Férias de Verão - 1 de 5
Capítulo 1
Eu odeio o meu trabalho.
Algumas pessoas achariam essa frase muito forte, mas sem dúvida são pessoas que nunca ficaram seis horas numa caverna picaretando as paredes. Isso talvez fosse suportável se eu fosse ser paga ao fim do trabalho, mas já sabia que isso não iria acontecer.
Tudo por culpa dele.
Aquela barba de vagabundo. Aquele cabelo despenteado. Aqueles malditos bombons...
- Eeeeenzooooo... Nós temos mesmo que continuar cavando...
Enzo olhou para mim com um ar interrogativo.
- Ainda não encontramos o conjunto completo.
Olhei para ele com um olho torto, acho que precisava lembrá-lo da verdade.
- Porque o conjunto completo está escondido dentro de uma montanha!
– Disse apontando as paredes que nos rodeavam.
- Nós já encontramos um monte de coisas. Falta só uma peça agora. Continue cavando.
Me larguei no chão sem forças, se desse mais uma picaretada meus braços iriam cair.
Enzo às vezes tinha ataques de filantropia, e esses ataques nada faziam além de açoitar nosso orçamento de forma vil. Enzo havia ouvido uma história sobre aquela cidade costeira e decidiu que seria legal vir dar uma volta. A história era realidade, por isso nós estávamos picaretando.
Eu tinha um capacete com uma lanterna sobre a cabeça e usava luvas tão grossas que poderia passar por uma boxeadora. O suor escorria de mim como se tivesse acabado de mergulhar em uma piscina. Meus músculos também doíam e eu quase podia contar cada um deles por causa disso.
- Se você está tão cansada vá fazer o relatório de hoje. – Enzo disse voltando a golpear as paredes e esperando que algo milagrosamente caísse de lá.
Ainda que eu odiasse fazer relatórios, odiava muito mais cavar, por isso fui até uma pequena mesa que Enzo havia colocado ali perto.
Para você que não nos conhece deve saber que eu sou Talita, assistente de Enzo Velasques, o último parapsicoinvestigador em atividade. Nos últimos tempo, quando não estava parapsicoinvestigando por aí, Enzo havia começado a ler livros de gestão de negócios, acho que ele pensava em melhores maneiras de expandir seu pequeno empreendimento de entidades. Bom, de qualquer jeito, uma das medidas que ele adotou para essa expansão passava por relatórios diários de nossos avanços, e como o Enzo era um relaxado, sobrava para mim a tarefa de fazê-los.
Sentei na pequena mesa lendo o relatório que havia demorado quatro horas para escrever dia anterior.
“Hoje cavamos”.
Aquilo resumiu bem o que fizemos ontem. E como hoje não estava muito diferente eu pensava em repetir as palavras.
- Achei!
Estiquei o pescoço quando o Enzo gritou e o vi erguer um pequeno objeto que iluminou com a lanterna.
- Sabe o que é isso Talita?
- Uma colher. – Respondi obviamente.
- A colher que procurávamos.
- Podemos ir embora agora? – Perguntei esperançosa.
- Devemos. Vamos indo.
Eu sorri como uma criança, só ficando irritada quando o Enzo me mandou preparar o relatório com extrema urgência. Ele ficou mais umas duas horas limpando e polindo a colher dentro daquele buraco, e eu usei essas duas horas para fazer o relatório.
“Hoje cavamos e achamos uma colher”.
Eu odiava estar de volta a ativa.
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Para quem não conhece o parapsicoinvestigador mais querido do recanto
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E para quem interessar estarei amanhã (16/11) na rádio Tupi às 18:00, no programa do José Nello, para um bate papo sobre o Terras Metálicas
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O conto continua sábado 17/11, até lá!