“Medo”
Segunda parte.
Ele começa a limpar, bate a porta, o que é isso? Que coisa nojenta.
Em seguida volta desconfiado; será que ela viu isso lá no banheiro? Ele se pergunta.
Por alguns minutos ele pensa, não foi uma boa idéia chamar essa moça para vir aqui, ela pensa em sexo, mas não foi isso que eu pensei, e agora? Depois de varias tentativas para transar com o rapaz ali mesmo no sofá da sala do apartamento, Adriana resolve desistir, logo pensou; ele deve ser gay.
Vou esperar para ver o que vai rolar.
Levantou-se e ao sair, Rubens viu verme caindo do corpo dela.
O cara tomou um susto, pulou para traz sentado no sofá, caramba, o que é isso? Ela olhou para ele e perguntou; o que foi? Você esta assustado! Rubens vê o rosto da moça desfigurado, roxo, peles que se soltavam caindo por cima dos olhos.
Ele se desespera, e começa a gritar, vai embora, vai, sai daqui, vai embora, minha nossa você não é humana, vai embora daqui.
O desespero toma conta do subconsciente de Rubens, o desespero o leva a sair correndo vestido ainda com um roupão atoalhado pelos corredores do prédio. Adriana – que cara maluco, eu em.
Vou me trancar em casa, este cara poderia ter me matado.
A gritaria acorda muita gente do andar que Rubens mora, todos ficam assustados, pensam que bandidos entraram no prédio, em seguida; varias ligações são feitas para a portaria, todos querem saber se aconteceu alguma coisa, ou se entrou alguém estranho no prédio.
A policia é chamada e ao chegar, não tem idéia do que acontece.
Apenas o porteiro sabe.
Mas não tem nada a declarar e a Policia vai embora.
Quando o dia amanhece, Adriana sai e vê Rubens sentado dentro do carro no estacionamento, uma cena no mínimo embaraçosa; ela não sabe se cumprimenta o cara ou se finge não o ver, não faz idéia do terror que foi para Rubens na noite anterior.
Decide passar caminhando apressadamente e entra em seu carro.
Rubens observa tudo, mas sem se manifestar.
Ele vai para o Hospital aonde trabalha e comenta o ocorrido com um colega, Fabio.
Fabio – Rubens, você precisa deixar de ser Psicólogo e ser paciente.
Tua situação esta ficando cada vez mais grave.
Rubens comenta com Fabio que esta cada vez mais real suas visões aterrorizantes, já é paranóia.
Durante o dia, Rubens não atende nenhum paciente, ele pede para sua secretaria cancelar seus compromissos e planeja uma viagem, ao comentar com o colega; Fabio.
Fabio contesta sua decisão de viagem e sugere uma cessão de analises, uma viagem agora seria perigoso.
Mas Rubens esta decidido e não da ouvidos ao Fabio.
Sendo assim, ele sai do hospital por volta das treze horas e vai para casa arrumar a bagagem.
Decidido a viajar, ele sai à noite e vai de carro.
Em seu pensamento teria mais opções para apreciar a paisagem.
Ainda hoje à noite ele parte em direção á Goiânia.
Uma viagem de carro com mais de 1000 km pode ser cansativa para quem não esta acostumado dirigir nas estradas.
No caso de Rubens, uma loucura.
Seu estado de saúde mental pode acarretar um grave acidente.
Mas a decisão foi tomada e apenas Fabio sabe desta decisão de Rubens.
Ao parar num posto de gasolina na saída do Rio de Janeiro, Rubens percebe que um homem dentro de um carro preto o observa, e logo que Rubens sai do posto, vê que o homem do carro preto começa a segui-lo.
Será paranóia ou real? Para Rubens nada é paranóia, sempre tem alguém querendo pegar ele.
Depois de dirigir 100 km, o carro preto ainda continua sendo observado pelo retrovisor do carro de Rubens, Merda; resmunga Rubens, qual a desse cara? Na próxima parada, vou conversar com ele e ver qual é.
