Férias de Verão - 3 de 5
Capítulo 4
- Pelo amor de Deus! Daniela!
Assim que o apelo de Giovana foi ouvido, Daniela partiu como um raio, uma velocidade condizente para uma criatura tão assustadora. Ela agarrou o corpo de Júlia pelas pernas enquanto Giovana se preocupava em endireitar uma cadeira para que pudesse desatar o nó que impedia a respiração da jovem.
Eu, Enzo e Rebeca pedimos para que elas parassem.
- O que vocês estão falando?! Essa mulher está se enforcando!
- Sim, ela está fazendo isso todo dia. – Rebeca admitiu e Giovana parou por um instante.
- Essa é a maldição cara Giovana. A maldição que não permitiria que as irmãs sofressem o mesmo destino da mãe. – Enzo completou.
Ainda assim Giovana só se deu por satisfeita quando conseguiu desatar o nó e Daniela colocou Júlia no chão. A jovem tossia de um jeito doentio.
- Você está bem garota? – Giovana perguntou mergulhada em preocupação.
Júlia balançava a cabeça em um ferrenho sinal negativo.
- Não... Eu não estou bem... – Ela dizia chorosa, com soluços que sacudiam todo o corpo. – Eu sou imortal!
Giovana e Daniela trocaram olhares sem entender muito.
- Quê?
- A mãe dessas jovens lançou algum feitiço de imortalidade sobre um conjunto de jantar e um broche. Como não houve tempo da mãe das jovens mostrar em vida sua vontade de que as filhas ficassem com tudo, Júlia, que é a mais velha, acabou herdando os objetos, o que incluiu o feitiço. – Enzo explicou.
Giovana e Daniela encararam a mulher que chorava como se tivesse acabado de perder um filho. Eu não podia culpar a perplexidade delas, aquilo também me deixou confusa.
Enzo se aproximou de um móvel onde residia os materiais que obtivemos em nossas escavações.
- Mas todo esse drama está para terminar, certo? Por que com essa colher o conjunto está... É... Onde está o broche?
Enzo olhou confuso para o conjunto de louça onde depositou a colher. Rebeca se aproximou dele e os dois passaram a procurar pelo broche desaparecido.
- Estava aqui ainda de tarde! – Rebeca disse incrédula – Júlia, onde está o broche?
A irmã começou a fungar limpando os olhos.
- Ninguém além da Clarinha entrou aqui.
- Só falta ela ter pego... – Rebeca bufou. – Por que nós não vamos jantar? Aí posso falar com a Clarinha e pegar o broche.
- Então poderemos expulsar o feitiço dos objetos e de sua irmã.
Confesso que não estava nem aí para os objetos. Segundo o meu olfato teríamos camarão e isso era importante. Encabecei a fila para fora do quarto e ao descer as escadas encontrei uma gigantesca travessa com camarão grelhado sobre uma mesa com sete lugares colocados.
- Por favor, sentem-se e sirvam-se. Eu vou procurar a Clarinha. – Rebeca pediu.
Não foi preciso repetir o pedido, em meio segundo eu já estava com o prato cheio, afundando meus dedos em um gorduroso camarão. Enzo sentou-se logo depois de mim, seguido por Júlia que vinha sendo consolada por Giovana e Daniela. Quando todos se sentaram Giovana quis saber mais informações sobre todo aquele evento e Enzo começou a contá-los. Eu estava mais preocupada em comer, com a cabeça bem perto do prato para não dar margens para Daniela conversar comigo, algo que eu via pela minha visão periférica que ela queria fazer. Por sorte Júlia começou a chorar de novo, aparentemente ela cortara os pulsos com uma faca e se acabava em lágrimas por vê-los cicatrizarem.
Foi então que uma confusão começou e todos viramos na direção da porta.
- Eu não acredito que você perdeu! – Rebeca gritava indignada.
- Eu não perdi... Estava bem aqui... – Clarinha respondia numa voz chorosa.
- Não está aqui agora! – Rebeca voltava a reclamar.
A curiosidade quanto ao fato foi suficiente para interromper a refeição e fazer todos nós irmos até a porta.
- Poderia nos dizer o que está acontecendo, jovem Rebeca? – Enzo perguntou com algumas perninhas de camarão presas a sua barba rala.
- Essa mocinha achou divertido pegar o broche que não deveria pegar, e o perdeu!
- Eu não perdi mamãe... – Clarinha chorava. – Eu acho... acho que eu deixei com a comida da Flufi...
- A Flufi comeu o broche? – Rebeca questionou boquiaberta.
Por mais errado que Clarinha pudesse ter agido eu não gostava de vê-la chorando. Ela era uma criança muito esperta e é normal para crianças fazerem travessuras como aquela. Sendo assim, fui na direção dela, ajoelhando e passando a mão em seus cabelos.
- Está tudo bem nós vamos dar um jeito. – Disse vendo-a soluçar enquanto limpava os olhos.
- Quem é Flufi? – Enzo questionou.
- É o bichinho... Que eu dou comida...
- Não tem nenhum problema. Se essa Flufi comeu o broche basta colocarmos o animal junto ao conjunto de jantar. O ritual de desencanto não vai afetá-lo. – Giovana explicou.
- Então está ótimo. – Eu disse não entendendo por que Rebeca estava tão desconsolada. – A propósito, que bichinho é a Flufi?
Tive que tirar a mão de cima da Clarinha ou teria estrangulado-a.
- Uma cachalote?!
*************
Pessoal agradeço aos que acompanham! Continuamos quarta 21/11