Visões do Terror

Honório estava conturbado, aflito por não achar nem um fato coeso que o levasse a encontrar o assassino de seu amigo de infância. Mesmo com sua larga experiência sendo investigador de polícia, em 15 anos de profissão nunca se deparara com tamanho mistério, por isso, andava perplexo. No prédio, onde seu amigo foi morto, tomou depoimento de todos os funcionários que trabalham lá e de todos os seus colegas de trabalho. Nada se encaixava, Roberval era um cara reservado, sem muitos amigos e não vivia em baladas. Morava sozinho em um condomínio perto de onde trabalhava, e de vez em quando, visitava sua mãe. Nenhum inimigo conhecido ou desavença nos últimos tempos.

Roberval foi encontrado morto no elevador de carga, língua para fora, olhos esbugalhados, sentado no canto com a cabeça baixa e sem uma única digital para iniciar uma caçada ao assassino, a não ser as do pessoal da faxina que encerram suas atividades bem antes dos funcionários do prédio e dos escritórios.

Honório se perguntava: "Quem e porque matariam um cara como o Roberval, que não fazia mal pra uma mosca!"

Quanto mais ele procurava evidências, menos entendia. Resolveu apelar para outra linha de raciocínio, vasculhou freneticamente uma gaveta de arquivos, a procura de um cartão com um nome e telefone, um sensitivo. Não acreditava muito nessas coisas, mas diante da completa falta de racionalidade dos fatos, não se importou muito com o que iriam dizer.

Já no endereço indicado pelo cartão, Honório tocou a campainha e foi recebido por um homem alto, branco e calvo. Assim que o investigador explicou a situação para o homem, que nem parecia se importar, Honório lhe deu uma foto de seu amigo, uma foto da cena do crime. O sensitivo a pegou, dizendo que não sabia se conseguiria ajudar por não comandar o seu dom.

Quietos, sentados um de frente pro outro, o homem segurou a fotografia com a palma da mão esquerda para cima e como um sanduiche a outra mão por cima. O sensitivo respirou fundo, fechando os olhos. O Investigador o fitava frustrado e tendo consigo mesmo a idéia de que foi uma insensatez ter vindo ali.

Suor começou a escorrer da cabeça lisa do estranho sujeito, sua respiração ficou mais difícil, iniciou pequenos espasmos, parecia que iria ter um epilepsia, ainda sem abrir os olhos. Honório, agora, parecia estar assustado, já pensava em chamar o resgate para aquele infeliz, que com caretas se contorcia e gemia.

De posse do celular e prestes a discar para a emergência, não percebeu que o sensitivo havia levantado e num movimento rápido, pôs as mãos no rosto de Honório.

— Ahhhhh! Você... tá maluco!!!

Nesse momento tudo mudou, sombras surgirão, borrões de siluetas vagavam em frente aos seus olhos e não discernia quem era quem. Cada vez mais nítidas as imagens iam ficando, enxergou Roberval, indo ao trabalho, no caminho, passando perto de um cemitério abandonado, achou um terço no chão, feito em madeira de lei, o pegou e nem sequer fez menção de especular se era de alguém, continuou seu caminho até o prédio onde trabalhava.

Roberval ficou até mais tarde, neste momento todos os outros funcionários dos escritórios tinham ido embora, estava no 6º andar e agora passava da hora 9ª da noite. As luzes, quase todas apagadas, nos corredores também haviam poucas luminárias ligadas. Ele resolveu que era hora de ir para casa. Caminhou, entre as penumbras, até o elevador, tocou o botão e colocou a mão no bolso esquerdo do casaco, onde se encontrava o terço encontrado, ele esfregava o objeto com os dedos.

Roberval estranhou a demora do elevador e nem percebeu que atrás dele o usado para serviço abrira as portas. Uma voz rouca e baixa o fez arrepiar-se.

— Meu terço... você o roubou!

Roberval virou-se e foi ao chão com tamanho susto ao ver uma figura de um homem se aproximando vagarosamente dele. Pés descalços, roupas retalhadas e imundas, cabeça baixa e pendida para o lado, andava arrastando os pés.

— Ladrão! Tu Receberás o pagamento por tal ofensa feita a mim! Certamente MORRERÁS!!!

Roberval se urinou, tentando se por de pé, mas escorregava no chão escorregadio. E aquele ser repugnante e assustador que se locomovia lentamente, já estava em sua frente.

— Toma, toma... não sabia que era teu!

O ser esticou a mão direita putrefata e barrenta, pegando o terço.

— Agora... verás quem sou eu!!!

Com as mãos na garganta de Roberval a criatura o enforcou e só agora Honório conseguiu ver o rosto daquele individuo repugnante. Olhos negros e crepitados, face desfigurada com protuberâncias, vertendo sangue negro pelas feridas. Soltou um grito tenebroso de horror:

— AHHHHHH! JÁ CHEGAAAAAA!

Desmaiaram os dois que estavam na sala do sensitivo.

O Homem vidente mudou-se e não foi mais visto e Honório ficou afastado por meses dos seus afazeres, fazia consultas psiquiátricas com freqüência e vivia a base de calmantes e anti-psicóticos.

O caso de Roberval foi arquivado e ficou sem solução.