A Casa Número 15

Sorridente o agente imobiliário recebeu Evaristo em frente da casa em que recebera de herança. Uma casa velha sem uso há muito tempo, deixada por um tio que poucas vezes fora cuidar do imóvel.

Depois de tudo acertado, Evaristo entrou na casa e não gostou do que viu, muito pó e muito por fazer para deixar aquela casa com aspecto de lar.

Só uma coisa parecia estar em boas condições, o numero 15 da porta de entrada estava ainda bem conservado, aspecto de algarismo antigo feito em bronze. Piso em madeira já bem velha, rangendo aos passos, portas e janelas também de madeira, ainda estavam firmes, mas mal conservadas. Mas como estava numa dureza danada e pagando aluguel, essa herança veio a calhar muito bem, não podia reclamar.

Chamou os amigos no fim de semana pra ajudarem na limpeza, mudança e arrumação das coisas, com promessa de um churrasco em quem todos deveriam colaborar com alguma coisa, seja uma caixa de cerva ou carne.

Assim foi o final de semana sem surpresas, até agora. Já era o final do domingo, todos os seus amigos tinham ido embora e só ficara ele. Ainda tinha uma hora de sol até chegar a noite por completo.

Estava sentado na mesa da cozinha, de frente a uma janela ao qual entrava a luz do sol pela frestas da persiana semi aberta, estava no notebook, acertando umas planilhas para o seu orçamento, ao seu lado o corredor dando acesso aos outros cômodos da casa. Escutou um barulho de dobradiça enferrujada, devia ser uma das portas velhas, deduziu ele. Novamente o ranger da dobradiça e dessa vez vinda com grande estrondo de porta batendo.

Evaristo que estava sentado quase caiu com o susto, se levantou e foi para o corredor, achou estranha a batida de porta, pois não estava ventando, nem brisa havia naquele momento. Chegou até a porta de um quarto que estava desocupado, levou a mão até a maçaneta e girou com certa dificuldade, estava rígida e enferrujada. Abriu a porta com aquele ruído irritante e não viu nada no quarto, fechou a porta e se virou para voltar à cozinha. Uma voz quase inaudível disse ao pé do seu ouvido:

— Saia daqui…

Um arrepio que percorreu sua espinha o deixou congelado por um segundo na mesma posição. E por um instante sentiu frio de verdade, como se uma brisa gélida o envolvesse. A respiração ofegante e o coração batendo rápido. Pensou: “O que foi isso?…”

De novo a voz:

— Sai daqui!!!... Agora mais alta e estridente.

Evaristo virou-se e viu um vulto passando pelo corredor, indo até o quarto vazio, não teve coragem de entrar lá novamente. Correu, correu como louco até a porta de saída, dando com o rosto na porta, trancada, procurou nos bolsos e não encontrou as chaves. Lembrou que estavam em cima da mesa da cozinha, foi até lá e se deparou com uma visão que o deixou pasmo, boquiaberto, uma silhueta de uma pessoa, não tinha pernas, era semitransparente, parado, o rosto tinha feições masculinas, flutuando na cozinha, roupas antigas. Evaristo não acreditava, começou a pedir a Deus que tivesse misericórdia de sua vida e nesse momento olhou bem no rosto da aparição, que se transfigurou de um aspecto pálido para pútrido, o ar da cozinha ficou frio e denso e a voz continuou zumbindo em seus ouvidos:

— Vai embora!!! Esse lugar é meu!!!

O espectro agora parecia um demônio do inferno e investiu contra Evaristo o lançando ao chão.

— Socorro!!!

Gritava Evaristo, mas a casa era isolada e a rua mal iluminada, poucos se aventuravam por aquelas bandas quando anoitecia. Um garoto que passeava de bicicleta ouviu um grito e tratou de relatar para sua mãe, que prestativamente acionou a policia.

Dez minutos após o chamado, policiais chegaram e disseram para abrirem a porta. Diante do silencio eles arrombarão e avistaram um corpo no chão, mas estava ainda vivo.

O resgate chegou logo depois e socorreu Evaristo que atordoado, chorava e balbuciava algumas palavras...

— Não quero voltar pra lá moça… O diabo tá lá…!!!

Evaristo nunca mais se recuperou, constantemente ia ao psicanalista e se mudou para outra cidade. O ocorrido ficou registrado como “o caso da casa 15” pela policia e virou alvo de especulações por parte da imprensa e vizinhos. A casa ficou novamente abandonada e ninguém foi reclamá-la para si, mas ainda hoje há quem jure que viu uma sombra de alguém na janela da casa 15.