Abdução: Terror no Espaço.
Abdução: Terror no espaço.
Jorge Linhaça
Marcus conduzia sua moto pelas ruas estranhamente desertas no início da madrugada. Havia saído para beber com alguns amigos e agora voltava para casa crendo que seria mais uma noite como outra qualquer.
Seus reflexos não estavam lá essas coisas e as ruas esburacadas desde sempre apresentavam perigo eminente, mas, como conhecia o caminho percorrido centenas de vezes já não pensava nos riscos.
Eram duas horas da manhã, aproximadamente quando um enorme facho de luz passou a perseguir a sua moto.
A princípio, Marcus pensou ser um caminhão ou algo do gênero e limitou-se a acelerar a sua motocicleta e a mudar de faixa de rodagem. No entanto a estranha luz continuava em seu encalço até que em um dado momento ultrapassou-o fazendo-o cegar e perder o controle do veículo.
A luz era tão forte que o fez perder a consciência imediatamente, embora em suas últimas lembranças sentisse como se flutuasse no ar.
Quando voltou a si , percebeu-se preso a uma cama tipo hospitalar, o ambiente era pouco iluminado e um zunido intenso, embora baixo, o incomodava particularmente.
Fracas luzes iluminavam o aposento onde ele se encontrava, uma luz maior , acima de sua cabeça permanecia desligada.
Tentou levantar-se, mas, seu corpo estava preso como que pela força de uma gravidade intensa, coisa de três ou quatro vezes aquela à qual estamos acostumados.
Na penumbra da sala começou a perceber vultos silenciosos, formas esguias que se locomoviam de forma ágil e serena. Um misto de alívio e preocupação tomou conta de sua mente ainda confusa e pouco desperta. Alguma coisa o inquietava além do zumbido longínquo e intermitente que insistia em invadir seus ouvidos.
Silenciosamente as silhuetas que havia percebido foram se aproximando, Marcus forçou os olhos para tentar distinguir quem eram aquelas pessoas.
Não! Não eram pessoas, eram criaturas estranhas, não tinham nariz nem bocas, tampouco tinham cabelos, suas mãos eram estranhamente frias, seu toque nada tinha de humano, eram totalmente lisas, uniformes.
Marcus tentou em vão levantar-se, tentou em vão gritar, sua garganta estava obstruída por uma espécie de tubo e aquele grupo de criaturas estranhas examinava minuciosamente o seu corpo semiconsciente.
O terror tomou conta de sua alma, percebeu-se dentro de um conto de ficção científica, abduzido por alguma raça alienígena que agora fazia experiências com seu pobre corpo incapaz de mover-se.
Sentiu a alma gelar, assim como o sangue em suas veias quando a grande luz sobre sua cabeça foi acesa. Sentiu um líquido qualquer percorrer suas veias e viu-se mais uma vez privado de qualquer contato com o mundo fora de sua mente.
***********
Despertou aos poucos, a intensa claridade cegava-o parcialmente.
Ouviu uma voz ao longe o chamando, como que vindo do fundo daquela claridade:
- Marcus...Senhor Marcus...Está me ouvindo?
- A mente confusa do rapaz não sabia o que imaginar. Seria um contato telepático? Seria um anjo a chama-lo para o outro lado vida?
- O zumbido intermitente voltou... Marcus reuniu todas as suas forças para retomar a consciência plena , aos poucos foi vislumbrando uma silhueta semelhante aquelas que vira antes de perder os sentidos. Medo... O mais profundo medo invadiu sua alma...
A voz continuava insistente:
Marcus... Está me ouvindo? Consegue me ver?
Marcus não conseguia mover-se mas aos poucos sua vista foi se acostumando à claridade e a silhueta foi tomando forma mais humana, quando por fim sua visão perdeu os borrões, percebeu-se em um quarto de hospital, tentou levantar-se mas seus braços e pernas pareciam não obedece-lo, talvez estivesse ainda fraco pela anestesia.
A silhueta agora ganhava forma definitiva, vestindo um jaleco branco, era um médico.
Marcus sentiu-se aliviado de estar de volta à terra, imaginando que por algum motivo os extra terrestres o tivessem devolvido ao planeta natal.
- Onde estou?
- O senhor está no hospital, esteve desacordado por dias...
- Os ETs.. .Eles me levaram... Não sei o que fizeram comigo... Está tudo muito confuso...
- Senhor Marcus, se acalme, o senhor passou por uma cirurgia muito difícil dias atrás, tivemos de mantê-lo em um coma induzido desde então.
- Cirurgia? Que cirurgia? O que aqueles ETs fizeram comigo?
- Senhor Marcus, o senhor sofreu um acidente de moto, colidiu com um caminhão que vinha em sua direção...
- Não, vocês não entendem, eu também pensei que fosse um caminhão, mas, aquela luz me cegou e carregou pelos céus... Acordei numa nave espacial com criaturas estranhas sem boca nem nariz que me injetaram alguma coisa e eu adormeci...
- Senhor Marcus, o senhor foi socorrido pelo SAMU e trazido para cá logo após o acidente. Talvez tenha despertado parcialmente durante os procedimentos cirúrgicos e imaginou essas coisas...
- Mas eu me lembro que não conseguia mover-me, aliás eu não consigo mover-me ainda...o que é isso, algum efeito da anestesia?
- Não senhor Marcus, não é efeito da anestesia, infelizmente o senhor fraturou algumas vértebras e provavelmente permanecerá tetraplégico pelo resto de sua vida, eu sinto muito...
Um grito de horror e dor desprendeu-se da garganta de Marcus, ecoando pelos corredores do hospital...
-NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃAOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
Se for dirigir, não beba...se for beber não dirija...o terror está mais perto do que você imagina.
Salvador, 5 de janeiro de 2013.