Carta de um vampiro - Capítulo II - Uma misteriosa e bela Vampira

Caminhando em meio à negra noite estava Sophie, uma jovem, de olhos esverdeados e andar solitário. Olhando para os lados ela não entendia como aquela cidade poderia não saber o que deveras a rondava. Baixou os olhos e viu o piso calçado, aquele de pedras arredondadas, as quais seus sapatos tocavam. Sentiu a mudança de quando esteve ali da primeira vez, há mais de oitenta anos.

Sophie olhou os casarões que a cercavam, rústicos, mas de uma beleza incomum, ao menos aos seus olhos, visto que a arquitetura, os detalhes, o estilo colonial e as cores e tons eram verdadeiramente sombrios.

Mitos e lendas cercavam os muros da cidade, mas o que eles não podiam enxergar, ou tampouco entender, era que num breve intervalo de tempo, as lendas e mitos seriam os habitantes incrédulos daquela urbe.

Trajando um belo e vestido negro, um véu que lhe cobria o rosto e luvas que relutantes insistiam em aquecer aquelas mãos frias. A deserta rua, sob olhar da lua acinzentada e sob a sombra das nuvens densas que sombreavam parte da claridade da cidade.

Um homem passou por ela, deixando seu cheiro, circulando, adentrando em suas narinas enquanto sua boca enchia d’água. Seus olhos quase mudaram de cor, trepidaram enquanto ela cerrava seus punhos buscando o autocontrole que ainda existia em si. Engoliu em seco, sentindo o gosto suave do sangue que sequer a tocou e dobrou a rua à esquerda.

Ouviu as batidas desesperadas das asas do rato pássaro que tantos assemelhavam a sua raça e sorriu por tal absurdo, como se toda aquela estória fantasiosa fosse possível. Alho, cruzes, água benta, era ridículo o que todos achavam. Ela sorriu e segurou firme a cruz de bronze que carregava em seu peito, fez uma oração, a mesma que sua mãe havia a ensinado quando criança e então o viu.

Ele abraçava uma mulher, outra bela jovem. Dava para sentir o coração dele, pulsando como o resultado de um trem que trafega pelos trilhos, vivo, amante e sensato. Uma máquina eterna, que carregaria consigo aquele amor por todas as curvas e caminhos por onde passasse. Sophie o olhou enquanto, o casal ria e passava por ela.

As visões às vezes assustam, principalmente quando elas se mostram ser tão reais. Quando passou pela mulher sentiu uma força fora do comum, e descobriu o poder que aquela bruxa tinha sobre ele. Nada poderia mudar o que havia ali.

Emanuelly a olhou, viu Sophie e soube que ela era uma vampira, que aquela era a vampira que iria transformá-lo. A bruxa a cumprimentou com um simples gesto com os olhos, sorriu enquanto ainda o tinha sobre seu doce feitiço. Gregório mal viu Sophie, não se lembraria dela quando a veria no trem, e nunca entenderia aquele amor e tampouco o porquê de matar Emanuelly.

Sophie era uma vampira, descendente de uma família de bruxas, mas a única coisa que herdara de suas ancestrais eram as visões. O Vampirismo reinava em seu sangue. Foi transformada em vampira há muito tempo atrás, e assim permaneceria eternamente a não ser que uma estaca ou um veneno que poucos tinham conhecimento fosse injetado no seu corpo, a estaca, sendo uma das poucas verdades que encontramos pelos contos deveria ser cravada em seu coração. Quanto a luz do sol, aquilo já havia a ferido, mas o feitiço posto na cruz do colar a mantinha imune.

"Dois dias depois"

Sophie agora olhava para Greg. Não podia entender o porquê de sentir algo tão forte por ele, mas sabia que não podia fazer nada a não ser deixar que tudo acontecesse como planejado. Depois de ter sugado todo o sangue da mãe e do garoto, ela agora deixava Gregório agonizando no trem e dali em diante o vigiaria por toda a eternidade. Ele era sua missão.
...

"Cinqüenta e seis anos depois"

A cidade já não era a mesma. Sophie agora usava trajes mais modernos, usava cabelos curtos e a maquilagem cobria sua palidez deixando-a ainda mais linda e sensual do que já fora em vida. Ela estava a porta do cemitério mais antigo da cidade. Olhava a garota que tanto parecia com aquela bruxa que conheceu antes do massacre ocorrido naquela urbe. Famílias dizimadas, corpos dilacerados, uma guerra de clãs, uma luta por sangue e carne, em meio a feitiços e lendas que de repente deixaram de ser fantasia para se tornaram calamidades.

A tragédia daquela cidade só seria esquecida de uma forma, hipnose. E assim tudo voltou ao normal, iludidos os entes esqueceram-se daqueles que perderam, dos que amavam e se tornaram lacaios, escravos dos seres restantes.

Sophie estava no alto de uma árvore enquanto a garota entrava carregando consigo uma mochila que somente pelo cheiro mexia com os desejos de Sophie. Ela se conteve enquanto lutava contra seus próprios sentidos.

A garota seguiu em meio as covas, andou sob olhar atento da vampira e parou de frente a um sepulcro. Havia uma grade a frente dele, e uma placa de letras quase ilegíveis. Mas a jovem tinha certeza que aquele era o tumulo de Gregório, o homem que deixara aquela intrigante carta. A carta que poderia explicar todos os pesadelos que tivera desde a infância.

...

Dentro do caixão de aço Greg adormecia, sua aparência era horrível, mas ele mal tinha forças, vivia em completo sofrimento, não havia como se matar, não havia estaca alguma ali, e tampouco conseguia se mover. Sua pele estava pútrida e seu sangue amaldiçoado e fétido. Estava seco, velho e em decomposição incrivelmente desacelerada pelo veneno amaldiçoado que corria em suas veias. Os olhos jaziam amarelados e remelados, estavam fechados há anos, enquanto ele permanecia numa espécie de coma, preso a lembranças de sua vida, antes de ser mordido.

Gregório sentiu um desejo enorme de repente, assim que o cheiro de Isabelly chegou regado aquele perfume tão excitante e molhado ao que seriam seus lábios. Uma força maior do que qualquer outra o trouxe de volta e ele despertou dentro do caixão, e ainda sem forças mal conseguia se mover.

...

Continua...




Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 18/01/2013
Reeditado em 18/01/2013
Código do texto: T4090815
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