Os fantasmas de uma infância sofrida
Tchon descia diariamente a rua sinuosa que o fazia escorregar pelos morros de um bairro pobre que morava. Durante o dia, levava a marmita do almoço do pai, um marceneiro que trabalhava do outro lado do rio distante uns 5 ou 6 kilometros de onde morava. Tinica também, um afro-descendente, fazia o mesmo roteiro com a mesma finalidade para levar a marmita para o seu pai que era pedreiro. Ambos muito pobres, mas com diferenças gritantes no aspecto cultural, já que Tinica carregava em seu íntimo o auto-flagelo, reflexo do curriculo de seus antepassados vítimas de opressão que foi a escravidão de seus bisavós e tetravós.
Tinica detestava Tchon que era o único branco do lugar, sem saber que seu avô era também um operário, apesar de nascido em Portugal e ter vindo pro Brasil ainda muito criança. Ironizava sua presença. Perguntava em tom alto para os outros amigos ouvirem, todos mais ou menos da mesma idade, entre 8 a 12 anos e todos riam da zombaria, mas sem maldade, sem violencia, o que um branco "azêdo" fazia ali naquele lugar onde somente moravam negros.
Tchon respondia com muito medo, mas ao mesmo tempo com a verdade que lhe era incutida pelo pai. - Sou branco, mas tão pobre quanto você e carrego na marmita do meu pai, o mesmo angú e feijão com torresmo.
Diante da hostilidade, Tchon descia o morro para estudar no grupo escolar lá de baixo, onde ele podia se sentir mais em casa, entre pessoas mais iguais pelo menos no que tange à sua aparencia de "menino branco metido à rico" e assim ficava entre a maioria de brancos mas todos com ensaios nojentos de burguezia que se julga superior aos pobres. Para eles lá de baixo (brancos e negros pobres, não eram diferentes), eram todos ralé e assim Tchon, não se sentia seguro nos dois ambientes. Lá no morro era um branco metido à besta, porque não se misturava e lá na cidade no meio dos brancos (incluindo varios parentes ricos) ele era discriminado porque morava no morro e era filho de operário e muito pobre.
O tempo foi passando, a hostilidade de Tinica aumentou. Passou a usar o garfo da marmita de seu pai para cutucar as costas de Tchon e ferí-lo ao ponto de fazê-lo sangrar. Tchon, pouco poderia fazer, pois eram muitos que assistiam a cena e riam. Certa vez foi encurralado na rua e levou uma coça de troncos de ora pro nobis que aqueles que conhecem, tem muitos espinhos e o sangramento foi inevitável. Chegou em casa todo arranhado e sua mãe se pôs a chorar, dizendo ao pai desesperadamente que queria se mudar daquele lugar.
Um dia Tchon, voltando à noite da escola, já fazendo o Ginasial, pouco mais de 22 horas, ouviu a aproximação de uma cavalo e o Tinica estava sobre o arreio, com aqueles balangadans que brilham no arreio e o vento estava muito forte, uma tempestade anunciava uma tromba d´água. O cavalo relinchava e em meio à tempestade e sobre ele o Tinica ria com o chicote nas mãos e o mesmo garfo que sempre usava para espezinhar o seu desafeto de todos os dias,
Tchon foi salvo de um ataque que poderia ter sido fatal, porque a tempestade chegou de forma violenta e rápida com rajadas de ventos muito fortes, o que espantou o agressor.
Diana, sua colega de colégio, que o pai confiara a Tchon sua guarda e companhia para trazê-la sã e salva, também branca, uma das poucas do lugar, mas que não era tão espezinhada, porque havia nascido lá e seu pai era muito respeitado no lugar, chorava desesperadamente e corremos com toda força que nossos pulmões permitiam.
Para agravar aquele momento terrivel, numa noite super escura com nuvens negras que cobriam o céu totalmente, escondendo a lua cheia, algumas folhas de jornais velhos e brancos se levantavam junto com a poeira que forrava o chão de terra da rua sem fim que acompanhava a subida do morro até o nosso destino e simulavam uma espécie de dança de fantasmas que a imaginação de adolescentes sob o dominio do medo se fazia acreditar..
