A FABRICA DE BONECAS - Parte 3

Laura começou a chorar e a gritar desesperada dizendo que deveriam sair daquele lugar o mais rápido possível. David tentava se acalmar para poder entender melhor o que estava acontecendo. Suava muito e tentava acalmar sem sucesso o amigo William que desesperado ficava aos gritos xingando e fazendo ameaças de vingança a quem fosse o responsável pelo aparente desaparecimento de Karen.

Passados alguns minutos os três ficaram em silêncio. Laura se sentou em um confortável sofá do século passado, em perfeito estado de conservação, e ficou muda. William rompeu o silêncio dizendo que iria atrás de Karen para trazê-la de volta e perguntou ao amigo William se ele iria com ele. Mas David não queria ir com William pois depois de tudo o que tinha visto na mansão considerava muito perigoso o grupo de separar novamente e achava que todos deviam ficar juntos e na manhã seguinte irem juntos à estrada principal. Se sentia culpado por terem deixado Karen sozinha e pelo acontecido.

Mas William desesperado pela perda de Karen e revoltou com David e começaram uma discussão. Laura quebrou o silencio e tentou acalma-los enquanto discutiam até que William agrediu David e em seguida deixou o salão da mansão e iniciou uma busca pela mansão, desaparecendo pelos corredores apesar dos gritos de David e Laura. Após cerca de uma hora William voltou ao salão desesperado. Não havia nenhum sinal de Karen. Disse ter vasculhado cada sala, cada quarto e cada armário da mansão e não havia encontrado nenhum sinal de Karen, apenas bonecas, lindas bonecas por toda a mansão. David tentou acalma-lo, prometendo que voltariam com a policia e fariam uma investigação, que poderia conseguir ajuda se fossem juntos até a estrada principal na manhã seguinte, mas William o deixou falando sozinho e deixou a sala e foi caminhando até a grande varanda da mansão onde ficou parado em silêncio olhando a chuva que caia forte e pensando por qual caminho deveria começar a procurar por Karen.

David gritou por William lhe dizendo que era loucura, que não conhecia a região e que acabaria se perdendo naquelas florestas ou pior. Mas William não cedeu e após alguns instantes começou a descer a escadaria que dava para o jardim abandonado em frente à mansão. Antes de deixar o local William gritou para Laura e David que agora o observavam da varanda que se ele não retornasse até às doze horas do dia seguinte que eles deviam deixar o lugar e ir para a estrada principal. Em seguida virou as costas e desapareceu por entre os arbustos e mato alto que cobriam o que outrora fora um belo jardim, gritando por Karen.

Laura começou a chorar muito. Sentia que o amigo William corria perigo e David a abraçou tentando consola-la e por fim gritou a William que não se afastasse muito da mansão e procurasse se manter próximo à estrada de terra após o que ficou ouvindo William gritar por Karen até que os gritos foram ficando distantes cada vez mais e por fim silenciaram completamente.

A chuva continuava forte e implacável com relâmpagos e trovões altos vez ou outra. Laura e David sentiram o vento forte e voltaram para o interior da mansão. Ao entrarem perceberam que alguma coisa havia mudado no interior da mansão. As iluminação era precária agora e os móveis haviam sido trocados de lugar. As ataduras com sangue de Karen que estavam em uma mesinha haviam desaparecido. Tudo limpo e em perfeito estado como se nunca estivesse estado ali. Laura começou a chorar e David começou a compreender que havia algo macabro no lugar. Num instante, apos um relâmpago iluminar a noite, pela janela, viram o vulto de uma criança sentada em uma cadeira, porém vendo melhor observaram que era apenas uma boneca, daquelas grandes, sentada ali como se estivesse os observando.

David olhou o lugar com muito cuidado e calculou que seria necessário um grupo de umas 8 pessoas para fazer a arrumação que havia sido feita ali, trocando todos os móveis de lugar, os vários sofás e poltronas, as mesinhas, o piano, a mesa de jantar e por fim a grande estante. Notou porém que alguns quadros que continham gravuras egípcias não haviam sido movidos de lugar e permaneciam no mesmo lugar de antes e então comentou isso com Laura que pareceu interessada na pequena observação.

