O que Desejam os Monstros?
Lucas Luciano nasceu para assombrar o mundo de tão feio que veio.
Nasceu da barriga de Laurinda Morena, mãe solteira, não resistente às dores do parto vindo a ser um pequeno enjeitado tendente ao abandono, tanto quanto a ser a criatura mais horrorosa que se teve notícia em Santana do Passa-Quatro e adjacências.
- Quem vai ficar com o menino? – Perguntou Edu Cearense, ávido frequentador daquela casa de quengas que agora tinham mais uma boca a cuidar. Não se há tanta maldade no mundo delas, quanto se há de pensar, e assim vieram muitos peitos a se revezar no sustento daquela pequena boca faminta. O que faziam as mulheres, para não ver aquela cara feia na hora do sustento era cobri-la com um pano.
O menino, como se adivinhasse que não lhe quereriam se desse o menor trabalho, não era dado às manhas do choro, nem de exigir nada que não passasse do leite e da troca de fraldas. Aprendeu, desde logo, a ficar na sua, por que intuía do enjeito que lhe dariam visto guardar aquele sentido que temos além dos cinco básicos e sabidos.
A casa das quengas foi-se desfazendo, por vários motivos, sobrando apenas duas velhas que não tinham como lhe cuidar, uma que era quase cega e outra quase morta e as duas passaram dessa a outra e o pequeno já andava e falava sobre duas perninhas tortas e horrorosas combinando com o resto do corpo.
Começou a comer do lixo alheio, sendo escorraçado como um pequeno animal por toda a municipalidade sem alma de bem querer.
Aprendeu observando, temendo, escondendo-se nas sombras e nos cantos, fugindo das outras crianças que lhe lançavam pedras, mas que por vezes também o atraíam com doces e ali ganhou, como até os cães ganham, algumas companhias que de boas nada tinham.
Aprendeu a língua dos homens de modo rude e avesso, crescendo como uma besta sendo chamado de Pequeno Monstro. Quando cresceu caiu o Pequeno sobrando o Monstro.
Lucas Luciano era a besta municipal, herdeiro da desventura de ser o mais abjeto elemento contrariando o orgulho da cidade.
Veio um dia a ocorrer um crime desses de deixar todos de orelhas em pé. Uma família inteira fora cortada ao meio tendo seus buchos abertos com o interior à mostra esperando por serem remexidos por qualquer animal.
Somente viam um culpado, seja por preguiça ou vontade de liquidar logo o assunto.
Lucas Luciano foi perseguido, encontrado, espancado e por pouco não foi linchado, sendo jogado em uma cela, aguardando um julgamento calculado para travá-lo para sempre na cadeia. Não durou muito a solução do povo, pois outro crime igual fora cometido em uma cidade vizinha sabendo todos que o verdadeiro criminoso estava solto e fazendo novas vítimas.
Tentaram tirar Lucas Luciano da cadeia, mas esse lutou e quis ali ficar, dizendo que tinha comida, um teto, uma cama e até visitas que lhe cuspiam, mas que eram suas. Tendo, enfim, pena de sua figura, o povo viu por bem deixá-lo por lá, com portas abertas para quando quisesse sair e voltar.
No entanto, a glória maior se deu quando resolveram passar a chamá-lo, a partir do dia seguinte, em uma decisão que as almas tomam durante o sono coletivo, naquela reunião que se trava nos reinos além do corpo, não mais pela alcunha de Monstro, mas de Seu Lucas. Era uma espécie de pedido de perdão pela injustiça da brutalidade geral. Nesse dia, quando o guarda assim lhe saudou diante de testemunhas várias:
- Bom dia, Seu Lucas!
Viu-se do canto dos olhos brotarem lágrimas e, enfim, teve um ataque tão intenso de alegria, dentro de um sentimento que não conhecia, que o coração não suportou parando de emoção: os Monstros também querem ser amados!
Nasceu da barriga de Laurinda Morena, mãe solteira, não resistente às dores do parto vindo a ser um pequeno enjeitado tendente ao abandono, tanto quanto a ser a criatura mais horrorosa que se teve notícia em Santana do Passa-Quatro e adjacências.
- Quem vai ficar com o menino? – Perguntou Edu Cearense, ávido frequentador daquela casa de quengas que agora tinham mais uma boca a cuidar. Não se há tanta maldade no mundo delas, quanto se há de pensar, e assim vieram muitos peitos a se revezar no sustento daquela pequena boca faminta. O que faziam as mulheres, para não ver aquela cara feia na hora do sustento era cobri-la com um pano.
O menino, como se adivinhasse que não lhe quereriam se desse o menor trabalho, não era dado às manhas do choro, nem de exigir nada que não passasse do leite e da troca de fraldas. Aprendeu, desde logo, a ficar na sua, por que intuía do enjeito que lhe dariam visto guardar aquele sentido que temos além dos cinco básicos e sabidos.
A casa das quengas foi-se desfazendo, por vários motivos, sobrando apenas duas velhas que não tinham como lhe cuidar, uma que era quase cega e outra quase morta e as duas passaram dessa a outra e o pequeno já andava e falava sobre duas perninhas tortas e horrorosas combinando com o resto do corpo.
Começou a comer do lixo alheio, sendo escorraçado como um pequeno animal por toda a municipalidade sem alma de bem querer.
Aprendeu observando, temendo, escondendo-se nas sombras e nos cantos, fugindo das outras crianças que lhe lançavam pedras, mas que por vezes também o atraíam com doces e ali ganhou, como até os cães ganham, algumas companhias que de boas nada tinham.
Aprendeu a língua dos homens de modo rude e avesso, crescendo como uma besta sendo chamado de Pequeno Monstro. Quando cresceu caiu o Pequeno sobrando o Monstro.
Lucas Luciano era a besta municipal, herdeiro da desventura de ser o mais abjeto elemento contrariando o orgulho da cidade.
Veio um dia a ocorrer um crime desses de deixar todos de orelhas em pé. Uma família inteira fora cortada ao meio tendo seus buchos abertos com o interior à mostra esperando por serem remexidos por qualquer animal.
Somente viam um culpado, seja por preguiça ou vontade de liquidar logo o assunto.
Lucas Luciano foi perseguido, encontrado, espancado e por pouco não foi linchado, sendo jogado em uma cela, aguardando um julgamento calculado para travá-lo para sempre na cadeia. Não durou muito a solução do povo, pois outro crime igual fora cometido em uma cidade vizinha sabendo todos que o verdadeiro criminoso estava solto e fazendo novas vítimas.
Tentaram tirar Lucas Luciano da cadeia, mas esse lutou e quis ali ficar, dizendo que tinha comida, um teto, uma cama e até visitas que lhe cuspiam, mas que eram suas. Tendo, enfim, pena de sua figura, o povo viu por bem deixá-lo por lá, com portas abertas para quando quisesse sair e voltar.
No entanto, a glória maior se deu quando resolveram passar a chamá-lo, a partir do dia seguinte, em uma decisão que as almas tomam durante o sono coletivo, naquela reunião que se trava nos reinos além do corpo, não mais pela alcunha de Monstro, mas de Seu Lucas. Era uma espécie de pedido de perdão pela injustiça da brutalidade geral. Nesse dia, quando o guarda assim lhe saudou diante de testemunhas várias:
- Bom dia, Seu Lucas!
Viu-se do canto dos olhos brotarem lágrimas e, enfim, teve um ataque tão intenso de alegria, dentro de um sentimento que não conhecia, que o coração não suportou parando de emoção: os Monstros também querem ser amados!