Somos todos pecadores

Minha vida estava realmente no fundo do poço quando tudo isso aconteceu. Estava envolvido com drogas pesadas, morando praticamente nas ruas junto a pessoas de pior espécie.

Havia me afastado de tudo e todos.

Para uma pessoa que foi criada em um lar evangélico era o fim, me sentia o pior dos pecadores.

Sabia que meu fim estava perto. Chorava muito e estava entrando em depressão.

Pensamentos de suicídio vagavam em minha mente o tempo todo.

Eu realmente queria morrer. Era só no que eu pensava.

Mas tudo mudou um dia. Ao acordar bem de madrugada, ainda meio dormindo vi uns vultos negros andando pela rua e colando cartazes nas paredes.

Eram homens altos e vestiam uma capas negras com capuz, sendo impossível ver-lhes o rosto.

A principio chei que fosse apenas minha imaginação ou que estivesse sonhando. Sei lá.

Continuei ali, deitado, enrolado em meus cobertores velhos e podres.

Acabei cochilando e por fim acordei de vez. E pensei no sonho que tive com aquelas estranhas criaturas de capas pretas, no sonho uma delas se aproximou de mim e me chamou de pecador imundo. E tirando o capuz me deixou ver seu rosto, na verdade não seu rosto, mas uma máscara muito assustadora que me fez encolher de medo e me disse:

- És um pecador imundo. Mas nós podemos expurgar os pecados de sua alma. Podemos te libertar. podemos te trazer de volta à vida. O endereço está no cartaz. E apontou para a parece onde havia muitos deles colado.

Ele se virou e saiu.

E acordei apavorado. Senti um alívio ao perceber que era só um sonho, mas quando olhei para a parede do outro lado da rua, senti um frio subir pela minha espinha me arrepiando como se estivesse sido pego por uma rajada de vento gelado.

Os cartazes estavam todos lá, colados como no sonho. Muitos.

Lembrei-me da frase daquela criatura mascarada do sonho: O endereço está no cartaz.

Eu não sabia se fora um sonho ou se havia acontecido, mas sabia de uma coisa, o endereço estava no cartaz e eu precisava ir até lá. Era minha última chance.

Senti medo do que me esperava, mas me levantei e me dirigi até o outro lado da rua onde estavam os cartazes. Notei que os cartazes foram colados somente no trecho da rua em frente de onde eu dormia, senti que era uma memsagem exclusiva para mim, não sabia de quem e nem porque mas era para mim. Arranquei um dos cartazes e li o endereço. Eu conhecia aquele endereço. No cartaz indicava o horário que deveria comparecer: 21:00 h.

Eu tinha o dia todo para peranmbular e pensar em tudo aquilo.

Passei o dia todo ansioso e às 20:00 h eu estava em frente ao local indicado.

Era um casa pequena, antiga e aparentemente abandonada. Podia se notar apenas uma luz fraca iluminando seu interior.

Estacionado em sua frente havia 3 automóveis de luxo e negros. Sinistro.

Não vi movimentação alguma, ninguém chegava ou saia.

Fiquei ali parado perto do portão enferrujado pelo tempo.

20:50 h. A porta da casa se abriu e uma pessoa encapuzada saiu e me chamou pelo nome, como se me conhecesse e já me esperasse. Fiquei ali parado por alguns segundos pensando em como me conhecia.

Ele me chamou novamente e como se eu estivesse hipnotizado comecei a caminhar até onde ele estava. Subi os degrasus que levavam até a porta onde ele estava. Ele estendeu o braço e apertou minha mão de uma maneira estranha. Sua mão era fria, quase gelada. Não consegui ver seu rosto. Pediu para que o seguisse.

Para meu espanto a casa que parecia pequena pelo lado de fora, era enorme quando se entrava nela. Me vi em grande salão totalmente vazio apenas com uma grande mesa no centro.

