O Terror Vêm do Mar.

Os Terror Vêm do Mar

Jorge Linhaça

Noite quente, a praia movimentada, casais bebericando e petiscando em doce cumplicidade com a lua cheia e marulhar das ondas. Um clima “pra lá” de romântico

Metros dentro do mar, corpos em vários estágios de decomposição, recobertos de algas, crustáceos, cracas e corais, emergem gradualmente do oceano.

Caminham claudicantes e titubeantes em direção à praia sob o olhar estupefato e aterrorizado dos frequentadores.

O exército de mortos vivos exalava um cheiro peculiar, uma fétida mistura de maresia, iodo e matéria em decomposição.

Incrédulos, os banhistas, pescadores e barraqueiros, demoraram a dar-se conta da situação. Em um primeiro momento acharam tratar-se de alguma pegadinha, algum clipe musical ou mesmo um filme B que estivesse sendo gravado ali naquela localidade.

No entanto nenhuma câmera estava disposta sequer nos arredores.

O pelotão de zumbis encharcados ia se avolumando e ganhando terreno, despontando de vários locais sem emitir um único ruído senão o do caminhar dentro da água.

O grupo silencioso ia se agrupando ao longo da praia, permanecendo imóvel na linha imaginaria inconstante que separa as ondas da areia, como que comandados por uma força invisível e onipresente em seus cérebros desfeito, ou contidos por alguma barreira de energia.

Entre os defuntos redivivos, esqueletos surgiam com farrapos de antigos uniformes e o que restara de suas armas antigas e que serviam de adereços para a macabra procissão.

As pessoas ficaram paralisadas, não conseguiam desprender seus olhos das abomináveis criaturas que agora vinham caminhando em sua direção. Os gritos ficaram presos em suas gargantas e nenhum músculo obedecia ao comando do cérebro.

No céu a lua espraiava seus raios sobre os zumbis, conferindo-lhes um ar ainda mais fantasmagórico, com uma áurea prateada a marcar seus contornos.

Como que vindo do nada, o vento chegou veloz, uivando alto por entre os fios elétricos tal e qual um gigantesco fantasma a enregelar a alma dos presentes.

Os zumbis se aproximavam, caminhavam em direção aos humanos transpondo a outrora invisível barreira.

O medo estampava-se nos olhos daqueles que presenciaram a cena, aguardando pelo desfecho trágico de suas existências.

O exército macabro avançou sobre a população e, quando a morte parecia inevitável, os zumbis atravessaram os corpos dos vivos, deixando para trás, como única prova de sua presença, um limo verde que grudou-se aos corpos dos banhistas e trabalhadores.

Desfizeram-se no ar para espanto dos presentes e ninguém jamais conseguiu explicar o ocorrido, pois, sinceramente, não sabia sequer se podiam acreditar naquela experiência.

A história ficou praticamente restrita aos habitantes do local e alguns outros mais próximos que tomaram conhecimento dela através de relatos cobertos pelo manto do sigilo.

Salvador, 28/12/2012.