Assombrações VI
Elano contava uma história de terror, que ali havia se passado.
Estavam os três no quarto. O maior sufoco, o desconforto havia se instalado, ali. Os colchões tomavam o espaço,dificultando a circulação, até que decidiram mater os dois colchões, de pé, encostados num dos cantos da parede. O quarto era de teto alto, e tinha um janelão. Morcegos faziam do sótão moradia. A arquitetura era de séculos passados. Dizem que ali morou um rico Coronel, da época de ouro do cacau na Bahia. Depois um desconhecido escritor - que havia se suicidado, após sucessivos fracassos na vida, entre eles, uma paixão não correspondida por uma negra, de beleza de ébano que fazia os serviços domésticos em seu lar. Não suportou o escritor ter sido trocado por uma capoeira do pelourinho, que era carregador do porto. Havia sido encontrada a seguinte poesia na casa, após a morte do escritor:
Estrela dè Ébano
Que brilha na noite
Te desejo noite e dia
Queima a minha alma em desejos insanos-proíbidos
Olho-te noite e dia
Não me observas
Não sei o por quê...
Caso não me queiras
Mato-me no quarto 222 à meia-noite.
Ass: Graciliano Mattoditte, um infeliz poeta e escritor
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- Dizem que ele foi ao quarto dela, foi recusado. Foi expulso aos gritos. Ele descobriu que Chica era apaixonado por um capoeira. O escritor não suportou ter sido trocado por um vagabundo, que fazia serviço braçal.
- Nossa, e esse quarto 222, qual será no dormitório?
- perguntou, Amália.
-Não sei, poderemos pesquisar depois.
Elano resolveu contar da sua experiência com o sobrenatural. Amália não tinha mais privacidade de mulher. Liberal, não se importava em andar de calcinha e sutien na frente dos rapazes-estes, disfarçavam, e devoravam as suas formas com olhares de lobo.
" estávamos numa das aulas com o professor Tinoco, o bravo. Expressão vocal e expressão corporal. Depois de exaustivas aulas de teorias da interpretação de personagens dramáticos. Os alunos que não residem na escola foram embora nos seus carros. Eu e mais dez alunos ficamos na fila para o banho.
- Eu me recordo desse dia.
Observou, Amália, enquanto preparava um cafezinho no seu fogão de duas bocas, instalado num vão que ficava debaixo da escada do andar de cima - não suportava ficar na fila do fogão na cozinha da escola, entre tantos alunos. Os dois comiam os últimos biscoitos da noite.
- Não quero migalhas de biscoitos no chão, atrai baratas.
Gritou Amália, com autoridade.
- Meia-noite. O silêncio se estende pela escola.
- Fico arrepiado.
Disse, Gustavo.
As ruas que cercavam a escola ficavam desertas, silenciosas. O mais pertubador era a escuridão ali reinante, no interior do muro que a cercava. O vento açoitando as copas das árvores. Amália sentia um arrepio surfir da base de sua espinha até a nuca, quando olhava pela janela. Pareceia sentir que era observada pela mulher de branco-era como se a assombração estivesse na escuridão por entre as árvores.
- deixem-me continuar. Sou como a Amália, odeio ficar na fila. Fui para o meu quarto. Estava suado, exausto. Trabalho num depósito carregando caixas. deitei no chão de meu quarto, pois, não sei deitar na cama sem tomar banho. Apaguei. Quando acordei passava da meia-noite. Então, olhei pela janela. O quintal estava deserto, escuro. Sem medo, peguei a toalha, sabonete e fui tomar o banho. desci. Quando tranquei a porta do banheiro e liguei o chuveiro.
- Elano...
Chamaram-me. Desliguei o chuveiro, pois, a voz não era familiar. pensei se tratar de uma ilusão. Porém, pela segunda vez:
" Elano..."
- Quem está me chamando? Pode parar com a brincadeira.
falei, todos sabem das brincadeiras que acontecem por aqui. Dei continuidade ao banho. Finalizei-o. Abri a porta. Quando subia a pequena rampa natural de volta para a ala dos quartos. Por entre as árvores, da escuridão a voz mais uma vez:
" Elano."
- Q-quem está me chamando?
Eu ja estava tenso. Amedrontado. Então, aconteceu.
( continua)