Após alguns instantes, David e uma relutante Laura decidiram entrar e então David começou a falar em voz alta com o que estivesse ali, dizendo que não queriam incomodar, que haviam sofrido um acidente e que logo iriam embora. Laura chorava amargamente e pedia para ir embora dali mas David queria acreditar na possibilidade de um diálogo e entendimento mas não houve resposta apenas um profundo silencio.

Após alguns instantes David fez nova tentativa de diálogo, pois não acreditava que estivessem sozinhos na mansão e então novamente pediu ajuda e disse que não queriam fazer mal algum ao que desta vez pareceu ouvir um barulho vindo de cima da mansão. Laura apertou a mão de David em silencio, com o coração disparado, e David então perguntou se havia alguém ali ao que ouviu como resposta uma estridente e alta gargalhada seguida com guinchos altos e muito barulho, como se crianças estivessem fazendo bagunça ali.

Laura então ficou desesperada e gritou para David para saírem dali imediatamente mas David fez que não e ao invés disso disse a ela que iria subir para ver quem estava ali. Laura implorou para que David não subisse e pediu a ele que fosse embora daquele lugar mas David pediu calma a ela e falou que eles precisaram descobrir o que estava acontecendo ali e que não adiantaria nada saírem correndo no meio da noite, naquela tempestade por uma estrada escura. Subitamente, a luz foi restabelecida a sua força normal, iluminando toda a mansão novamente, como se convidando David para subir os degraus da antes escura escada que conduzia ao andar superior da casa.

Laura então olhou em volta e observou que haviam mais bonecas no salão em vez de apenas aquela sentada na cadeira. Viu mais duas ou três bonecas, todas espalhadas pelo salão, jogadas nas poltronas e nos cantos. Então Laura sentiu em seu coração que devia sair dali naquele momento ou não sairia mais. Gritou por David, em vão pois ele já subia a escada e perguntava quem estava lá e dizia que não queriam incomodar só estavam procurando um lugar para passar a noite. Ouviram novamente uma gargalhada estridente, como se debochando deles ao que David parou de subir as escadas e compreendeu que haviam algo muito errado naquele lugar, olhou para Laura e lhe gritou para fugir ao que Laura correu desesperada para a porta e saiu pela varanda.

Na sua tentativa de fuga desesperada Laura caiu pela escadaria da varanda mas por sorte não sofreu nenhuma contusão. Se virou ainda caída no chão e viu as luzes da mansão começarem a se apagar lentamente, quarto por quarto, comodo por comodo. Gritou por David desesperada pedindo para que ele a seguisse mas não houve resposta. Laura chorava muito e gritou mais uma vez por David que não apareceu na varanda. Pelo vidro da porta da frente Laura não conseguia ver nada no interior do salão e então exclamou o nome de David chorando amargamente e gritou uma última vez mas não teve resposta alguma. Tudo era silencio e escuridão no interior da mansão. Laura então compreendeu que David não voltaria e que ela devia sair dali imediatamente e tentar chegar à estrada.

Laura se levantou desajeitadamente e escorregou na lama, caindo novamente, para então se colocar finalmente de pé. Olhou para a mansão e viu que a luz dos cômodos continuava sendo apagada e então correu pelo jardim em direção ao velho portão de ferro. Caiu várias vezes na lama e tropeçou em pedras e restos de antigas estátuas que decoraram o jardim no passado. Por fim chegou ao grande portão de ferro e olhou para trás a tempo de ver que a luz se apagou totalmente na mansão.

Então fez um esforço para abrir o portão de ferro que havia sido fechado depois que Laura, David e os amigos haviam passado ali. Abriu o portão e teve acesso a trilha que conduzia à mansão. Correu desesperada e chorando muito até chegar finalmente à estrada de terra. Ventava muito forte e a chuva continua implacável. Uma chuva fina e congelante mas que naquela altura dos acontecimentos Laura nada sentia.

