A Praga Sobreveio ao Assaltante de Cargas

Giuliano Malvezzi, ladrão de cargas, comandava uma quadrilha que era especializada em roubo de eletroeletrônicos. Sempre zelou pelo profissionalismo, nunca havia matado nesse negócio, não houve necessidade e nem mesmo seus comparsas, que em outras épocas e em outras atividades ilícitas já haviam tirado vidas. Agiam em duas duplas, um par em cada carro, sempre armados, rápidos e gostavam do que faziam.

Quinta-feira, 9 da noite, um chamado no celular de radiocomunicação, mais um trabalho a ser realizado. Giuliano convoca seus parceiros, quatro homens, ele seguiria de moto apenas acompanhando a ação.

Sexta-feira 4:30 hs, todos reunidos numa casa alugada, usada para planejamento e encontros dos parceiros de crime. Saíram dali rumo à rodovia, sabiam as horas e o itinerário do caminhão. Ficaram esperando a carga, perto de uma entrada adjacente para a rodovia, abriram o capô de um dos carros, uma pick-up, simulando estar com problemas.

Avistaram a carreta, ninguém se apavorou, calmos, esperaram ela passar, o transito estava leve aquele horário, com o capô já fechado, seguiram o caminho do caminhão pela rodovia, a pick-up ia á frente, Giuliano acompanhava mais atrás. Um toque no HT e o carro que estava na frente ganhou velocidade e entrou na frente da carreta, o outro veiculo estava ao lado do motorista. Uma pequena janela da pick-up tinha a medida exata para que um dos homens, magro e franzino, conseguisse passar por ela e ganhar a caçamba do automotor. O moço de aparência delgada equilibrou-se na caçamba e com uma mão apontava uma pistola 9mm para o para brisa, no lado do motorista e com a outra fazia gestos para o condutor parar.

O motorista fez uma coisa que ninguém esperava, acelerou batendo na traseira, o rapaz armado teve a sorte de a caçamba ser alta, bateu com os peitos nela, ficou igual a uma bolinha de fliperama, indo de encontro de um lado a outro nas laterais da pick-up, visto que o motorista perdeu o controle do veiculo e rodou na estrada, parando na grama alta. O carreteiro jogou o caminhão em cima do outro carro, fazendo-o se juntar aos amigos que já estavam parados na lateral da pista em meio ao matagal. Isso tudo aconteceu em muito pouco tempo, com muitas freadas e derrapagens de outros veículos que vinham trafegando próximos aos envolvidos, ao que parecia ser uma produção de hollywood.

Giuliano parou perto dos comparsas, perguntando se todo munda estava bem.

— Aquele filho da puta quase me matou! Respondeu o franzino, todo machucado, mas inteiro.

— Que retardado mesmo viu caras! Disse Giuliano com espanto e certa decepção por tudo que deu errado. Seguiu dizendo:

— Ele não me viu, vou atrás dele, virou questão de honra agora pegar esse cretino. Assim que se recuperarem, sigam pela estrada devagar, vocês tem o caminho dele também, ele vai ter que parar em algum lugar para comer, a viagem é longa. Qualquer novidade eu passo o radio pra vocês.

Giuliano pisou no pedal da sua Suzuki 750 GT 1972 negra, saiu em disparada, cantando o pneu traseiro da moto. Alcançou rapidamente o caminhão e ficou a uma boa distancia. Estava de jaqueta preta, viseira levantada, óculos escuros, mais parecia um integrante de moto clube.

Seis horas de estrada depois, enfim uma parada, passava do meio dia, no posto de gasolina, onde existia um grande restaurante, Giuliano entrou, ficou no bar mirando ao longe o caminhoneiro, pediu uma cerveja e esperou. Meia hora passou lenta, o caminhoneiro se dirigiu até onde estava estacionada a carreta, muitas outras lá estavam, enfileiradas, Giuliano o seguiu, sempre olhando pra ver se ninguém os via.

Sorrateiro, o assaltante esperou o pobre homem por as mãos na maçaneta, e com uma velocidade e agilidade aproximou-se e desferiu um golpe potente na nuca do infeliz, fazendo-o desmaiar. A porta do caminhão estava aberta, Giuliano com esforço conseguiu jogar o homem para dentro da cabine e pelo rádio invocou seus parceiros.

Dez minutos de espera e os carros um pouco amassados chegaram.

— Três vem comigo, um leva o caminhão pro galpão, desarme o localizador e lá já sabem muito bem o proceder.

Dois ficaram de guarda enquanto três faziam a remoção do homem para o carro fechado.

O caminhão seguiu primeiro o seu destino, pouco depois os dois carros e a moto seguiram a rodovia por mais uns cem quilômetros.

Saíram da autoestrada rumo a uma chácara abandonada, que poucos conheciam o seu paradeiro. O homem despertou, todos reunidos em uma clareira no meio do matagal espesso, ao redor do motorista, ele com as mão amarradas para trás, ajoelhado, com a cabeça baixa.

— Sabia que você quase matou o meu amigo ali? Giuliano disse isso sacando uma Desert Eagle .50 prata, posicionando-se detrás do carreteiro.

Os olhos dos outros homens fitavam fixamente o homem prestes a morrer, inclusive o moço franzino, ao qual era o mais novo do grupo.

— Tem um nome pra sua lápide?

— Baltazar... Disse o homem titubeante, em lágrimas.

— Ora vejam só, temos um dos três reis magos aqui!

Todos riram, exceto o condenado.

