O Psicopata - Prelúdio Para a Morte Na Alvorada- A Festa da lavagem do Bonfim

Uma lua cheia. As nuvens cinzas encobrindo as estrelas. As ruas escuras, becos solitários. O silêncio sepulcral que ali reinava, não lhe deixava com os nervos à flor da pele. Era destemida, foi bem treinada. Bela e armada. Uma 380 na cintura. Uma .40 dentro da botina, camuflada. Um punhal escondido no sutien. Giletes pelos bolsos. Mestre em artes marciais, em especial era uma capoeirista de cordão verde. Seguia da porta da primeira faculdade de medicina do Brasil, passando pela Cantina da Lua até o Largo da Casa de Jorge Amado. Ali, desceu e seguiu passando pelas escadarias da igreja, onde foi gravado O Pagador de Promossas. Passou pelo convento, que hoje era um hotel de luxo. O coração em taquircadia, não pelo medo, o sentimento era outro. Não era uma mulher comum-sabia se defender. Chegou à Cruz do Pascoal. Na rua Direta do Santo Antônio, viu as diversas rotas de fuga que ali oferecia.

Tragou uma cigarrilha, optemperou com os seus botões:

- Cigarrilhas de canela.

Jogou-a no chão e pisou na brasa. Pegou do celular e ligou para o parceiro.

- Quero que me leve para a Oscar Pontes, ali vai rolar amanhã, quer dizer, ainda hoje A lavagem do Bonfim.

- Acha mesmo que ele vai atacar em plena festa? Milhões de pessoas circulando...

- Muitas mulheres bonitas vão estar na festa. Ele não vai aguentar ficar recolhido, ah, não vai não.

De algumas janelas dos sobrados, alguns moradores observavam aquela mulher no meio da rua, com desenvoltura. Alguns pensavam tratar-se de uma prostituta, ou uma turista desavisada. Seria assaltada a qualquer momento. Os sacizeiros se proliferam pela cidade, feito a praga de cafanhoto imposto por Moisés no antigo Egito.

Bela e armada.

- Ei, moça tem um cigarro?

- Não fumo.

- Vi quando jogou uma birra no chão, e até pisou nela.

-Não tenho mais cigarros.

Ele surgiu do nada, saindo da escuridão. Tinha os cabelos grandes, barba por fazer, talvez vinte e poucos anos. As roupas sujas e amarrotadas. Tinha um caco de vidro na mão. Segurava a garrafa quebrada pelo gargalo.

- Tem um trocado moça? Vejo que não carrega uma bolsa. O que faz uma hora dessas na rua? Não tem medo de ser assaltada?

- Não.

- E de ser estuprada?

Indagou ele, com ar de doboche. Exibiu os dentes amarelados, alguns com pontos escuros de cárie.

A lua cheia imperiosa. As nuvens passando, sendo conduzidas pelo vento. As estrelas encobertas. Era uma noite quente de verão.

- Não tenho medo.

Disse assim, sacando uma pistola. Apontou-o para o sacizeiro.

- Dê meia-volta, e corra. Vou contar até três. Depois apertarei o gatilho na sua direção.

O vagabundo deixou saltar para fora uma batega de olhos vermelhos. Engasgou. As pernas ficaram trêmulas, de medo.

O disparou soou interrompendo o silêncio da madrugada. Um grito de dor.

-Aiiiiiiiii.

Um rombo enorme na bunda. Foi ao chão gritando de dor e se borrando. A urina vertia de forma abundante intercalando-se com o sangue.

- Filha da puta, ela atirou...filha da puta...ela me acertou...socorro...socorroooo.

Ela seguiu na direção da ladeira que dava acesso à Oscar Pontes. Dois policiais surgiram do posto policial que ficava no largo do Santo Antônio.

- Um disparo..você viu algo moça? Atiraram em você? Um assalto?

Indagava um dos policiais, a arma em punho.

- Sim, o vagabundo seguiu na direção do Pelourinho. Apontou a arma para mim, eu corri, ele atirou.

Os dois policias foram correndo na direção do miliante. Ela deu risada.

- Alô, cadê você?

- Estou subindo à ladeira, passei pela porta da Terwal Máquinas.

- OK, estou perto. Suba na direção do Santo Antônio.

Ela não estava passeando pela noite solitária. Sabia que o delegado estava no fim - o secretario de segurança pública o humilhou. Lembrou-se da reunião. Falou o secretario:

- Quem matou o agente não foi um traficante. Não pense que me engana. Seguiram o assassino e foram ludibriados. Então, tentaram camuflar a coisa matando os dois traficantes, não foi?

- Senhor, eu não estava na ação. Os meus agentes...

- Cale-se. Amanhã a imprensa saberá que você estará fora do caso.

Ela era linda e armada. Uma agente experimentada. Sabia que ele era um criminoso diferenciado. Para ter sucesso naquela empreitada investigativa, além de precisar ter muita coragem, precisava pensar como o assassino. Tinha a certeza de uma coisa, ele habitava naquela região.

- So você mesmo para me tirar da cama e estar numa investigação fora do nosso turno.

Falou o agente, saltando do carro.

- Ja dei até um tiro.

- O quê? Atirou em alguém?

- Oxente, bem na mosca, na bunda.

- Droga, não queira mais problemas. A imprensa está de olho meio aberto com a nossa equipe, vão querer saber das mortes daqueles trouxas, os pequenos traficantes que foram "mortos em troca de tiro", durante a morte do agente.

-É, um dos jornalistas estranhou. "Houve troca de tiros e o agente foi morto com golpes de objeto perfuro-cortante, estranho" - disse ele.

( A investigação continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 17/01/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4089147
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