Laura então começou a correr em direção à estrada principal mas já se sentia cansada e então continuou caminhando apressadamente, olhava para trás de vez em quando, temendo estivesse sendo seguida e seguiu pela estrada acidentada no meio da escuridão. Pensou então em William que havia partido a procura de Karen, mas prosseguiu caminhando o mais rápido que podia em direção à estrada principal.

Enquanto isso William caminhava por um bosque que ficava próximo à mansão, gritando por Karen. Caminhava com cuidado pois não conhecia o local mas estava determinado a encontrar sua mulher Karen. A chuva era forte e a visibilidade ruim mas após uns quarenta minutos no bosque William conseguiu encontrar uma saída e chegar a um campo com uma estrada que conduzia a uma grande estrutura com algumas luzes no meio daquele grande campo. William identificou a estrutura como sendo uma fábrica e pensou que talvez conseguisse ajuda ali para encontrar Karen. Caminhou confiante e um pouco animado. Ventava muito forte e chovia bastante mas William não se incomodava pois tinha novo ânimo que foi por água abaixo quando se aproximou dos portões da fabrica. Constatou que o lugar fora abandonado há décadas e que tudo ali era muito antigo. Viu carcaças de carros antigos do século 20. Próximo ao portão havia uma grande placa onde estava escrito "Fábrica de Bonecas Sterner".

William viu algumas luzes acessas nos antigos prédios da Fabrica e achou que podia haver algumas pessoas ali e resolveu ir pedir ajuda. Viu que o portão estava fechado por fora com uma dezena de grandes cadeados e então pulou a cerca e entrou na fábrica, mas torceu o pé e prosseguiu caminhando com dificuldade. Tinha a esperança de que alguém o ajudasse a encontrar Karen. Caminhou pelas seções da fabrica e viu todo o maquinário antigo, há muito tempo abandonado. Passou pelo alojamento dos empregados e viu diversas fotos de funcionários desaparecidos e viu também anúncios de emprego publicados há mais 100 anos.

Então William procurou ir diretamente para onde havia visto as luzes. Encontrou uma longa galeria onde haviam peças para montagem de bonecas. Passou pela galeria e sentiu algo estranho, um arrepio, sentiu que o lugar era sombrio e caminhou rápido para sair dali. Ouviu então um gemido longo, alto e agudo, vindo do interior da Fábrica. O gemido não era humano, era diferente, mecânico e estranho. William parou e ouviu mais uma vez o longo e agudo gemido de dor que vinha do interior da Fábrica e pela primeira vez na vida de adulto ficou com medo pela e percebeu melhor a situação e onde tinha vindo parar sozinho e agora machucado, incapaz de fugir correndo, pensou sentindo um calafrio na alma. William então se lembrou do conselho de David de que não se afastasse muito da mansão e que ficasse próximo da estrada de terra. Sábios conselhos, mas William nunca foi muito de ouvir as pessoas. Entretanto, agora ali, sozinho, machucado, William se arrependeu profundamente de não ter ouvido o amigo.

William então prosseguiu mas desta vez com cuidado. Não se sentia seguro ali e decidiu que se não encontrasse ajuda, não prosseguiria com a busca e voltaria à mansão para ir com David e Laura até a estrada principal. Seguiu caminhando com dificuldade estes as máquinas, pois agora seu pé estava doendo bastante. Ouviu novamente o gemido, agudo, longe e inconfundível, desta vez mais próximo. Seu sangue gelou e viu então que as luzes dos prédios da fábrica haviam se apagado.