Ao chegar numa parada, ele estaciona o carro e faz menção de sair.
Porem, ao olhar no retrovisor para visualizar o carro que o seguia; não o vê.
Rubens procura o carro preto, e nada de encontrar.
Rubens passa a mão no cabelo, busca na memória e lembra, ele também entrou no desvio para o posto, ele entrou; eu vi.
Mas onde esta? Para desencardo de consciência Rubens vai ao frentista que abastece o tanque de um Cavalo mecânico e pergunta, o senhor pode me dizer aonde parou um carro preto que entrou logo atrás do meu carro aqui a uns dois ou três minutos? O homem olhou para Rubens com meio sorriso e responde; não senhor.
Não vi ninguém, só vi seu carro e vi que o senhor demorou um pouco para sair, meu colega ficou ate preocupado, pensou que fosse mais um assalto, esta região é muito perigosa.
Rubens agradece o frentista, pede para completar o tanque e sai em direção aos sanitários, lá; Rubens lava o rosto e olhando por baixo, vê as pontas dos pés de alguém, mas os pés que Rubens vê; não é de humano, são pés de bode, Rubens se assusta e olha direto para cima, em direção a possível face daquela coisa que esta ali a observar lavando o rosto.
Rubens vê um homem negro, com lábios grossos e no lugar de cabelos, é como se fossem escamas de peixe.
Rubens fica estático, sem movimento.
O bicho feio pergunta; ta com medo mim? O que foi? Porque não fala nada, em seguida a porta da frente do sanitário se abre, são dois motoristas, um do cavalo mecânico que estava sendo abastecido e o outro o chefe dele, o dono do cavalo que teria ido ao encontro do motorista, seu empregado para levar ordem de carga ao empregado.
Eles entram sorrindo, falando alto.
Com isso a memória de Rubens se desperta; ele reconhece que o homem com pés de bode e cabeça de peixe, é o frentista que vai a procura do cliente para avisar que o carro já esta abastecido e que ele precisa remover o carro para desimpedir a saída do cavalo mecânico.
Rubens teria estacionado o carro para sair logo, mas demorava no banheiro, daí o frentista teria ido ate o cliente viajante para solicitar que retire o carro. Ao ficar só no sanitário, Rubens fica por segundos com o pensamento perdido, como quem busca resposta num mundo vazio de lembranças e imagens distorcidas.
Ao voltar ao carro, Rubens liga para Fabio, novamente comenta com o amigo o que aconteceu, Fabio fica calado; ao mesmo tempo tenta dar a noticia de sua mãe, mas agora? O que eu faço? Pensa Fabio - Digo ao Rubens que sua mãe sofreu um acidente nas estradas e esta morta, ou o acalmo por telefone e dou-lhe a noticia pessoalmente? Fabio se vê numa situação confusa.
Mas decide não avisar o amigo e apenas o acalma, decisão rápida tomada por Fabio.
Rubens percebe a indiferença na voz do amigo, mas não pergunta nada, apenas desliga o telefone, entra no carro e sai em direção à auto-estrada, já passa de onze horas da noite, a lua brilha na imensidão da noite, palidamente clareada pela deusa da noite; lua.
É sua mais nova companhia.
Pouco antes de entrar na próxima cidade, Rubens vê um jovem à beira da estrada, ele não titubeia e para o caro a uns dez metros a frente olha no retrovisor e não vê ninguém, que droga; Resmunga, eu caindo novamente na ilusão da minha cabeça. Porem na janela do passageiro o peregrino da estrada esta parado, olhando dentro do carro, Rubens leva um baita susto.
O jovem tem uma bombeta caída sobre o rosto sombrio, uma jaqueta de couro jogada sobre as costas.
E fica ali, imóvel.
Rubens insiste, quer uma carona? Entra ai, eu estou cansado de viajar só e minha mente esta meio perturbada, vai entra logo.
Porem, o cara não fala nada, lentamente levanta o rosto.
Rubens o reconhece; é Luiz, seu irmão morto a mais de doze anos por overdose de cocaína.