E um móvel que parecia um púlpito de igrejas evangélicas que eu frequentava quando criança junto com meus pais, e que acabei abandonando após a morte deles.

Quando percebi notei que o salão encontrava agora repleto de pessoas, todas com o mesmo traje negro e os capuzes cobrindo-lhes o rosto.

E no púlpito, um homem que parecia ser o líder do grupo, sua vestimenta era diferente de todas.Era toda vermelha e ele segura algo que parecia um cetro e não usava o capuz, mas sim uma máscara assustadora. Não sei como descrever mas havia chifres e era de uma cor que parecia chumbo.

Esse líder falava algo em uma língua que eu não conhecia e sua voz era gutural, rouca e parecia entrar dentro de meu cérebro.

Fiquei ali parado olhando fixamente para a criatura, quando de repente ele fixou seu olhar em mim. Dei 2 passos para trás quando senti que me seguravam pelos braços e i líder gritou me olhando:

- Pecador imundo. sabíamos que viria. Quer se ver lirve dos pecados? Conhecemos você, cada pecado seu, cada erro, conhecemos sua mente, seus desejos...

Podemos expurgar todo o mal de você. Esse é seu desejo?

Silêncio total.

Senti que todo os olhares estavam voltados para mim.

Senti meu coração pulsando mais forte. Minha pressão arterial deve ter ido ao extremo. Achei que fosse ter alguma parada cardíaca.

A palavra veio de dentro, parecia vindo do estônago.

SIM. Esse é meu desejo.

Quando eu disse isso, ele voltou a falar naquela língua estranha e todos repetiam. Me pegaram e me colocaram sobre a mesa que havia no centro do salão olhando para cima com os braços abertos, como se estivesse sendo crucificado.

Ao olhar para cima, pude ver uma estátua no teto do salão. Era um cristo crucificado, porém estava de de frente para a cruz e de costas para mim. Aquela imagem me deixou totalmente desconfortável, mais do que já estava.

Eu não entendia o que estava acontecendo. Tive medo. As vozes agora aumentavam de volume e os homens tiravam os capuzes deixando ver as máscaras que usavam.

Tiraram também as capas deixando á mostra seus corpos marcados por cicatrizes de cortes profundos feitos há pouco tempo. O líder aumentava o volume de sua voz mas não chegava a ser um grito.

Prestando mais atenção pude notar que agora ela falava pausadamente os pecados que eu vinha cometendo há muito tempo em minha vida.

Senti que estava amarrado áquela mesa. E para meu espanto pude ver que ganchos como grande anzóis desciam do teto em minha direção.

Senti um líquido quente sendo despejado em minha boca. Era quente, viscoso e doce. Fui perdendo os sentidos. Minha visão ficando turva. As vozes martelando em minha cabeça.

Meus pecados sendo repetidos.

Uma fisgada. Depois outra. E mais outra. Eu vi cada gancho penetrando em minha carne. Rasgando. O sangue escorrendo. E o líder repetindo:

- Vamos expurgar todos seus pecados, pecador imundo.

Senti que minha carne estava sendo destroçada. Mas a dor era boa. Meus pecados estavam sendo expurgados. A dor era boa.

Minha cabeça começou a rodar. Até que não vi mais nada. Dormi e sonhei com meu corpo todo banhado em sangue. Não sei quanto tempo fiquei nesse transe. Horas ou dias talvez.

Quando recobrei meus sentidos estava em um pequeno quarto, deitado em uma cama totalmente nú e ao lado uma cadeira com uma capa negra com capuz.

De repente ouço batidas na porta. Me chamam pelo nome e pedem para que eu coloque a roupa pois é hora de buscarmos novos pecadores para salvá-los.

Me sinto limpo e purificado.

Vamos buscar novos pecadores. Passamos muito tempo analisando a vida deles.

A propósito sabemos que você tem muitos pecados.

Não acha que é hora de se livrar deles ????

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 23/11/2012
Reeditado em 30/01/2013
Código do texto: T4001761
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