O Lobisomem Uivou em Osasco

— Esfregou aquela pasta gosmenta e molhada nas palmas de suas mãos, essa mistura fedia e foi batizada pelo diabo num ritual satânico...

Helena descrevia aquela estória com fervor e entusiasmo em volta da fogueira, enquanto sua plateia formada por seus primos menores a observavam atentos e com os olhos fixos, estatelados.

— Levou suas mãos ao rosto e a esfregou por toda sua face... Pouco depois começou a gritar, pois sua cara estava queimando, brotavam pelos enormes no seu rosto... Começou a desfigurar-se e já passava a rosnar como uma fera! AAARRRGH!!!

Helena gritou tão medonhamente que um dos pequenos correu quase chorando, os outros caíram em gargalhadas e dois foram atrás do medroso. Helena adorava aquelas reuniões, pelo menos uma vez por mês juntavam-se amigos e parentes em volta de uma fogueira, geralmente num terreno baldio perto de sua casa, jogar conversa fora, assar espigas de milhos, batata doce e de vez em quando até rolava um churrasco. O tesão dela era assustar os outros contando historias de terror, coisa que fazia com maestria, sempre muito querida por todos.

Casada há sete anos com Gerson, ao qual por conta de seu trabalho viviam se mudando constantemente, pois ele viajava muito a serviço, mas já fazia dois anos que estavam residentes no mesmo local, Osasco, cidade da grande São Paulo, num bairro com nome grande, porém bem pequeno, jardim São João da Bela Vista, realmente a vista é maravilhosa.

Naquela noite, depois de se despedir dos seus queridos, entrou só em sua casa e para seu desaponto, Gerson estava em viagem a trabalho, não teria um final de noite perfeito, ninguém para apertar seus seios e matar o seu vivido anseio por carícias sacanas e sexo hard. Uma mulher exuberante, loira 25 anos, cabelos compridos, 1,75m, olhos verdes e corpo de manequim, perfeito, todo durinho por causa da ginastica que fazia costumeiramente desde os 15 anos. Mal sabia ela que teria uma noite apavorante. Linda noite de sábado, céu limpo, temperatura agradável, em torno dos 21°C, uma aragem leve e gostosa invadia sua sala e lá fora a Lua suntuosa irradiava sua luz prateada com grande pompa.

Passavam das 11:00 da noite, Helena resolveu dormir, mas antes de tudo foi ver oque estava sendo noticiado na TV. O repórter falava com grande assombro de uma chacina cometida há poucas horas num bairro próximo onde ela morava, as vítimas todas trucidadas, esvisceradas, ainda ouviu barulho de helicópteros sobrevoando as vizinhanças, bem provável de estarem procurando o assassino. O noticiarista também destacava que houve outros do mesmo tipo em regiões circunvizinhas não fazia muito tempo. Em dado momento, uma ventania súbita descobriu os jornais que protegiam os corpos no chão, ou melhor, os pedaços dilacerados, Helena deixou seu pensamento tomar forma, exprimindo-o para fora de sua boca:

— Caralho!!! Que monstro seria capaz de ter feito coisa tão ruim pra essas pessoas? E ainda por cima está perto daqui!

Helena colocou uma camisola vermelha semitransparente com manga longa, detalhes em renda, mas parecia um vestido e na pequena brisa que invadia sua casa, volvia-se esvoaçante. Lembrou que a janela da sala vivia entreaberta, estava no andar de cima, mas achou prudente ir fechar, desceu as escadas devagar porque as luzes do andar abaixo estavam apagadas. Seus passos ecoavam por causa da rasteirinha de madeira que usava e o piso da escada feito em madeira de demolição. No meio do percurso, ainda na escada, sentiu um fedor enorme, cheiro de cachorro molhado e carniça que a fizeram ter ânsia. Ouviu um respirar forte, rouco e profundo, um vulto enorme brotou proveniente das sombras logo abaixo, um ser enorme, pelo negro brilhante, olhos cor de lava, flamejantes, um lobo gigante em pé e caminhando lentamente, subindo os degraus. Helena voltava andando de costas vagarosamente, fitando o monstro com os olhos abugalhados, as pernas bambas quase perdiam o equilibro, logo o grande lobo foi banhado pela luz da lua, vinda da janela acima que mal clareava a escada. Ela pode ver a face da fera com sua boca descomunal, babando uma mistura de saliva e sangue escorrendo pelos dentes amarelos, grandes e pontudos. Notou que a criatura a olhava nos olhos e que por um segundo seu semblante feroz se desfez, como quando um cachorro que está latindo bravo vê seu dono.