Seu instinto de sobrevivência lhe fez sentir que devia sair dali o mais rápido que pudesse. Então William deu meia volta e começou a andar mais rápido, cambaleando devido a falta de equilíbrio por não conseguir pisar direito com o pé machucado, indo em direção à entrada da galeria onde havia entrado. Ouviu barulhos de peças metálicas e percebeu que não estava sozinho ali e gritou desesperando perguntando quem estava ali e então ouviu uma gargalhada estridente e aguda. Somente ali William compreendeu que havia caído em uma armadilha e tentou correr mas caiu, se levantou com dores e foi correndo cambaleando em direção ao fim da galeria mas tropeçou novamente e caiu. Estava exausto e sentia falta de ar com dores no peito. Apesar de jovem William era cardíaco, doença de família que lhe havia alcançado ali naquela fabrica de bonecas.

Se levantou novamente e mesmo com falta de ar e dores no peito tentou caminhar até a saída. Foi quando viu o vulto de uma mulher vestida de branco que lhe chamava pelo nome e caminhava em sua direção. Ao se aproximar sentiu um aroma familiar, o perfume de Karen e então olhou horrorizado a figura macabra de Karen transformada. Seu rosto havia sido reconstruído como o de uma boneca com material de porcelana e plástico. Seus olhos naturais haviam sido trocados pelos olhos de boneca e sua cabeça havia sido reconstruída pois usava peruca ruiva ao invés de seus lindos cabelos castanhos. Sua voz modificada, com um tom metálico lhe disse que estava procurando por ele. William perguntou o que haviam feito com Karen e ela respondeu dizendo que as bonecas haviam 'consertado' ela e que agora ela poderia funcionar por muitos anos pois a fabrica de bonecas a consertaria toda a vez que ela precisasse.

A figura de Karen acariciou os cabelos de William e lhe disse que não devia se preocupar pois a fabrica de bonecas o consertaria também e que logo estariam juntos novamente. William então viu várias bonecas de pé que o observavam. Karen então lhe deu um largo sorriso revelando dentes de metal afiados que haviam sido implantados em toda a sua boca. William deu um grito de desesperado e deu um soco em Karen danificando seu rosto de plástico e revelando o rosto desfigurado pelo acidente por baixo da cobertura de plástico e porcelana. Karen se afastou soltando uma gargalhada estridente e então as bonecas se aproximaram e pegaram William.

William foi carregado pelas bonecas e levado à antiga enfermaria da Fabrica. Karen acompanhava William e lhe disse que ali era onde a fabrica consertava tudo. William então gritou desesperado para Karen ajuda-lo mas ela apenas o olhava friamente com os olhos de boneca. Na sala um boneco da altura de um homem, com olhos de boneca e vestido de branco, como um médico, os aguardava. William foi despido e amarrado em uma mesa. O boneco se aproximou e examinou o pé machucado de William que pedia para Karen o salvar. O boneco apos examinar o pé de William por alguns segundos fez um movimento rápido e com uma faca cirúrgica amputou o pé fraturado de William. William soltou um grito desesperado de dor ao que Karen se aproximou do boneco de lhe falou algo em egípcio ao que o boneco aplicou uma injeção de uma substancia amarela no pescoço de William que sentiu o corpo arder em febre por alguns instantes e depois ficar dormente até não sentir mais corpo. Então William viu o boneco se aproximar e colocar a mão no seu peito como se estivesse sentido o seu ritmo cardíaco. O boneco então lhe deu um sorriso revelando dentes afiados de metal. William olhou para Karen que agora olhava para ele fria, indiferente e sem demonstrar nenhum afeto. William então compreendeu que caiu em uma armadilha e que aquilo não era Karen. O boneco começou a cortar William do tórax abaixo e a extrair seus órgãos, um a um, lentamente. William sentiu a boca cheia de sangue e notou que as bonecas ajudavam colocando os órgãos de William em potes de vidro. William sentiu a vida se esvaindo e olhou para Karen que o olhava fixamente, fria e imóvel. Uma boneca se aproximou com uma bandeja com dois olhos de boneca e o boneco colocou as mãos nos olhos de William que não viu mais nada.

CONTINUA...

Cronista das Trevas
Enviado por Cronista das Trevas em 12/01/2013
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