Muitos foram os sustos, muitos foram os sofrimentos, inclusive empurrões sobre cercas de arame farpado, muito usado naquele tempo, ou lotes vagos com pequenos precipicios quando esse pobre garoto poderia ter morrido batendo a cabeça numa pedra ou quebrando pernas e braços. Um horror total. Até que um dia Tchon recebeu a noticia de que o pai dele havia arrumado um emprego na capital e que na senaba seguinte todos se mudariam para lá.
Dito e feito, dentro do prazo previsto, Tchon e sua familia, pais e mais 6 irmãos e irmãs, estavam dentro de uma Maria fumaça da Leopoldina que os levaria à capital.
Foi até hoje, segundo Tchon, a viagem mais fantástica de sua vida, onde ele pôde conhecer paisagens incriveis, passando por várias cidades históricas e nessa viagem ele pareceu viver um conto de fadas, mesmo não tendo certeza de como seria o seu futuro. Mas com certeza com a mente de criança bastante aliviada por saber que estaria livre daquelas humilhações e supondo que se tivesse que enfrentar na mudança radical, algumas situações parecidas, já teria experiencia e estaria preparado psicologicamente para isso.
Foi o que aconteceu, mas isso é outra história.
Cincoenta anos depois, Tchon retorna ao mesmo local, apesar de lhe alertarem que passado todo aquele tempo, ficou muito pior, dominado por traficantes de drogas e assassinatos diários e que era recomendável ele não entrar lá com aquela caminhonete ultimo tipo e assim corria o risco de ser assaltado e morto, ou até mesmo ser reconhecido pelos velhos tempos e acontecer coisas piores que a morte.
Mas não teve medo e assim mesmo compulsivamente, foi parar naquela mesma esquina onde Tinica morava, ele ficou sabendo que o pobre coitado havia morrido e que sua esposa trabalhava ainda como empregada doméstica na casa de uma fulana de tal, uma daquelas ricas burguezas no centro do lugarejo.
Apesar de ter sofrido tanto no passado, Tchon ficou com pena, pois afinal ele teria conseguido prosperar, saindo daquele lugar onde as oportunidades jamais seriam iguais as de uma cidade grande e assim Tinica pelo que souve ficou estagnado. Foi muito estranho porque Tchon não se deixou dominar pelo sentimento vingança, mas saiu dali e tratou logo de esquecer aquilo, pois afinal ele não era o "Americo, reformador do mundo" e desceu o morro em direção ao centro para visitar a grande familia.
Tchon achou uma de suas primas (que nunca soube de todos esses acontecimentos), que afinal era uma das poucas que não lhe virava as costas nos tempos de "vacas magras" de absouluta pobreza e chegando lá. coincidentemente olhou uma negra trabalhando na cozinha e já podia imaginar tratar-se da viúva do Tinica bem ali na sua frente pela descrição do endereço que haviam dado, e com o tempo foram conversando e ele puxando assunto e ela contou que ele havia morrido com um acidente terrivel dentro de casa quando muito bebado, caiu de bruços sobre o garfo que comia e este atravessou-lhe o pescoço, causando-lhe morte instântanea.
Tchon ficou visivelmente transtornado e sua prima perguntou-lhe espantada, sob o dominio da curiosidade::
Você conheceu o Tinica, o marido da minha funcionária?
Tchon respondeu que ele morava lá naquele lugar horrivel, onde ele passou a infância quando era muito pobre e ainda brincou: Naquele tempo, você nem olhava pra mim quando nos cruzavamos na rua. "Você se esquivava contrangida do primo pobre que eu era". Ela ficou sem graça, pois de fato, muitos primos ricos de Tchon, se envergonhavam de sua pobreza, mas ela nem tanto. Sempre foi assim em cidades do interior. Mas Tchon jamais guardou rancor de ninguém sobre isso, pois esse trauma ele já havia superado, mesmo porque, muitos daqueles que o esnobavam, atualmente possuem situação economica e financeira deplorável, se comparadas com as que Tchon ostenta.
