O Sorriso Do Mal.

I

Felipe chegou na sua nova casa com esperanças de vida nova.Apesar do tempo, as últimas tragédias de sua vida ainda martelavam em sua mente, mas ele estava decidido a esquecer tudo e tentar a sorte naquela pacata cidade.Patos tinha pouco mais de 100 mil habitantes e era extremamente calma, pessoas sentavam-se nas calçadas a noite para conversar enquanto crianças brincavam de bicicleta ou amarelinha.”É bem o que Julia precisa”, era o que pensava o homem de 37 anos de idade.

Quando jovem, ele chegou ao mais alto patamar que um escritor poderia desejar: Seus livros estavam sempre entre os mais vendidos do país e não demorou muito para entrarem para as listas mundiais.Todo esse sucesso e dinheiro acabou por dar uma vida de luxo ao tímido rapaz, terminou casando com outra escritora e juntos tiveram uma linda filha chamada Julia.

Julia nasceu em uma noite muito sombria, chovia do lado de fora e, então, Felipe não teve como levar sua esposa para o hospital.O parto foi longo e bastante complicado, o homem não sabia o que fazer e logo a mulher estava gritando enquanto sangrava, a visão era capaz de aterrorizar até mesmo os mais experientes médicos.

Depois de 30 minutos de pura agonia a menina finalmente nasceu e seu pai desceu até a cozinha para cortar o cordão umbilical, foi ai que escutou um som aterrorizador.A risada lembrava um choro de bebê, subiu as escadas correndo e encontrou sua esposa morta na cama.Pedaços de seu intestino estavam espalhados pelo chão, juntamente com o coração, que estava cortado pela metade.A outra parte nunca foi encontrada...

A policia não soube explicar o que havia acontecido, mas o viúvo sabia a verdade.Ele já havia escutado aquela risada, no dia em que sua mãe foi assassinada.

Mas é hora de voltar á aquela tarde de verão, onde o escritor estava colocando algumas caixas no lugar.

II

Quando terminou de organizar as coisas, Felipe olhou para sua filha.Ela realmente era bem bonita para uma menina da sua idade.Julia tinha 3 anos, do alto de seus 1,30m de altura longos cabelos loiros encaracolados caiam sobre seus ombros, seu rosto angelical lhe dava um ar de pessoa doce e gentil.

-Papai, por que nós temos que vim pra cá?

-Porque o papai está trabalhando em um novo livro e precisa de tranquilidade.Na verdade, isso era apenas uma “meia-verdade”.O escritor realmente estava escrevendo um novo livro, mas o real motivo da mudança de cidade era outro.Apesar de ser muito gentil, a menina tinha dificuldade em se socializar e seu pai estava ficando preocupado.”Mudar para uma cidade pequena é exatamente o que Júlia precisa” Pensou novamente.

-Tá, mas eu quero ver a casa.Vamos comigo? Perguntou a menina e, sem esperar por nenhuma resposta, começou a andar pelos cômodos da residência.

-Ei, calma ai apressadinha.Falou o pai, enquanto sorria pelo canto inferior da boca.

Exploraram a casa por alguns minutos e logo perceberam que ela era simples e aconchegante.A noite chegou e eles comeram pizza enquanto assistiam um filme de terror.Sim, o homem sabia que filmes de terror são inadequados para crianças daquela idade..mas a verdade é que a menina se interessava muito pelo gênero e Felipe via nela uma potencial futura escritora de terror.Quem sabe isso não era apenas um desejo paterno de que sua filha seguisse seu caminho?

Bem, na casa tudo correu normalmente e logo eles foram dormir.

-Amanhã vamos até o parque e talvez você faça algumas amiguinhas.Boa noite, minha princesa...

Bem, é verdade que o outro dia aguardava uma surpresa.Mas seria ela boa ou má? Eis o que você vai descobrir lendo, caro leitor.

III

Quando chegaram no parque, os novos moradores foram acometidos por dezenas de formalidades que variavam entre “Bem vindo a nossa cidade, espero que goste” e “Venha jantar em minha casa hoje, minha mulher faz um ótimo filé no molho de madeira “.Terminado esse momento torturante para o tímido homem, ele e sua filha foram brincar no balanço.

Ao chegarem lá se depararam com uma cena estranha: Ao invés de encontrarem dezenas de crianças brincando, o que eles acharam foi uma menina muito bonita brincando sozinha.Apesar da solidão, ela parecia estar feliz e balançava-se com ferocidade.

-Oi garotinha, seus pais sabem que você está aqui? Perguntou o escritor, enquanto aproximava-se da garota.Pelo seu tamanho e feições, ela parecia ter a mesma idade que sua filha.”Talvez elas possam ser amigas”

-Sabem sim, é que sempre brinco sozinha.As outras crianças não gostam de brincar comigo.Foi o que respondeu a solitária criança.

