Sem saída - Parte III - Um encontro inesperado

Sem saída

Parte III – Um encontro inesperado

E o tempo passou... Não tão rápido quanto parecia ou deveria, eu estava com medo de sair, talvez por isso atrasei esse dia, mas não podia mais ficar com os que me acolheram, afinal, eles nem ao menos me conheciam, eu estava abusando... Essas regras ainda valiam? Quando eu disse que partiria, não entendi ao certo o que eles sentiram, talvez alivio... Era uma boca a menos para alimentar, ou quem sabe não, pois eu estava me tornando útil, aprendi a matar aquelas coisas, defendia a casa e já conseguia ir até o mercado pegar comida... Hilário... Parece até besteira, mas como as coisas tinham ficado... Bem... Isso era grande coisa.

Mas estava decidido, eu tinha um objetivo, e esse tempo foi apenas um aprendizado, não podia sair por ai daquele jeito, podia morrer em minutos. Então peguei minha mochila, coloquei apenas o que me deram, alguns enlatados e água, me despedi deles e fui. Minha preparação era absurdamente tosca, comida para no máximo uma semana, água para uns dois dias, economizando é claro, e um pedaço de pau, até eu estava com vontade de rir de mim, um riso sarcástico e não feliz... Bom, ainda não tinha caído a ficha de que muitas das pessoas que eu conhecia podiam estar mortas, isso não é nada fácil de assimilar, ainda mais quando não se vê...

Caminhando algumas ruas á frente, encontrei um celular, e como um instinto idiota o juntei e tentei ligar... Estava descarregado, três semanas sem ver um carregador faz isso, o guardei, ainda não sei por que... Talvez com esperança de que funcionasse depois, é normal se agarrar a esses costumes... Estava tudo bem... A rua por onde eu ia era pequena... Decidi sempre ir por ruas pequenas, assim não teria tantas surpresas, mas o cenário já mostrava o que eu encontraria, ruas completamente desertas, como isso tudo aconteceu em apenas três semanas? Continuei caminhando... Algumas ruas á frente ouvi gritos, eram de mulher, e pedia socorro, fiquei muito apreensivo e a principio sem saber o que fazer, afinal... Ela poderia estar gritando por “n” razões, podia ter sido mordida, ou estar no meio de vários deles, não era uma ideia nada saudável ir até lá... Virei na direção contrária e continuei andando... Mas, minha consciência não deixou.

Me perguntei porque deveria ajudá-la nem a conhecia, mas lembrei que o motivo de ter saído do abrigo era encontrar minha namorada e meus pais, e se fosse eles nessa situação eu queria muito, que alguém os ajudasse... Então fui em direção aos gritos. A cada passo, os gritos estavam mais altos, e logo percebi de onde vinham... Era uma garota, magra e de cabelos pretos, não era a Cristina. Ela estava sendo perseguida por quatro daquelas coisas...

- Luiza: Socorro! Socorro! Alguém me ajuda, por favor... Socorro! Alguém?

Observei ao longe primeiro, pois se ela estivesse condenada eu não me meteria, percebi que não conseguiria matar os quatro sozinho, ia acabar me ferrando, outra vez pensei em ir embora, mas eu já estava envolvido, minha consciência nunca me deixaria em paz depois disso... Então fui na direção deles, gritei, chamei a atenção...

- Arthur: (apavorado, mas tentando mostrar segurança) Ei... Olhem pra mim, vem pegar vem!

E o que foi mais lindo de tudo isso foi que quando eles ouviram, vieram em minha direção, como se tivessem esquecido dela, naquele momento me arrependi de ter feito isso... E a garota ainda ficou lá parada... Sei que ela devia estar em choque, pois apesar de estar pedindo ajuda, não esperava que viesse... Mas ela precisava ficar petrificada naquela hora?

- Arthur: (gritando) corre! Se esconde procura um lugar seguro! Vai logo!

E para minha surpresa ela nem se mexeu, estaria paralisada com meu ato heroico? Talvez... Tentei mais uma vez, gritei pedindo que ela corresse, e finalmente ela conseguiu, se levantou e saiu correndo, apenas um deles foi atrás dela, os outros três continuaram vindo atrás de mim, isso tudo aconteceu bem mais rápido do que posso lembrar, peguei o pedaço de pau e acertei a cabeça de um, não foi suficiente acertei de novo, e o pedaço de pau quebrou, fiquei sem ter o que usar, fui indo para trás olhando pelo chão, mas não havia nada para me defender, os dois continuavam a vir para cima de mim, eu estava encurralado...

Quando pensei que era o fim ouvi um assovio, como se alguém chamasse a minha atenção, não era aquela garota assustada, e o assovio não fora para mim, um deles foi em direção ao som, e foi atacado por uma garota, ela bateu com violência na cabeça dele, e continuou batendo até que ele parou de se mover, o outro ainda vinha atrás de mim e eu me afastava, e por que não corria? Queria muito ver o que ia acontecer. Ela veio correndo em minha direção e o golpeou, da mesma maneira que fez com o outro.

Eu estava jogado no chão, e sabia como a garota que eu salvei se sentia, eu estava da mesma forma... Em momento algum pensei que alguém fosse aparecer muito menor uma garota, eu me senti tão vulnerável e indefeso... Ser salvo por uma mulher definitivamente mexeu com o meu ego. Ela então chegou até mim com um olhar ligeiramente frio, a roupa respingada de sangue e cabelo bagunçado...

- Renata: fala ai, ta tudo bem?

- Arthur: (respondi balançando a cabeça positivamente)

- Renata: foi mordido?

- Arthur: (respondi balançando a cabeça negativamente)

- Renata: você sabe falar?

Eu estava prestes a responder a pergunta dela quando ouvimos mais gritos, ela rapidamente juntou o pedaço de pau que carregava e correu em direção aos gritos, na verdade foi na mesma direção que aquela garota tinha ido – não é possível! - pensei... Não sabia ao certo o que fazer, não poderia ir embora depois disso... Então me levantei e fui atrás dela. Chegando ao local de onde vinham os gritos, confirmei que era a garota que eu havia salvo, e estava novamente encurralada em um beco com um deles... Fiquei indignado, como alguém se enfia em um beco sem saída, quando está sendo perseguida por um cara morto que quer morder? Não busquei a resposta apenas observei a cena, novamente a garota que me salvara, correu até o morto-vivo e o golpeou nas pernas, o que o derrubou imediatamente, em seguida ela fez o que fazia de melhor... Pelo menos naquele momento... Estourou a cabeça dele... Nunca pensei que veria aquilo na rua, se fosse antes, ela estaria encrencada. Enquanto ela o golpeava, mantinha um olhar impiedoso, como se tivesse ódio daquela coisa... Após mais esse ato de heroísmo ela foi até mim, e deu um tapa em meu ombro...

- Renata: nada mal! Mas ainda tem que melhorar... E muito!

Sinclair
Enviado por Sinclair em 04/01/2013
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T4066638
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