— Que o demônio venha carregar sua alma seu desgraçado, que a maldição mais terrível caia sobre ti!!! Disse o homem com voz bravia, gritando, banhado em lágrimas, tremendo-se por completo, já pressentindo que sua vida seria interrompida.

Os bandidos nunca viram ninguém bradar daquele jeito, olharam-se ouvindo o motorista praguejar Giuliano com grande fervor.

— Está na hora irmão, tenha um pouco de dignidade e faça uma última oração.

Giuliano apontou a arma para a cabeça do homem, que chorando muito, começou a chamar por seus filhos e esposa e recitava com dificuldade a prece.

— Pai nosso...

O estampido forte da potente arma assustou os bandidos que perplexos olharam-se intrigados e miraram o executor guardar a arma no coldre, enquanto o corpo sem vida tombava ao chão, com os miolos espalhados, prosseguiu a oração:

— ...Que estais no céu... Santificado seja o vosso nome...

A Maldade foi grande desta vez, abrindo uma brecha no inferno, onde o próprio diabo ouviu o maldizer, levantou-se do seu trono da malignidade, vociferou:

— Chamem o Ceifeiro! Tenho um trabalho para ele.

Dias se foram, Giuliano ainda desfrutava dos lucros da investida. Sua filha lhe fez uma visita em sua casa, vinha passar o final de semana. Ele estava separado, pela segunda vez, sua filha Sophia era linda, cabelos lisos negros e compridos, 1,65m, olhos cor de mel, vivos e grandes iguais os do pai, jovem de 17 anos, fruto do primeiro casamento, ainda tinha um menino de 2 anos do segundo.

Ela era o amor de Giuliano, um amor mútuo, não só um amor de pai e filha, mas um amor incestuoso, desde quando ela tinha 14 anos o pai já a tinha como amante. Giuliano no alto de seus 42 anos, 1,80m, pele alva e cabelos loiros quase brancos, bem curtos. Quando os dois apareciam juntos, pensavam que eram irmãos, ele não apresentava ter a idade que tinha.

Resolveram sair para pescar em um lugar que sempre iam, afastado, isolado, só os dois. Montaram na moto e seguiram caminho rumo ao local escolhido para passarem a tarde.

Chegando, desceram da moto, e seguiram uma trilha até encontrar o seu destino. Uma árvore grande fazia sombra em um tronco deitado ás margens de um grande lago, onde estava, para surpresa deles dois, sentado um homem com capa preta surrada, de capuz.

Com cautela se aproximaram do lago, estranhando o fato de alguém estar ali e mais por estar um calor dos infernos e o cara estar, mesmo na sombra, com uma roupa escura.

Assim que estavam a uma pequena distancia o homem levanta-se, seu manto esvoaçante cresce e alcança o chão, em uma de suas mãos uma grande gadanha, que também cresceu à medida que seu corpo foi ficando ereto. Vira-se para horror do ilícito casal e grito da moça, um ser sem face. O anjo da morte gira sua enorme foice com lâmina afiada, banhada a sangue e dela estouram centenas de gritos das suas vítimas que abafam os brados de Sophia.

— Paizinho me protege!!!

Não tiveram chance de reagir, o ceifeiro moveu-se rápido cravando a lâmina curva em Sophia, de baixo para cima, entrando na vagina e saindo em sua garganta. Giuliano desabou ao chão, vendo o ser infernal puxar a foice, rasgando o tórax e abdômen de sua filha quase a dividindo ao meio. Sangue, tripas e os restos de comida que estavam no estômago da moça alçaram voo e cobriram Giuliano.

O ceifeiro aproximou-se do homem caído e coberto de sangue e restos da filha, girou mais uma vez sua ferramenta maldita e dela ecoou o grito de Sophia, causando mais dor em Giuliano. Assim a morte foi embora, distanciando-se e desaparecendo ao horizonte vermelho.

— AHHHHHHHH!!! SOPHIAAAAAAA!!!!! Maldito Seja, demônio filho de uma cadela... Arrombado!!!

Giuliano agora sabia que a maldição do carreteiro estava se cumprindo, mas não imaginava que levaria seu bem mais precioso, aquilo que mais amava nesta vida miserável, sua filha. Não aguentaria a dor, sacou a arma que usou para tirar a via do motorista de caminhão, colocou na boca, chorando, apertou o gatilho... “Tec”, falhou uma, duas e varias outras tentativas. Da sua cintura desembainhou uma faca cromada linda e quis crava-la em seu peito com as duas mãos a segurando. O máximo que conseguiu foi a dor dela afundando em seu tórax, a lâmina afiada não cortava sua carne.

— Nãooooo!!! Desgraçadooooo!!!

O bandido enfurecido pode ouvir gargalhadas que vinham de todas as direções, invadindo seus tímpanos. O demônio não só queria a alma do homem, mas divertia-se com o sofrimento dele. Sabia que Giuliano tentaria se matar e lhe batizou com uma imortalidade temporária.

Giuliano de tanto bradar e praguejar, desfaleceu. Acordando num hospital, ele estava todo amarrado. A morte da filha foi atribuída a ele pela polícia e por ter surtos psicóticos intensos e constantes, vivendo a base de tranquilizantes e quase sempre imobilizado, foi condenado a passar o resto da vida no manicômio.

Ainda no sanatório, na solitária, onde era sua morada quase permanente, quase sempre ouvia em alto e bom som, a voz do diabo ao seu ouvido:

— O tempo vai passar demoradamente para ti aqui neste lugar, mas pra mim, sem problemas, esperar-te-ei no meu lugar de agrura e sofrimento, para enfim padecer com tortura e dor aos meus pés! HA! HA! HA!