-Por que? E qual é seu nome?.Júlia havia se interessado pela menina, ela era tão bonita..

-Não sei, só não gostam de mim.Meu nome é Mariana, e o seu?

-Meu nome é Julia, posso brincar com você?

-Claro, senta aqui do meu lado.Disse Mariana, depois de alguns minutos as meninas pareciam que eram amigas á muitos anos, conversavam e brincavam alegremente sem se importar com o tempo.”Nossa, acho que ela realmente fez uma amiguinha”, pensou Felipe, enquanto convidava Mariana e sua família para jantarem em sua casa.

-Ah, nós vamos sim.Disse a menina, enquanto se despedia e começava a correr em direção ao estacionamento.

Assim que chegaram em casa, pai e filha começaram os preparativos para o jantar.Devido ao seu início complicado na vida de escritor, onde ele não conseguia nem mesmo dinheiro para moradia, Felipe teve que aprender a se virar sozinho durante muito tempo e por isso sabia cozinhar muito bem.

Depois de discutir o que iriam fazer, acabaram decidindo que iam fazer uma lasanha.Fizeram o prato e arrumaram-se para receber as visitas, as 20:00 em ponto a campainha tocou e a porta foi aberta.O que o homem viu não foi nada comum, parado na frente de sua porta estava Mariana, sozinha.

-Oi, onde estão seus pais? Perguntou o escritor, enquanto a menina entrava em sua casa.

-Eles não puderam vir e então eu vim sozinha.Algum problema, senhor?.Respondeu a garota, sua voz era tão doce e gentil que acabou fazendo o homem esquecer de perguntar o porque.

-Não, claro que não.Vamos até a cozinha, Júlia está te esperando.

Assim que chegaram no cômodo, sentaram-se todos na mesa e começaram a comer.A conversa das crianças era tão empolgante que o adulto resolveu tomar uma taça de vinho, estava feliz.Sua filha finalmente estava tendo um bom relacionamento e em tão pouco tempo! Parecia que Mariana sabia como agradar sua nova amiga..

Agradava até demais.. não acha, leitor?

IV

Os dias passavam bem rápido e tudo estava se acertando, o escritor finalmente estava conseguindo esquecer as tragédias e tinha voltado a escrever –Coisa que não fazia desde a morte de sua esposa-.Mariana estava cada vez mais presente na casa e sua amizade com Júlia estava ficando mais forte a cada dia que se passava, a cada segundo.Apenas uma coisa estava incomodando Felipe..

-Mariana, quando eu vou conhecer seus pais? Perguntou o homem, em um dia qualquer.

-Ah..é que eles não estão aqui.Quer dizer, bem..eu não sei..eles são sempre muito ocupados.O nervosismo na voz da menina era evidente, logo ela começou a suar e rapidamente desviou a atenção para si chamando Júlia para brincar.

Felipe não desistiu fácil e logo resolveu fazer uma procura na internet.Digitou o nome e sobrenome da garota mas não encontrou nada concreto, apenas um endereço de algum hospital ou clínica no fim da cidade.Levantou-se da cadeira e pegou o casaco mas antes de sair observou as crianças pela janela, elas estavam brincando de amarelinha.”Vai demorar apenas um segundo, o que pode acontecer” Pensou, antes de ligar o carro e seguir em direção ao endereço.

De fato.. o que pode acontecer?

V

A estrada era de barro mas a distância não era tão grande e por isso o escritor chegou logo no endereço.Assim que desceu do carro reparou algo estranho: Não se tratava de uma clínica, e sim de uma casa comum no meio de uma floresta qualquer, estranhando a situação o homem bateu na porta da frente por alguns minutos.Não obteve resposta.

Resolveu dar uma espiada pelas janelas laterais, tinha certeza de que o endereço era aquele!.Assim que olhou pelo vidro foi acometido por uma das piores visões que um ser humano pode ter..Dezenas de cadáveres nus estavam amontoados no chão da residência, todos estavam mutilados e alguns tinham fraturas expostas.O mais estranho é o agrupamento das cabeças soltas formavam palavras, a mensagem era clara..

TE PEGUEI!

Tomado pelo medo, Felipe correu em direção ao carro e acelerou em direção a sua casa.O caminho de volta parecia mais longo, o carro parecia mais lento e um som ecoava por sua cabeça..algo mais parecido com vozes em sua cabeça, debochavam dele..O som debochava dele.

