O Amigo Imaginário
Quando eu era criança, possuía muitos amigos imaginários, muito provavelmente por ser uma criança muito solitária. Todos os dias, na hora do jantar, fazia minha mãe por um prato a mais na mesa para um deles comer, o mais velho e mais amigo de todos.
Engraçado como apesar de minha mãe pôr sempre o prato na mesa, era eu que tinha que servir a comida e sempre às escondidas. Eu pedia para ela servir o Anselmo e ela sempre me dizia:
- A comida está no prato dele, querida. É só você enxergar.
Eu então olhava para Anselmo e via a negativa dele. Quando minha mãe se descuidava, tirava um pouco da comida do meu prato e colocava no prato do meu amigo. Ele tratava de comer rapidamente, deixando o prato impecável como se quer houvesse sido utilizado. Daí então ele ia embora e logo cedo no outro dia voltava.
Os anos passaram e eu cresci. Os amigos imaginários sempre vão embora depois de uma certa idade. Anselmo também se foi.
Eu me casei e até o momento tenho apenas uma filha.
Todos os dias no jantar, ela me pede para pôr um prato a mais na mesa para que um amiguinho seu se sirva. Aí então, ela me pede para servi-lo.
Ao contrário de minha mãe, eu de fato ponho comida no prato a mais da mesa. Minha filha então pede para que eu me vire, pois ele tem vergonha de comer na minha presença. Eu me viro e só volto quando ela autoriza e sempre me deparo com o prato limpinho e impecável, como se quer tivesse sido utilizado e com a mão de minha filha acenando para o vazio. Então eu sorrio e tiro o prato da mesa, guardando-o no lugar de sempre pronto para a próxima noite.
Acho que depois de todos esses anos, Anselmo finalmente voltou.