Li a Notícia da Minha Morte no Jornal

“Dia cheio, cheguei atrasado para a reunião e para completar tomei um senhor esporro do meu chefe, passei na escola dos meus filhos e os levei até a casa de minha mãe, era uma sexta e tinha combinado de ter um jantar especial com minha esposa. Ajeitei-me o melhor que pude na correria, notei o olhar meio contrariado dela quando a cumprimentei com meia hora de atraso do horário combinado.”

O Jantar de Augusto com sua esposa não foi um completo sucesso, estacionamento lotado, restaurante abarrotado e multa por excesso de velocidade ao voltar para casa, sorte que os policias não estavam com o equipamento de teste de alcoolismo.

Ao menos o final não foi dos piores, fazia tempo que eles não ficavam realmente a sós em casa e aproveitaram bem aquele momento. Antes das 4 da manhã, Augusto acordou e não dormiu mais, olhando para o teto sentia uma pequena brisa entrando pela janela semiaberta, acompanhada da luz prata da lua.

Cobriu sua mulher com cuidado para não a despertar e dirigiu-se à sala onde repousou no sofá e começou a refletir sobre sua vida até aqui. Nos últimos dois anos estava num rumo frenético, estressante e cheio de contrariedades. Sempre primou pela excelência em seus afazeres profissionais e pessoais, não entendia o montante de preocupações e dificuldades que passava, em todo o tempo zelava por uma conduta correta.

Recordações inundaram sua mente e começou uma procura por motivos que explicassem tal assolação, deparou-se com uma lembrança da adolescência. Havia ido com sua mãe até uma mulher estranha que dizia prever o futuro, ali, a mulher depois de ter com sua mãe, lhe dirigiu a palavra falando que seu futuro seria brilhante, mas teria que ter cuidado com algumas coisas e não duvidar do oculto. Augusto riu da mulher, ato que despertou o furor da vidente que prosseguiu declarando:

— Terá sim uma vida muito confortável, cheia de realizações, quando começar as tribulações sem motivo aparente, você pagará caro por sua insolência! No futuro recordará das minhas palavras...

Saíram dali, sua mãe xingando e maldizendo a mulher.

— Aff!... Que besteira... Tá bom que acredito nessa doida que já deve ter morrido faz tempo.

Augusto, ainda sentado no sofá, abriu o jornal, mas uma página estava onde não deveria estar, o obituário no meio do espaço reservado aos esportes. Irresistivelmente leu o texto que se achava à sua frente:

Deixou-nos hoje Augusto Barbosa Martins, casado com Maria Silva Martins, suas filhas Lair e Lígia. Saudades...

— Mas que loucura é essa!!! Vou processar esse jornaleco de merda!!!

Augusto sentiu dores agudas no peito, caiu de joelhos, com os músculos se retraindo, os olhos vermelhos lacrimejando, a agonia daquele momento parecia não ter fim. Seus olhos miraram no espelho da sala por um momento e enxergou a silhueta daquela vidente com as mãos gesticulando, chamando-o, pele cinza, olhos negros e fundos, uma aparência demoníaca e sorriso de satisfação aflorava em seu rosto.

— Agora sou eu quem ri de ti!!! HA! HA! HA!

Augusto foi ao chão, com os membros retorcidos, olhos estalados e língua para fora, morreu sem ao menos ter a chance de se despedir de suas filhas e esposa. O jornal achado ao seu lado não continha obituário.