Férias de Verão - 4 de 5
Capítulo 5
- Você dá de comer à uma cachalote? – Giovana perguntou tão indignada quanto eu.
- Flufi fica na baía perto dos penhascos. – Rebeca explicou. – Ela deve estar velha demais para migrar com as outras cachalotes e de uns meses para cá, todo dia, a Clarinha dá um monte de comida para ela.
- Por que você dá de comer à uma cachalote?! – Perguntei ainda querendo acreditar que era tudo uma mentira.
- Por que eu sempre quis um bichinho diferente...
Lêmures eram diferentes. Chinchilas eram diferentes. Cacatuas eram diferentes. Uma cachalote era uma ofensa!
- Nós teremos que recuperar o broche... Antes que ele seja expelido no meio do oceano... – Enzo acabou dizendo e eu nem quis imaginar a cena.
- Mas para isso nós precisaríamos trazer o animal em terra, o que será impossível. – Giovana disse.
Ficamos reflexivos, por qualquer ângulo que eu analisava o problema ele parecia insolúvel. Não tínhamos como recuperar o broche.
Até o Enzo sugerir algo, como de costume, pouco convencional.
- Nós poderíamos colocar alguém dentro do animal para pegá-lo.
Todos encararam o parapsicoinvestigador esperando que ele estivesse brincando.
- Isso é impossível Enzo! – Rebeca disse. – Alguém dentro de uma cachalote! Essa pessoa morreria!
Enzo sorriu de um jeito furtivo.
- O que foi? – Júlia perguntou sem entender.
Capítulo 6
Era uma manhã linda. O sol brilhava com uma alegria encantadora. O mar reluzia como diamante. O vento era morno e trazia o salgado cheiro do oceano. Estávamos sobre um penhasco de dez metros de altura, com a água batendo revoltosa abaixo de nós. Tudo era belo.
Exceto meu humor.
Giovana havia encantado uma varinha de pesca com uma magia esquisita. Segundo ela, uma vez que a cachalote mordesse a isca ela não poderia fugir por mais força que fizesse. Bastava um de nós segurá-la.
E esse alguém era eu.
Estava de pé diante do penhasco sentindo-me bem estúpida com aquela vara. Enzo, Giovana e Rebeca estavam atrás de mim. Clarinha a minha frente. Daniela e Júlia ao meu lado. A situação seria bem menos esquisita se Daniela não estivesse vestida com botas de borracha, calça de lona, uma jaqueta amarela e um típico chapéu de pesca, os dois últimos itens com toneladas de iscas artificiais fincadas.
- Eu não gosto muito de pescar, prefiro atividades com mais contato humano. Você não prefere? – Daniela perguntou para mim, mastigava uma de suas cebolas banhadas em chocolate.
- Eu gosto de atividades individuais. – Respondi pensando que era melhor fazer qualquer atividade sozinha do que fazer com aquela mulher. – Sabe, tipo assistir TV ou pescar.
Ou mesmo infartar.
- Flufi! – Clarinha gritou. – Flufi, hora de comer!
Não achei que uma cachalote apareceria com um chamado, mas depois de um tempo ela realmente apareceu. Um animal gigantesco que saiu das águas como se tivesse esperado a vida inteira por aquilo.
Era minha hora.
- Pode ir. – Disse à Júlia.
Nós precisávamos de uma isca. Uma isca que pudesse entrar e sair de uma cachalote. Júlia era a isca perfeita, por isso era ela quem estava amarrada a vara de pescar. Giovana também havia dado um imã em forma de ferradura para ela, quando acionado aquele objeto atrairia as coisas enfeitiçadas que estivessem nas proximidades, permitindo que ela pegasse o broche mais facilmente.
Júlia parou na beirada do penhasco e afagou os cabelos de Clarinha, que estava muito preocupada com a tia. Após dizer que tudo ficaria bem, ela se jogou.
