Carta a Daniel

Despertei, os olhos ainda pesados, enxergando turvo, estava deitado de frente para ela, loira linda, nua e dormindo profundamente. Passei minha mão suavemente em seus cabelos macios, ela suspirou e fez um beicinho lindo, mas não acordou, a noite foi muito exaustiva para nós dois. Muito sexo regado a taças de vinho, vodka, cerveja e umas “carreirinhas” para deixarmos mais elétricos!

Noite louca!

Levantei-me e vesti minha calça de moletom, peguei o celular que estava ao lado da cabeceira da cama, 4:20 da manhã, coloquei-o instintivamente no bolso da calça e me dirigi até o banheiro. Com uma das mãos na parede com apoio me inclinei para frente, uma mijada longa e gostosa. Na cozinha abri o armário, escolhi um copo de vidro bem longo para tomar água, muito bonito por sinal, vidro azul púrpura. Abri a torneira do purificador no modo “água gelada”, enchi o copo até transbordar, levei-o à boca e sem pausa e com grandes goles entornei todo aquele liquido refrigerante. O vitrô da cozinha não estava totalmente fechado, uma brisa leve entrou e tocou minha pele, fazendo exalar o cheiro delicioso daquela mulher maravilhosa deitada na minha cama.

Enchi novamente o copo e virei-me para ir ao quarto. Avistei uma coisa que não me lembrava de ter pego com o carteiro, uma carta em cima da mesa. Um papel espesso, selada com cera, uma insígnia que não a identifiquei cravada na cera, um oito deitado e do meio dele surgia uma cruz com dois cruzamentos horizontais, no meio dela e escrito com letras grandes estava meu nome Daniel.

Não larguei o copo e com habilidade quebrei o selo, abri e comecei a ler:

" Daquele que estava no principio e no abismo foi lançado, renasci e comigo milhares dos meus servos, reféns do temor que têm de mim, voltei e reino neste mundo vil. O medo me alimenta, teus sofreres saciam minha sede, os teus pecados os trazem até a minha escuridão e dela não há regresso.

Para ti Daniel que tem sido hipócrita, causador de intrigas e leviandades no trabalho, mau pai, infiel e libertino, trago-lhe as boas novas por meio desta singela carta. Pleiteei por ti e não tive visto de negação pela tua alma. TU ÉS MEU!!! Prepara-te pois hoje certamente MORRERÁS e acordará comigo no meu lugar de tormento e no sofrer corroerei o seu espírito até que este tempo acabe e recomece novamente"

Daniel estupefato, deixou cair o copo cheio de água no chão, quebrou-se em muitos pedaços, o fundo permaneceu intacto e com pontas altas viradas para cima no chão da cozinha, o liquido se espalhou juntos com os outros cacos pelo piso liso.

Largou a carta e correu ao banheiro, onde olhou-se no espelho, ofegante, suando muito. Percebeu algo estranho em seu rosto, uma protuberância surgiu abaixo da boca, próximo ao queixo e alastrava-se para a garganta, aumentando de tamanho, rachando e vertendo sangue e pús. Desesperado e sem saber o que acontecia com ele, colocou as mãos na ferida e apressou-se a retornar a cozinha para pegar papéis toalha para ajudar a estancar o sangramento, com a cabeça muito levantada, não olhou onde pisava, escorregou na poça d'água pendendo e caindo com o corpo para frente, no qual sua garganta encontrou o fundo do copo quebrado e com as pontas transpassando sua jugular e cortando e bloqueando sua laringe. Ali, ao chão, espasmos constantes, jorrando sangue e não podendo respirar, seu telefone que estava no bolso da calça toca. Uma... duas... três... na quarta chamada o recado eletrônico responde: — Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal, após o sinal estará sujeito a cobrança...

— Oi Amor!... desculpe ligar a essa hora, mas vou precisar ficar mais um pouco aqui com meus pais no sítio, por conta que papai está adoentado... cuida da gata pra mim meu lindo e se comporta viu!!! Te amo!!!...