Águas Macabras
I
As nuvens traziam a notícia de que uma tempestade se aproximava, o mar agitado começou a gerar ondas gigantescas que batiam forte no casco de um pequeno barco a motor que ali se encontrava.
Demóstenes estava navegando sozinho e carregava consigo uma garrafa de Uísque. Depois de alguns meses no mar, a aparência do homem estava completamente diferente, antes tinha os cabelos curtos e a barba bem feita, agora os pelos de seu corpo eram longos e sujos, sua pele morena estava ainda mais escura devido a camadas de sujeira.As unhas amareladas completavam a visão digna de um morador de rua.
Apesar de todas essas adversidades, o marujo estava feliz. Depois de tanto tempo sentia que finalmente estava próximo da cidade perdida de Atlântida.Sempre teve o sonho de desbravar terras esquecidas e desvendar segredos antigos.
Essa obsessão por fantasias acabou acarretando em uma adolescência muito solitária. Como não tinha amigos o seu único passatempo era ler e ele fazia isso compulsivamente, Verniano fervoroso declarava que iria viajar até o centro da terra e descobrir um mundo inteiramente novo, de vez em quando comentava sobre as possibilidades de fazer uma viagem ao redor do mundo em 80 dias.
Seu prazer pela leitura e aventuras era tão intenso que aos vinte e três anos decidiu que iria encontrar a cidade de Atlântida nem que para isso tivesse que percorrer o mundo inteiro. Pediu demissão do emprego de editor e utilizou as finanças para comprar uma embarcação.
Quando virou o leme para a esquerda escutou algo além dos trovões e do barulho das ondas, parecia choro humano. Imediatamente fechou os olhos e tentou escutar melhor aquele som que crescia a cada momento, definitivamente era uma mulher chorando!
Abriu os olhos e olhou para os lados, encontrou uma moça boiando em uma tábua. ”Se ela continuar no mar assim vai morrer” era o que pensava, quando guiava o barco até ela e retirava a mesma da água.
A mulher era muito bonita. Cabelos negros muito longos lhe caiam sob o corpo completamente nu.”E que corpo..tudo tão perfeito”
-O-Obrigada por me salvar. A voz da menina estava falha e fraca, parecia que tinha engolido muita água.
-Não podia deixar você lá para morrer! Como é seu nome? Tome se cubra com isso. Demóstenes tirava sua camisa e entregava a moça, enquanto olhava cada detalhe de seu corpo.
A paixão foi imediata.
II
Então você não se lembra de nada antes de ver meu barco? Nem mesmo de seu nome?Perguntou Demóstenes, depois de ter servido o jantar.
-Não, eu não me lembro de nada!Disse a garota, e logo voltou a chorar.
Demóstenes abraçou a menina e começou a acariciar seus cabelos, enquanto pronunciava palavras de conforto. ”Pobre garota, está fudida mesmo” era o que pensava.
A mulher não se lembrava de nada antes de ser resgatada, dizia que simplesmente acordou boiando na tábua de madeira e começou a chorar, estava com medo e fome.
-Você é um anjo, muito obrigado.
-Eu apenas estava no lugar certo e na hora certa... Escute, você vai precisar de um nome.Tem preferência por algum?
-Não sei.. escolhe você.A moça se aninhava cada vez mais nos braços do marinheiro, ainda vestia a camisa emprestada por ele.
-É.. Éhr..Que tal sereia? Encontrei você no mar e tudo mais...
-Amei!Sereia começou a dar leves beijos no pescoço de seu salvador e logo estava fazendo carícias em seu peitoral. Ela não parecia se incomodar com os pelos excessivos ou com a sujeira.
Toda aquela situação estava deixando o homem nervoso. Devido á solidão quando criança tinha dificuldades em se socializar e por isso resolveu trabalhar em casa como editor.O emprego proporcionou uma boa situação financeira, mas sua vida social continuava restrita ao círculo familiar.Como consequência dessa precariedade de comunicação, nunca conseguiu uma namorada nem nunca deitou-se com uma mulher.
Foi só quando ela tirou a blusa que o solitário rapaz percebeu o que iria acontecer. Não sabia como agir , mas parecia que ela sabia o que estava fazendo e logo os dois estavam entregues ao prazer e a luxúria.Cometiam atos que fariam devotas os condenarem ao inferno.
III
-Já te disse que você é linda?