Deixei a linha ir só esperando o bote. Ele não demorou a vir. Num instante a linha ia rápido, no outro ela ia muito rápido. Precisei de meus reflexos para segurá-la e a partir daí a batalha começou.
Mesmo com Giovana tendo encantado a vara para que a cachalote não fugisse, mantê-la ali era mais ou menos como tentar pescar o Cthulhu de seu mar de pesadelos. Eu comecei a ser arrastada e nessa hora Daniela apareceu e me segurou.
- Segura que o peixe é grande! – Ela gritou e eu quase tive vontade de me atirar do penhasco também.
Foram eternos dois minutos, que só não foram mais difíceis por que eu aproveitei para me revoltar com o Enzo e a Giovana, que conversavam tranquilamente enquanto suas assistentes faziam o trabalho duro.
Mas após os dois minutos senti a força diminuir. Júlia devia ter saído de dentro da cachalote. Com velocidade girei o molinete esperando içar nossa isca para cima.
Quando Júlia apareceu eu precisei entregar a vara para Daniela e me afastar ou iria vomitar.
Uma destroçada Júlia, que havia perdido o tampo da cabeça, sorria para a gente dando um sinal de positivo.
Ela estava com o broche em mãos.
Capítulo 7
Estávamos de volta ao quarto de Júlia depois de nosso passeio surreal. O feitiço que a mãe da jovem usara era mesmo poderoso por que em menos de meia hora já havia reconstruído todo o corpo da filha. Júlia estava na cama vestida com um vestido branco e tendo a louça e o broche espalhados ao seu redor. Giovana e Daniela estavam nas suas tradicionais roupas brancas perto da cama. Eu, Enzo e Rebeca acompanhávamos de longe. O ritual estava para começar.
- Ó poderosos espíritos do além mundo! Poderosas entidades que flutuam entre o espaço-tempo! Senhores da compreensão! Senhoras da sabedoria! Estamos aqui para purificar a desgraça trazida à essa alma! – Giovana começou estendendo as mãos para a enfeitiçada.
Júlia estava parada, olhando Giovana com olhos tensos.
- Toda a mágica instaurada. Todo o feitiço instaurado. Todo o ritual produzido. Toda a vontade imposta. Eu as expurgo!
Já havia acompanhado um ritual daquele, eles eram relativamente simples para feitiços convencionais. Mas por algum motivo, as palavras de Giovana tiveram um efeito completamente diferente.
Júlia se dobrou na cama formando um U invertido. Seu grito poderia ter sido ouvido em outros planos.
- O que está acontecendo? – Perguntei mas Giovana não respondeu.
- Um espelho, rápido! – Giovana gritou olhando para Rebeca que parecia ter ido fazer uma viagem astral. – Me traga um espelho grande!
Depois de mais um segundo Rebeca correu para o quarto ao lado e eu fui atrás dela. Havia um espelho de corpo inteiro ali, colocado sobre uma estrutura de madeira muito bonita. Nós o pegamos e começamos a arrastá-lo até o quarto. Os gritos de Júlia ficavam cada vez mais alto. Foi uma sorte Clarinha ter ficado na casa de um amigo enquanto fazíamos os preparativos, a criança ficaria traumatizada para sempre se estivesse ali.
Quando chegamos com o espelho, Giovana mandou colocá-lo ao lado da cama.
- Mengungkapkan! – Giovana gritou apontando a mão para o objeto.
Senti uma corrente de energia me sacudir e quando voltei a mim só percebi o olhar aterrorizado de todos os presentes. Isso não teria me assustado tanto se o Enzo não estivesse com uma cara abobalhada também. O Enzo nunca ficava com uma cara daquelas a menos que a coisa fosse séria.
E quando para o espelho percebi que a coisa era séria para valer.
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Pessoal, sei que ando meio sumido, desculpem por isso! Estamos em reta final, o conto termina sexta dia 23/11