O TREM DA MEIA NOITE

Em meio ao frio, mais uma vez lá estava aquele Senhor, sentado em uma Estação de trem a espera do último transporte da noite. De minha janela sempre o observei e pensava com meus botões:

- O que levava uma pessoa a escolher um trabalho a noite, por que aquele homem se sujeitava a trabalhar até tão tarde, ignorando os perigos que rondavam a região?

Aquela era uma região muito tenebrosa, a cidade de Vassouras, principalmente a noite, quando todos já dormiam. Contam os mais antigos da região, que aquele trem da meia noite tinha estórias para contar. Aquela foi uma região de muito sofrimento para os escravos, foi um local onde os Senhores de Engenho, os chamados Barões do café, no auge da economia cafeicultora no Brasil, sendo o maior exportador de café do mundo. Eles ganharam muito dinheiro, enriquecendo as custas da exploração do trabalho escravo dos negros, causando até mesmo a morte a muitos. Foi um enriquecimento ilícito a custa de muito sangue.

Contam que certa noite, um passageiro pegou o trem da meia noite, ele estava quase vazio e os poucos passageiros foram descendo ao longo da viagem, quando ele se viu sozinho, ouviu um barulho horripilante como um lobo, com a aparência de um lobisomem, de estatura alta, o corpo coberto de pelos negros, olhos grandes e caninos afiados. Uivava dentro do trem. O trem parecia aumentar a velocidade, correndo desenfreadamente. Os uivos do lobo iam aumentando o volume, como a se aproximar, ele já sentia sua respiração ofegante e seu cheiro necrosado, como se tivesse a carne podre. O passageiro temeu por sua vida, mas só restava orar.

Estava ele assim tremendo de medo quando olhou para o lado os olhos do animal brilhavam feito labaredas de fogo, ele investiu para o passageiro, atacando-o, dilacerando sua carne e saciando sua fome animalesca. foi muito sangue e gritos no vagão.

No dia seguinte o passageiro foi encontrado dilacerado em meio aos bancos do trem, lavado em sangue, seu corpo não tinha mais nem uma gota.

A estória se espalhou por toda a vizinhança, que ao anoitecer recolhia-se temendo pelo pior. Somente os desavisados tinham coragem de embarcar naquele trem da meia noite. Contam inclusive que as autoridades já quiseram acabar com o trem daquele horário. E retiraram esse horário de trem, e para surpresa, a meia noite a locomotiva entrou nos trilhos na direção da estação, parando lá a meia noite em ponto, o intrigante era que não havia maquinista conduzindo a mesma. Desde então as autoridades não se atreviam a desafiar a locomotiva, que tinha vida própria, conduzida por força transcendental, por essa razão o trem continua circulando no horário da meia noite.

Certa vez estava eu aqui da minha janela, e observei que o trem saiu da plataforma um pouco antes, e logo em seguida retornou, como que guiado por uma força sobrenatural. Saindo novamente somente a meia noite. Após esse dia passei a vigiar o trem da meia noite, pois sempre havia algo estranho em torno do mesmo.

O que me intrigava mesmo é aquele passageiro assíduo do trem da meia noite que estava sempre a sua espera. Será que ele não tinha medo, ou não sabia do perigo que corria?

Contam que logo que inauguraram a estação de trem, na segunda metade do século XIX, certa noite, todos os passageiros daquele horário foram assassinados, encontrando-se somente os restos mortais lançados aos quatro cantos do trem. Desde então somente um desavisado tem coragem de entrar nele.

Enquanto isso entrava noite e saia noite e lá estava o passageiro misterioso. Não se cansava de esperar e quando o trem chegava na estação ele era o único passageiro a se aventurar a entrar. O estranho é que na noite seguinte lá estava ele novamente, intrigando a todos que já observou sua presença.

Contam uma lenda antiga na região, que uma vez um escravo foi posto no tronco, por ter tentado fugir de uma fazenda. Passou fome e apanhou com chibata até a morte, esvaindo-se em sangue, tendo seu corpo ficado ao relento. Na manhã seguinte o Barão ordenou ao seu capataz que ele fosse retirado dali e jogado aos cães. Quando o capataz chegou no tronco para executar a ordem, o corpo do escravo não se encontrava mais lá. Contaram alguns escravos que ouviram um uivo na madrugada e aonde estava o escravo saiu um Lobo imenso de pelos negros, olhos vermelhos como labaredas de fogo.

Desde então conta a Lenda que o lobo sai a matar toda noite, para se vingar dos Barões do café.

Certa noite, o trem mais uma vez parou na estação levando seu único passageiro, o misterioso. O trem corria a uma velocidade anormal, como que descontrolado, o que chamou a atenção do passageiro, que caminhou até a cabine do maquinista, encontrando-o esvaindo-se em sangue.

O passageiro tentou controlar o trem em vão, pois o mesmo estava descontrolado, não podendo fazer mais nada. Ele saiu pelo trem a procura do único responsável pela tragedia que se abalava. Percorreu vagão por vagão até encontrar a figura do lobo uivante. Ao entrar em um vagão avistou o lobo, que mostrava sua boca com enormes dentes caninos dilacerantes. O passageiro investiu contra o lobo, apossou-se de uma arma de fogo e atirou, uma, duas, três...até acabar todo o pente de balas, porém as balas atravessavam seu corpo sem efeito algum.

No dia seguinte, todos ficaram sabendo do ocorrido, o trem desgovernado saiu dos trilhos atingindo uma fazenda de café, matando a todos os moradores. Finalmente o trem da meia noite se acabou com o descarrilhamento. E não colocaram outro no lugar.

O mais estranho mesmo, foi o passageiro misterioso que continua na estação sentado a espera do trem da meia noite, noite após noite, assustando a todos os moradores, por conta disso, muitos moradores já se mudaram para outra cidade. E eu aqui ainda a observar o estranho passageiro.

Depois da tragedia com o trem, todos os moradores foram embora, a cidade virou cidade fantasma, inclusive eu parti, e ao passar pela estação lá estava o passageiro misterioso. kkkkkkkk

Continua... Com: "A Cidade Fantasma"