-Só umas cinco vezes hoje.. Bobinho
Demóstenes pulou do cais do barco em direção à água. O líquido fluía,quando molhado o homem parecia um macaco magro.
-Por que você nunca toma banho comigo?
-Éhr.. eu tenho medo da água.O descontrole era evidente na voz da mulher, parecia que ela tinha medo daquela pergunta. “Talvez ela tenha ficado traumatizada” era o que pensava o homem, enquanto dava mais um mergulho.
Haviam se passado duas semanas desde a primeira relação afetiva entre ambos e eles iniciaram uma relação amorosa desde então. Apesar do pouco tempo, pareciam que se conheciam a anos e conversavam sobre as mais variadas coisas, aos poucos a memória da menina foi voltando e ela começou a ter lapsos de recordações.
-Está acontecendo de novo! Estou vendo um barco.. maior que o seu.Foi o que disse Sereia, enquanto fechava os olhos.Sempre fazia isso quando estava se lembrando de algo.
-E o que mais? Me diga!
-Não sei.. está tudo tão confuso.Acho que tinha somente um homem nele, ou uma mulher..Realmente não sei.
-Tente se lembrar!
Naquela altura o aventureiro já tinha desistido de encontrar Atlântida, tudo o que importava para ele era e menina e as noites ao lado dela. Todos os dias, quando o sol se punha, os dois seguiam até uma ponta do barco e faziam amor a luz do luar.
Ele a desejava com certo exagero, não pensava em outra coisa a não ser naquela mulher e no seu corpo!
Certo dia estava guiando o leme quando ela o abraçou por trás, começou a cheirar seu pescoço e a fazer perguntas sobre o local onde estavam.
-Bem, segundo meu GPS estamos na região do triângulo das bermudas. Disse, rindo.
-O que é tão engraçado?As carícias estavam ficando cada vez mais intensas, arranhões e mordidas eram proferidos.
-Bem.. sempre falaram que essa é uma região onde os marinheiros desaparecem misteriosamente..onde eles morrem.E foi aqui que eu encontrei você!
-E como você garante que não sou eu que faço os marinheiros desaparecerem?Dizia ela, enquanto começava a morder mais forte o pescoço do homem.
-Você não.. ei, pare! QUE PORRA VOCÊ TÁ FAZENDO? Demóstenes empurrou sua amada e levou a mão até o pescoço, uma camada de pele estava arrancada e uma grande quantidade de sangue estava brotando da ferida.
-O meu trabalho, docinho.. só o meu trabalho.A versão da que falava aquilo era totalmente diferente da conhecida.Os cabelos estavam ainda mais longos, juntamente com as unhas.Escamas se espalhavam por todo o seu corpo.
-O QUÊ? QUE MERDA É ESSA EM VOCÊ? O homem tentou correr, mas acabou tropeçando e caiu no chão. O medo dominava todo o seu corpo e suas costas começaram a ser arranhadas profundamente pelas garras do monstro.
-Há mais de mil anos eu seduzo os que se atrevem a viajar no triângulo das bermudas.. Sou eu que dou um sumiço em todos.Dizia ela, enquanto cravava as unhas no tórax do homem e puxava as mãos com violência, trazendo nelas pedaços de pele.
-PARA, POR FAVOR, PARA! Gritava o rapaz enquanto o sangue brotava de enormes lacunas em suas costas. Era possível ver pedaços da coluna vertebral e algumas costelas, o pulmão direito contraia-se ao alcance da visão.
-Sabe.. acho que você foi o que eu mais demorei pra matar.Geralmente eu uso meu canto e dou um fim neles no mesmo dia.Mas sua imbecilidade acabou me fazendo ter interesse..
A retaliação parecia não ter fim, o monstro estava quebrando as costelas da vítima uma por uma, apenas para escutar os gritos de agonia e ver o sangue espichando.
-O-O-O que é v-v-oce?As palavras saíram fracas, o fim estava próximo.
-Uma sereia. Irônico, não?
Estas foram as últimas palavras que o pobre marinheiro escutou, depois disso teve sua cabeça penetrada por diversas unhas que atravessaram o crânio e ficaram expostas através dos olhos.
Depois de comer a carne a sereia jogou os ossos no mar.. Estava na hora de voltar até a tábua, outro marinheiro estava chegando.
FIM
Sinceridade nos comentários ^^ Aguardem novidades