Assombrações - parte II
Eram apenas pouca mais de 22 alunos residentes na Escola de Artes Cênicas. A maioria, mulheres jovens, sonhadoras - algumas bem talentosas para o teatro. Sonhavam, algumas em fazer, além do teatro, cinema e tv. O total de meninas era de 16 garotas e apenas 06 garotos, ambicionando brilhar nos palcos da vida.
A rua era pouca movimentada, onde ficava a Escola de Artes Cênicas, vizinha da Escola de Belas Artes. Ambas, eram circundadas por árvores frondosas - que deixavam o ambiente mais sombrio. O vento sacudindo a folhagem das copas das árvores, sendo observada por olhos assustados. O silêncio imperava, depois das duas da manhã - quando se encerravam às últimas aulas. Amália estava suada, cansada e tensa. os professores se recusavam a comentar a respeito das assombrações. E, jamais falavam das mortes trágicas dos alunos no incêndio.
- Ouve um aluno que se suicidou, não se sabe o por quê, aparentemente, não tinha problemas. Era uma pessoa feliz, alegre e bem aplicado nas aulas. Um talento que se perdeu num ato tão trágico, impensado.
Revelou o jardineiro, certa tarde. Pediu o silêncio de todos. Poderia perder o emprego, ou ser perseguido pela direção.
- Sou concursado, não podem me demitir, mas não confio, podem arrumar um jeito para tal, caso não consigam podem me perseguir.
Amàlia subiu a longa escadaria na direção do seu quarto. O corredor em silêncio, pouco iluminado lhe deixava tensa, amedrontada. Havia visto uma mulher circulando na alta madrugada pelo quintal.
- Oh, meu Deus, estou suada, cansada, necessito de um banho refrescante. Não tenho coragem para ir no quintal. E, não vou dormir suada, não.
Amália foi de quaro em quarto, batendo nas portas, chamando pelos colegas. Ninguém abriu as portas.
- Mas, o que pode ter acontecido? Será que sairam?
Voltou rápido para o seu quarto. As aulas foram exaustivas, puxadas. Não sou de interpretação, como as de expressão corporal. O teatro estava quente. Havia suado, e muito. Precisava de um banho.
- Meu Deus, preciso ter coragem, e ir no banheiro.
Ligou para os celulares, de todos. Desligados.
- Não é possível, foram para a noite e não me chamaram.
Mais uma vez saiu pelo longo corredor pouco iluminado, cheia de temores. Batia nas portas, devagar, insegura. Ninguém lhe atendeu. Voltou para o seu quarto. Sentou na sua cama, aflita. Então, motivada por uma força maior tirou a roupa, cobriu-se numa toalha. Munida de uma saboneteira, escova de dentes, creme dental foi para o quintal.
Era mais de duas horas da manhã. A lua estava imperiosa, um luar maravilhoso. Mas o quintal era sempre escuro e amedrontador. Dizia a lenda que os fantasmas desfilavam pelas dependências da Escola de Artes Cênicas assustando os alunos - fantasmas de alunos que desejam atrapalhar os que podiam seguir na futura carreira.