Assim que chegou em casa notou que as crianças não estavam brincando do lado de fora, entrou dentro de casa com passos cautelosos e logo a porta atrás de si fechou sozinha.Imediatamente uma voz assustadoramente alta e demoníaca ecoou por toda a residência, as palavras que ela proferia causaram um choque profundo no coração do homem.

-Olá Felipe! Viu o presentinho que eu deixei pra você? Vejo que você não mudou nada, né? Sempre deixando seus entes queridos sozinhos..Achei que já tivesse aprendido.

-QUEM É VOCÊ? O QUE QUER?.O escritor gritava em desespero, tentava abrir a porta mas não conseguia.Estava preso.

-Você sabe quem eu sou.. e também sabe o que eu quero.Depois de pronunciar tais palavras, a voz mudou drásticamente de timbre, se tornou mais fina e aguda.O risinho veio logo depois.

O RISO!

-VOCÊ! SEU MONSTRO! ONDE ESTÁ A JULIA E A MARIANA? O QUE VOCÊ FEZ COM ELAS?

-Idiota, eu SOU a Mariana.E a sua queria Julia está no quarto dela..

A verdade veio como um baque..”Todo esse tempo..e eu não percebi! PELOS DEUSES, COMO EU SOU IDIOTA!”, pensava o escritor, enquanto subia as escadas desesperadamente.Assim que chegou no quarto de sua filha, abriu a porta e novamente foi acometido por uma visão digna de fazer virgens chorarem.

Deitada na cama, estava o cadáver de Júlia.Exatamente como sua mãe, ela estava com o estômago aberto e pedaços de seu intestino espalhavam-se pelo chão, até mesmo seu coração estava comido pela metade.

Do lado da cama estava uma versão bem diferente de Mariana, ela estava bem mais alta e seus cabelos estavam tão longos que batiam no chão.Seu olhos eram apenas dois buracos negros, o nariz dera lugar a duas grandes brânquias.Mas o mais horripilante era sua boca, os lábios grandes e carnudos estavam abertos, revelando dentes grande e pontiagudos..eles ainda mastigavam o coração da garota.

-VOCÊ.. O QUE VOCÊ É? O QUE DIABOS VOCÊ QUER DE MIM?

-Sabe.. um escritor uma vez disse que monstros são reais.Bem.. eu digo que eles nós somos reais porque VOCÊS acreditam que nós somos reais..

-QUE PORRA VOCÊ TÁ FALANDO?.O raiva fazia o homem pensar em avançar contra o monstro, mas o medo o impedia de fazer isso..até mesmo a voz da criatura era o suficiente para lhe assustar.Era um misto de voz de bebe com rosnados caninos...

-Pense bem, Felipe..você me criou.

Novamente o baque..No profundo de sua mente Felipe percebeu que aquilo era verdade.Lembrou-se de quando era criança e fizera um pedido a um homem de preto..Pediu para que o que ele escrevesse se tornasse realidade..”Pelos Deuses, eu só queria que minha casa virasse de chocolate..igual á como eu escrevia!”

O que aconteceu em seguida realmente foi inusitado, leitor..o nosso protagonista desceu as escadas correndo e ligou todas as bocas do fogão e acendeu todas, também incendiou todas as cortinas e pulou a janela da casa.Quando saio da residência começou a gritar e a chorar, multidões começaram a se amontoar ao redor da casa, na tentativa de apagar o incêndio.

-VOCÊ VAI QUEIMAR! VAI MORRER ASSIM COMO ELAS! SUA DESGRAÇADA!

O fato inusitado é que os vizinhos, sem entender a situação, acabaram achando que o homem tinha tocado fogo na casa para matar sua filha , pois os gritos do monstro foram confundidos com possíveis gritos de Júlia! Logo, as pessoas começaram a espancar o escritor, que não reagia.

”Minha vida acabou mesmo..pelo menos eu destru..”

O pensamento de Felipe foi interrompido pois algo chamou sua atenção: No meio da multidão ele viu Mariana, exibido os longos e claros dentes pra ele..Ela era tão bonita.O som da risadinha foi a última coisa que ele escutou em sua vida.

FIM

Vou dedicar este conto a duas pessoas:

A zeni, que vem me ajudado MUITO desde que eu cheguei aqui..Desde apoio até a dicas para escrever melhor..Zeni, você é Show xD

E principalmente ao Felipe, que tem agido como um verdadeiro "Fessor" pra mim e me motiva cada vez mais..(Ele até me "desafiou" a escrever esse conto xD)

Comentem!!

Ah, e esperem trabalhos novos no próximo ano..vou fazer uma parada um pouco diferente.

Rayan Fernandes
Enviado por Rayan Fernandes em 22/12/2012
Reeditado em 22/12/2012
Código do texto: T4048060
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