A GALINHA DE OURO

Sobre a estante de mogno envernizado, repousava soberana a galinha dourada, objeto cobiçado por todos os filhos do velho viúvo, uma relíquia de família, toda feita de ouro com os olhos de rubi; analisando bem, o enfeite além de inútil era horroroso, aqueles olhos vermelhos pareciam brasa e corpo era meio desproporcional, podia nem ser uma galinha. O objeto de aproximadamente 15 centímetros de altura era pesado e se sustentava sobre uma base de madeira, contornada por runas, ninguém sabia ao certo o quanto valia, mas todos supunham que era bastante.

Dizem que a pobre velha, mãe de sete filhos, morreu sentada na poltrona com os olhos fixos na galinha, sua face estava carregada de um desespero que jamais se viu em um defunto e esse fato só fez aumentar a curiosidade acerca do objeto tão desejado por todos que lhe botavam os olhos.

A origem do enfeite era desconhecida e o fascínio que despertava nas pessoas, misterioso. O senhor idoso já próximo dos noventa anos passava horas a fitá-la em silêncio, e depois da morte da esposa passou da da admiração para a obsessão pelo precioso artefato; e os filhos... aguardavam ansiosos por sua morte. O velho nunca mencionara um testamento, e seus herdeiros cobiçavam a galinha... a casa, o dinheiro no banco, o carro não eram tão desejados quanto o enfeite de ouro.

Nessa casa, todos caminhavam torpes e paravam hipnotizados em frente a estante... naquele dia a cortina xadrez balançava com o vento revelando os rostos perplexos: sobre o piso de madeira manchado o objeto não parecia ter valor algum, ao lado de crânio esmagado do idoso repousava a galinha com um manto vermelho e os olhos flamejantes tão desejados... ali na pequena sala os cinco filhos se entreolhavam, tentando encontrar dentro dos olhos de algum, o culpado, mas o que nenhum deles sabia, é que aquela galinha nem sempre fora um simples enfeite, e algo no infindável universo tinha para ela propósitos mais dignos de sua origem obscura.