- E assim, Tchon, inexplicavelmente, encheu os olhos de lágrimas, por isso e lembrando ainda da forma como morreu Tinica e disse:
Ele morreu com o mesmo instrumento que me feria todos os dias quando eu ia levar a marmita do meu pai, onde ele trabalhava aqui pertinho de sua mansão. Lembro-me de quando houve uma enchente repentina do Rio Piranga e nós ficamos presos e nossos pais ficaram sem almoço.
A viúva de Tinica espantada, se surpreendeu em saber que um dia Tchon havia sido vizinho de seu marido naquela favela e contou que Tinica antes de morrer havia visitado um Pai de Santo que profetizou que ele morreria pela mesma arma com a qual um dia teria tentado matar um inocente e que era pra ele ter morrido naquele dia e foi salvo por uma tempestade que ao fugir dela, evitou que caisse do cavalo, mas que mais cedo ou mais tarde ele morreria, pois tudo que ele usasse contra alguém, estava escrito que se voltaria contra ele.
E assim, Tchon voltou pra casa estarrecido, bem longe dalí e quando retorna a sua terra natal, passa longe desse triste lugar chamado Volta do Gato, onde tudo aconteceu. Mas sabe com certeza quem foi o pai de Santo que profetizou a morte do Tinica. Foi o velho Joaquim, um negro de aproximadamente uns 75 anos, muito saudável e que ficava no terreiro de sua casa, fumando cachimbo e implicando com todos os garotos da rua, pelas traquinagens e bagunça que faziam em frente a sua cabana de paredes de bambú, com terra batida e cobertura de sapé, aliás ficava uma casa abaixo da rua onde morava Tchon. Ele tinha mania de ler as mãos e mexer com leitura de búzios e dizia que recebia o passe de alguns santos protetores.
Quando Tchon saia no terreiro e não conseguia pentear seus cabelos muito finos por causa de dois redemoinhos o velho dizia que ele estava com o capeta no corpo e que Tchon tomasse cuidado com o pequeno tridente, embora não corresse perigo de vida, pois estava protegido.
Somente 50 anos após é que Tchon puxando pela memória pôde identificar o que o macumbeiro Joaquim quis dizer com pequeno tridente: Era o garfo do Tinica, a arma usada na tempestade.
Tchon descia diariamente a rua sinuosa que o fazia escorregar pelos morros de um bairro pobre que morava. Durante o dia, levava a marmita do almoço do pai, um marceneiro que trabalhava do outro lado do rio distante uns 5 ou 6 kilometros de onde morava. Tinica também, um afro-descendente, fazia o mesmo roteiro com a mesma finalidade para levar a marmita para o seu pai que era pedreiro. Ambos muito pobres, mas com diferenças gritantes no aspecto cultural, já que Tinica carregava em seu íntimo o auto-flagelo, reflexo do curriculo de seus antepassados vítimas de opressão que foi a escravidão de seus bisavós e tetravós.
Tinica detestava Tchon que era o único branco do lugar, sem saber que seu avô era também um operário, apesar de nascido em Portugal e ter vindo pro Brasil ainda muito criança. Ironizava sua presença. Perguntava em tom alto para os outros amigos ouvirem, todos mais ou menos da mesma idade, entre 8 a 12 anos e todos riam da zombaria, mas sem maldade, sem violencia, o que um branco "azêdo" fazia ali naquele lugar onde somente moravam negros.
Tchon respondia com muito medo, mas ao mesmo tempo com a verdade que lhe era incutida pelo pai. - Sou branco, mas tão pobre quanto você e carrego na marmita do meu pai, o mesmo angú e feijão com torresmo.
Diante da hostilidade, Tchon descia o morro para estudar no grupo escolar lá de baixo, onde ele podia se sentir mais em casa, entre pessoas mais iguais pelo menos no que tange à sua aparencia de "menino branco metido à rico" e assim ficava entre a maioria de brancos mas todos com ensaios nojentos de burguezia que se julga superior aos pobres. Para eles lá de baixo (brancos e negros pobres, não eram diferentes), eram todos ralé e assim Tchon, não se sentia seguro nos dois ambientes. Lá no morro era um branco metido à besta, porque não se misturava e lá na cidade no meio dos brancos (incluindo varios parentes ricos) ele era discriminado porque morava no morro e era filho de operário e muito pobre.