Seu corpo congelou naquele momento, suas entranhas pareciam que estavam dando um nó, estremeceu-se toda com o urro alto e grave do lobo, quase defecou de tanto temor. O monstro partiu pra cima de Helena com rapidez e rosnando ameaçador, mostrando seus dotes dentários com altivez. Ela, por sorte, já estava perto da porta do seu quarto, virou-se rapidamente não olhando para trás, perdendo as rasteirinhas na escada, chegou à porta sentindo que sua aba longa da camisola foi puxada, mordida e rasgada um pedaço dela, pode ainda sentir o hálito quente do bicho, fechou a porta e a trancou com o ferrolho, seu coração parecia saltar para fora do peito. Os bramidos do lobo e as pancadas fortes na porta estouravam nos tímpanos de Helena, a porta não aguentaria tamanha força e fúria, o desesperou se apoderou dela, que olhava pra todos os lados, encurralada, suando frio e gritando.

Um golpe potente e pode ver umas das garras da fera atravessando a porta e arranhando-a, mirou a janela e foi com as mãos trêmulas abri-la, iria se arriscar no telhado. Com dificuldade abriu a janela, ouvia a criatura despedaçar a porta. Mal abriu e se jogou para o telhado, mas nesse movimento atrapalhado seu braço esquerdo raspou na aba de metal da janela lhe imputando um corte profundo e jorrando uma quantidade generosa de sangue.

Rolou pelo telhado constituído de telhas tipo romanas, algumas trincaram, uma providencial escada estava ainda encostada na calha, Gerson tinha feito a manutenção dela e a deixou ali, pelo acaso ajudou a Helena. Quando começou a descer por ela, viu o grande lobo apontar na janela, onde aspirou profunda e longamente e abaixou sua cabeça e sorveu o liquido rubro, refluindo todo ele pra sua boca, com isso soltou um uivo grande, alto e violento.

— AUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!

Isso fez com que as luzes das casas vizinhas se ascendessem uma a uma em sequência. Outro som estrondeante surgiu e com ele uma luz que foi de encontro à casa de Helena, irritando o monstro que voltou para a casa, estourou outra janela e fugiu para o escuro terreno baldio de propriedade da concessionaria de energia, sumiu nas sombras. Helena machucada, quase pelada e apavorada, clamava por socorro na rua e foi prontamente auxiliada por uma vizinha próxima a uns 100 metros da sua casa, quase não falava, chorava muito, apenas balbuciava:

— Um lobo veio me pegar...

Na manhã seguinte bem cedo, ainda nos cuidados da vizinha, dormiu com ajuda de tranquilizantes, ela recebe com surpresa uma visita. Gerson estava na cozinha conversando com a mulher que a ajudou.

—Gerson!!!

Falou alto, quase gritando e jogando-se nos braços do marido às lagrimas.

—Tudo bem agora meu amor. Que machucado feio você fez hein?! Vamos pra casa, vou cuidar de você.

Helena notou que Gerson estava um cheiro estranho e com uma roupa diferente, toda amassada, mas não quis saber, deu um sorriso de felicidade e alivio, alivio que desapareceu e volveu no medo outra vez. Notou, quando Gerson sorriu, um pedaço pequeno de pano enroscado nos seus dentes posteriores, um pano escarlate, era o tecido da sua camisola.

—Vamos sim meu amor...

Disse Helena vacilante. Esperou o marido dar-lhe as costas para pegar uma garrafa de vinho vazia que estava na pia da cozinha, segurou-a pelo pescoço e a quebrou com um golpe na pia mesmo, ficando na sua mão a parte de cima do vasilhame com pontas cortantes, que prontamente cravou na nuca de Gerson, que caiu e sangrou até morrer, com o rosto no chão banhado pelo sangue grosso que escorria da sua cabeça.

Helena foi presa por assassinato, nunca falou o porquê, nem quando questionada pelos seus familiares. Na cadeia tinha surtos de nervosismo e histeria. Louca, psicótica, assassina, mas nem um pouco arrependida.

Deus Hades