disparou matando os outros alunos que ainda estavam na sala. Dr. Kimball se levantou e pediu, sem expressar nenhuma emoção, que Robert parasse com o massacre pois todo o processo era inevitável. Disse que estavam no planeta havia muito tempo e que da mesma forma que havia sido com os dinossauros e com o homem agora havia chegado a vez deles dominarem o mundo mas que os humanos poderiam participar e compartilhar o mundo com eles.

Robert olhou para Dr. Kimball que estava imóvel, em silencio e respondeu que havia visto nos esgotos da cidade a forma como os contaminados haviam compartilhado o mundo com mulheres, crianças e velhos e incapazes. Ao que o Dr. Kimball soltou um grito e avançou para Robert sendo atingido na cabeça.

Robert agora estava só. Ouviu passos na escada e os policiais se aproximando e então começou a perder a visão das coisas, sentindo u gosto estranho e muito forte em sua boca, alem de não se lembrar direito das coisas e concluiu que ele mesmo talvez já estivesse contaminado. Olhou o sol pela janela e sentiu um prazer indescritível ao se aproximar dos raios de sol que entravam pela janela. Era como se o calor dos raios lhe dessem uma energia e um prazer que nunca antes havia sentido em sua vida.

Robert se levantou então e foi se arrastando para a janela onde pode sentir os raios de sol mais abundantemente e ouvi os policiais chegarem e o ficarem olhando em silencio sem se importar com os corpos dos contaminados mortos no chão, entre os quais, o que havia assumido o lugar do verdadeiro Dr. Kimball.

Robert ficou ali por um longo tempo, saboreando o calor gostoso dos raios de sol e se sentindo renascido, com energia, se sentindo como não se sentia desde os anos distantes de sua adolescência. O gosto estranho na boca havia desaparecido, o cansaço, a fraqueza, a falta de energia, as dores se foram. O sol era como se fosse uma droga e fazia Robert se sentir vivo como nunca havia sentido antes. Os raios de sol fechavam rapidamente suas feridas, suas dores no joelho desapareceram, estava agora totalmente relaxado e se sentindo muito bem. Tudo o que importava agora era ficar ali recebendo seu precioso alimento e renovando seu novo corpo. Já nem se lembrava do que havia acontecido nos últimos dias e só queria agora era ficar ali em silencio e sentindo o calor revigorante do sol em seu corpo.

Então num instante pegou o celular em seu bolso. Voltou a si e estava meio confuso e tonto mas consultou a lista de mensagens do celular. Havia uma mensagem com vídeo, sua preferida, que havia sido enviada por sua esposa e seu filho dizendo que o amavam e lembrando o passeio que fariam juntos nos finais de semana. Lembrou-se então que era um dia especial que havia prometido a sua esposa e seu filho que iriam todos passear nas montanhas.

Então, de súbito se lembrou de sua família ao que sentiu ouvir vozes em sua mente, o chamando pelo nome, vozes de pessoas que estavam ali com ele, os policiais que o observavam calados e em silencio e que tentavam acalma-lo dizendo que isso tudo passaria com o tempo. Robert ouviu também outras vozes vindas de fora dos prédios da Universidade como se estivessem lhe dando boas vindas.

Robert então se voltou para a porta onde estavam os policiais em silencio, olhar vazio, sem emoções, sem sentimentos e sem expressão nenhuma no olhar, e apontando a arma para sua cabeça sorriu gostosamente para os policiais e apertou o gatilho pondo um fim em sua vida.

Mas tarde o Pres. Barak Obama apareceu em rede nacional que lamentava o ocorrido na Universidade onde um homem havia assassinado à tiros de pistola, pelo menos 32 pessoas antes de se suicidar com um tiro na cabeça. Prometeu então acelerar o trabalho para restrição de porte de armas para a população, com novas restrições o que iria garantir proteção nas Universidades e escolas dos EUA contra o que chamou de terroristas domésticos.

FIM

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 26/01/2013
Reeditado em 26/01/2013
Código do texto: T4105570
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