O tempo foi passando, a hostilidade de Tinica aumentou. Passou a usar o garfo da marmita de seu pai para cutucar as costas de Tchon e ferí-lo ao ponto de fazê-lo sangrar. Tchon, pouco poderia fazer, pois eram muitos que assistiam a cena e riam. Certa vez foi encurralado na rua e levou uma coça de troncos de ora pro nobis que aqueles que conhecem, tem muitos espinhos e o sangramento foi inevitável. Chegou em casa todo arranhado e sua mãe se pôs a chorar, dizendo ao pai desesperadamente que queria se mudar daquele lugar.
Um dia Tchon, voltando à noite da escola, já fazendo o Ginasial, pouco mais de 22 horas, ouviu a aproximação de uma cavalo e o Tinica estava sobre o arreio, com aqueles balangadans que brilham no arreio e o vento estava muito forte, uma tempestade anunciava uma tromba d´água. O cavalo relinchava e em meio à tempestade e sobre ele o Tinica ria com o chicote nas mãos e o mesmo garfo que sempre usava para espezinhar o seu desafeto de todos os dias,
Tchon foi salvo de um ataque que poderia ter sido fatal, porque a tempestade chegou de forma violenta e rápida com rajadas de ventos muito fortes, o que espantou o agressor.
Diana, sua colega de colégio, que o pai confiara a Tchon sua guarda e companhia para trazê-la sã e salva, também branca, uma das poucas do lugar, mas que não era tão espezinhada, porque havia nascido lá e seu pai era muito respeitado no lugar, chorava desesperadamente e corremos com toda força que nossos pulmões permitiam.
Para agravar aquele momento terrivel, numa noite super escura com nuvens negras que cobriam o céu totalmente, escondendo a lua cheia, algumas folhas de jornais velhos e brancos se levantavam junto com a poeira que forrava o chão de terra da rua sem fim que acompanhava a subida do morro até o nosso destino e simulavam uma espécie de dança de fantasmas que a imaginação de adolescentes sob o dominio do medo se fazia acreditar..
Muitos foram os sustos, muitos foram os sofrimentos, inclusive empurrões sobre cercas de arame farpado, muito usado naquele tempo, ou lotes vagos com pequenos precipicios quando esse pobre garoto poderia ter morrido batendo a cabeça numa pedra ou quebrando pernas e braços. Um horror total. Até que um dia Tchon recebeu a noticia de que o pai dele havia arrumado um emprego na capital e que na senaba seguinte todos se mudariam para lá.
Dito e feito, dentro do prazo previsto, Tchon e sua familia, pais e mais 6 irmãos e irmãs, estavam dentro de uma Maria fumaça da Leopoldina que os levaria à capital.
Foi até hoje, segundo Tchon, a viagem mais fantástica de sua vida, onde ele pôde conhecer paisagens incriveis, passando por várias cidades históricas e nessa viagem ele pareceu viver um conto de fadas, mesmo não tendo certeza de como seria o seu futuro. Mas com certeza com a mente de criança bastante aliviada por saber que estaria livre daquelas humilhações e supondo que se tivesse que enfrentar na mudança radical, algumas situações parecidas, já teria experiencia e estaria preparado psicologicamente para isso.
Foi o que aconteceu, mas isso é outra história.
Cincoenta anos depois, Tchon retorna ao mesmo local, apesar de lhe alertarem que passado todo aquele tempo, ficou muito pior, dominado por traficantes de drogas e assassinatos diários e que era recomendável ele não entrar lá com aquela caminhonete ultimo tipo e assim corria o risco de ser assaltado e morto, ou até mesmo ser reconhecido pelos velhos tempos e acontecer coisas piores que a morte.
Mas não teve medo e assim mesmo compulsivamente, foi parar naquela mesma esquina onde Tinica morava, ele ficou sabendo que o pobre coitado havia morrido e que sua esposa trabalhava ainda como empregada doméstica na casa de uma fulana de tal, uma daquelas ricas burguezas no centro do lugarejo.