Novamente Rubens entra em surto psicótico, seu coração dispara de tal forma que parece explodir.
Mas Luiz da à mensagem á seu irmão, Mamãe, mamãe, morreu.
Ela esta sendo velada no velório do hospital o qual foi levado as vitimas do capota mento do ônibus.
Rubens reage tentando recuperar a memória, isso não é verdade, não pode ser; eu estou louco, estou sem controle, agora tudo que eu vejo é fantasma, Luiz – mamãe, morta, mamãe morta e vai caminhando em direção ao matagal à beira da estrada, Rubens percebe seu irmão evadindo-se e vai atrás.
Mas o perde na escuridão da mata.
Volta correndo para o carro, pega o telefone e liga para o amigo Fabio no Rio, Fabio a esta altura dorme, e acorda com a chamada insistente em seu telefone fixo, Fabio – alo aalooooo.
Do outro lado, silencio.
Fabio percebe; é Rubens, será que ele bateu o carro? O que terá acontecido? Com a voz embargada, Rubens fala Fabio, Fabio, você esta me ouvindo? Sim, fala Rubens, aconteceu alguma coisa? Rubens - aconteceu, eu estou louco de vez, agora já sou uma ameaça para a sociedade.
Meu; o Luiz, meu irmão, aquele que morreu devido às drogas me apareceu, você não vai acreditar, ele me disse que a mamãe morreu, pode uma coisa desta? Rubens pergunta - Fabio; isso é uma premunição? Fabio – eu não sei em se tratar do teu quadro eu não sei, mas tua mãe morreu mesmo.
O silencio do outro lado é imediato por cinco ou dez segundos, derrepente um grito de desespero se ouve no aparelho de Fabio; nãooooooooooooo. Nãoooooo, isso não pode ser, o que eu faço? O que eu faço?
Novamente o silencio, em seguida, cai à linha, ficando apenas o barulho de sinal de telefone desligado.
Fabio tenta ligar de volta, mas inútil.
O telefone com sinal de fora de área.
Rubens conclui a viagem apesar da dor e das tormentas que o aflige. Chegando a Goiânia, ele não vai ao congresso de Psicologia, decide ficar no Hotel.
Uma amiga fica sabendo dos fatos e, que Rubens esta na cidade e vai ate o Hotel visitar o amigo.
Ao chegar à presença do amigo, vê um homem totalmente arrasado, suas palavras não batem uma com a outra, não faz sentido, totalmente fora de nexo.
A internação na ala Pisiquitraca num hospital é inevitável.
Fabio toma um avião e se desloca do Rio de Janeiro indo á Goiânia para encontrar o amigo.
Lá, ele encontra Bárbara, uma amiga de Rubens e dele nos tempos de faculdade.
A situação de Rubens é lamentável, uma junta Medica diagnóstica a doença de Rubens e constata um quadro Psicótico irreversível.
O que poderia causar tanta dor a ele? Tanta tormenta! A ponto de ele surtar de vez.
Pobre Rubens, na infância os pais separaram-se, na adolescência; o irmão morre. Agora sua mãe.
Será o medo a causa de tanto sofrimento? A causa de tanta desgraça na vida de Rubens? Enfim, nada se pode fazer, Fabio e Bárbara se comprometem a cuidar do amigo que agora parece vegetar num mundo de loucura, um mundo só teu, onde o medo, a solidão, a magoa, o desprezo já não o podem mais feri-lo.
Apenas uma janela aberta e protegida com grades de segurança para Rubens olhar lá fora o mundo que ele não pode ser feliz, um mundo que o medo de tanta coisa, agora o protege dentro de um quarto de pouco mais de dez metros quadrado, mas o medo por certo ainda esta lá. Porem só Rubens o sente.
Uma lagrima escorre dos olhos de Fabio, Bárbara a apara com o dedo delicado e com uma voz tremula, carinhosa, diz a Fabio; vamos, vamos embora, vai ficar tudo bem. Tudo bem!
---FIM---