Você

Por Ramon Bacelar

Você. Sim, você mesmo aí roendo as unhas de ansiedade, fingindo que não me vê: estou de volta.

Não adianta negar... Sabe que eu existo, caso contrário não estaria lendo o que escrevo...Ok, então façamos de conta que não sou nada, uma inexistência para ti; mas mesmo como mero produto de sua imaginação... Lá estou eu, como uma insistência inconsciente, impulso incontrolável: Sabe, mas finge que não... Não mesmo? Ai, ai, ai... Calma! Não precisa se exaltar. Respire fundo... isso... Agora enxugue o suor do teclado e pare de morder o dedo. Não sabe que unhas causam úlceras estomacais? Sim, as mesmas que continuarão a crescer, atrofiar e apodrecer depois do último sopro de vida, portanto deixe-as seguir seu curso natural. Opa, não gostou da piada? Foi só para relaxar, não precisa... Sorry, assoe o nariz... forte, mas cuidado com a, a...deixa pra lá! Ainda nervoso? Não quis dizer que morrerá logo; aliás, isso é problema seu... não meu: te influencio mais que o necessário e menos que imagina, portanto se eu fosse você...

Ainda aí?! Hehehe... Se não gostasse do que escrevo, já estaria longe. E se chegou até aqui, hôhôhô... Ou seria minha presença? Hein?! Claro, é só tomar coragem, desligar a imaginação e olhar para... trás... búúúúúúú...

”Cadê você, desgraçado?!” Não é isso que está pensando?...Será que sou assim tão, tão... Pensando bem, coloquemos os pés no chão; chega de conjeturas e especulações puramente mundanas, combinado? Melhor mesmo é me idealizar com os olhos da imaginação, moldar-me com a essência dos sonhos... e se quiser dar aquela caprichada no visual - a arte final! -...pinte-me com as caóticas tintas dos pesadelos: assim fico igualzinho a você: vo-cê!

Assustei?...Não mesmo? Que bom, pois tenho um segredinho: tu é meu brother, cumpadi. Claro... Caso contrário nem estaria perdendo meu tempo com ti, aqui nessa filial do inferno (que calor!). Pense bem... Quem teria a coragem de lhe falar sobre as consequências dessa – como dizia vovó – “...roeção de unha até virar toco, mó fio!”; e olha que nem mencionei a evolução para câncer estomacal e a subsequente...Que foi? Não diga que levou a sério aquela história do pesadelo... e pare de se olhar na tela desse jeito... Notebook não é espelho: eu sou eu, você é você e ponto final... Mesmo que eu prefira um continuativo.

Sabe... Depois dessa lenga-lenga acho mesmo que gosta de me ouvir, e eu... bem... Aprecio o brilho do suor e o monótono "tuc-tuc-tuc" do roer de unhas... Mas o que realmente me fascina é o que está debaixo delas... Não, não me refiro a muco, pele, carne e osso... Continue, assim, assim, assim! Nervoso? O que realmente me fasc... Não pare!... Rápido e forte, forte!!... Assim, isso!!... Continue que chega lá... no fundo de sua obsessão – o âmago da minha saciação! –, e mesmo que não possa me ver nem eu te convencer... Saiba que respiro, transbordo e vivo: dentro de "você".

FIM

Ramon Bacelar
Enviado por Ramon Bacelar em 29/12/2012
Reeditado em 29/12/2012
Código do texto: T4058582
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