Apesar de ter sofrido tanto no passado, Tchon ficou com pena, pois afinal ele teria conseguido prosperar, saindo daquele lugar onde as oportunidades jamais seriam iguais as de uma cidade grande e assim Tinica pelo que souve ficou estagnado. Foi muito estranho porque Tchon não se deixou dominar pelo sentimento vingança, mas saiu dali e tratou logo de esquecer aquilo, pois afinal ele não era o "Americo, reformador do mundo" e desceu o morro em direção ao centro para visitar a grande familia.
Tchon achou uma de suas primas (que nunca soube de todos esses acontecimentos), que afinal era uma das poucas que não lhe virava as costas nos tempos de "vacas magras" de absouluta pobreza e chegando lá. coincidentemente olhou uma negra trabalhando na cozinha e já podia imaginar tratar-se da viúva do Tinica bem ali na sua frente pela descrição do endereço que haviam dado, e com o tempo foram conversando e ele puxando assunto e ela contou que ele havia morrido com um acidente terrivel dentro de casa quando muito bebado, caiu de bruços sobre o garfo que comia e este atravessou-lhe o pescoço, causando-lhe morte instântanea.
Tchon ficou visivelmente transtornado e sua prima perguntou-lhe espantada, sob o dominio da curiosidade::
Você conheceu o Tinica, o marido da minha funcionária?
Tchon respondeu que ele morava lá naquele lugar horrivel, onde ele passou a infância quando era muito pobre e ainda brincou: Naquele tempo, você nem olhava pra mim quando nos cruzavamos na rua. "Você se esquivava contrangida do primo pobre que eu era". Ela ficou sem graça, pois de fato, muitos primos ricos de Tchon, se envergonhavam de sua pobreza, mas ela nem tanto. Sempre foi assim em cidades do interior. Mas Tchon jamais guardou rancor de ninguém sobre isso, pois esse trauma ele já havia superado, mesmo porque, muitos daqueles que o esnobavam, atualmente possuem situação economica e financeira deplorável, se comparadas com as que Tchon ostenta.
- E assim, Tchon, inexplicavelmente, encheu os olhos de lágrimas, por isso e lembrando ainda da forma como morreu Tinica e disse:
Ele morreu com o mesmo instrumento que me feria todos os dias quando eu ia levar a marmita do meu pai, onde ele trabalhava aqui pertinho de sua mansão. Lembro-me de quando houve uma enchente repentina do Rio Piranga e nós ficamos presos e nossos pais ficaram sem almoço.
A viúva de Tinica espantada, se surpreendeu em saber que um dia Tchon havia sido vizinho de seu marido naquela favela e contou que Tinica antes de morrer havia visitado um Pai de Santo que profetizou que ele morreria pela mesma arma com a qual um dia teria tentado matar um inocente e que era pra ele ter morrido naquele dia e foi salvo por uma tempestade que ao fugir dela, evitou que caisse do cavalo, mas que mais cedo ou mais tarde ele morreria, pois tudo que ele usasse contra alguém, estava escrito que se voltaria contra ele.
E assim, Tchon voltou pra casa estarrecido, bem longe dalí e quando retorna a sua terra natal, passa longe desse triste lugar chamado Volta do Gato, onde tudo aconteceu. Mas sabe com certeza quem foi o pai de Santo que profetizou a morte do Tinica. Foi o velho Joaquim, um negro de aproximadamente uns 75 anos, muito saudável e que ficava no terreiro de sua casa, fumando cachimbo e implicando com todos os garotos da rua, pelas traquinagens e bagunça que faziam em frente a sua cabana de paredes de bambú, com terra batida e cobertura de sapé, aliás ficava uma casa abaixo da rua onde morava Tchon. Ele tinha mania de ler as mãos e mexer com leitura de búzios e dizia que recebia o passe de alguns santos protetores.
Quando Tchon saia no terreiro e não conseguia pentear seus cabelos muito finos por causa de dois redemoinhos o velho dizia que ele estava com o capeta no corpo e que Tchon tomasse cuidado com o pequeno tridente, embora não corresse perigo de vida, pois estava protegido.
Somente 50 anos após é que Tchon puxando pela memória pôde identificar o que o macumbeiro Joaquim quis dizer com pequeno tridente: Era o garfo do Tinica, a arma usada na tempestade.